Depois de registros no litoral da Bahia (2018), de Fernando de Noronha (2021), Amapá (em 2021, próximo à pluma do rio Amazonas), Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco (no mês passado), o belíssimo e perigoso peixe-leão, natural dos oceanos Índico e Pacífico, foi avistado na Paraíba.
Já aconteceram cinco ocorrências no estado: na praia de Jacumã, pescadores capturaram um indivíduo no último domingo, 2/4, e o filmaram (assista no final deste post); em Pitimbu, um mergulhador filmou seu encontro com o peixe voraz; também em Naufrágio Alvarenga, na costa de João Pessoa, foi visto um peixe-leão; em Cabedelo, bem próximo da capital; e no Naufrágio Vapor Bahia, na divisa da Paraíba com Pernambuco.
Organizações, biólogos e agentes ambientais criaram um grupo de fiscalização para capacitar pescadores e mergulhadores e ajuda-los a identificar e a lidar com peixes-leão, e também orientar a população. Ninguém deve tocá-lo, nem tentar capturá-lo, a menos que tenha um arpão e possa colocá-lo dentro de um balde e, em seguida, avisar a Secretaria do Meio Ambiente (SEMAN) pelo telefone 3218-9208.
Prejuízos ecológicos e econômicos
De acordo com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), do Ministério do Meio Ambiente, as primeiras aparições se deram em 2014 e 2015, em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, mas, na verdade, já estavam previstas há décadas, quando o peixe-leão começou a invadir as águas do Caribe.
Ambientalistas estão preocupados com a rapidez com que a espécie tem se multiplicado pela costa brasileira, representando uma ameaça à vida marinha e à segurança de quem frequenta as praias. Um prejuízo ecológico e, também, econômico, que pode afetar a pesca e o turismo.
“O que estamos vendo é apenas a ponta de um Icebergem formação. Essa espécie já é um problema em diversas partes do Caribe e estava previsto de chegar aqui há décadas”, alertou Jean Vitule, pesquisador do LEC (Laboratório de Ecologia e Conservação do Departamento de Engenharia Ambiental) da UFPR (Universidade Federal do Paraná), à reportagem do G1, em março.
Como se não bastasse, o especialista ainda alerta para o fato de existem peixes-leão sendo cultivados em aquários no Brasil, o que pode provocar novas introduções da espécie no litoral do país.
Invasor, voraz e perigoso
Por ser uma espécie invasora, em nossas águas, o peixe-leão não tem predadores – dificilmente animais do Atlântico o identificam como presa; entre eles estão apenas a garoupa (não há fartura em nossa costa) e tubarões – e produz milhares de ovos a cada quatro dias, podendo chegar rapidamente à marca de 30 mil ovos ou, em um ano, a 2 milhões de ovos.
Imagina essa quantidade se espalhando com as correntes oceânicas do Atlântico.
O peixe-leão se alimenta de invertebrados e peixes juvenis de todas as espécies, algumas endêmicas (que só ocorrem em determinadas regiões do país e em nenhum outro lugar da Terra), podendo levá-las à extinção.
E ainda é venenoso: possui de 13 a 18 espinhos na nadadeira dorsal, um em cada nadadeira pélvica e três na nadadeira anal, que liberam uma toxina que pode causar náuseas, dor e, em casos mais graves, convulsões. Daí a necessária cautela de banhistas, mergulhadores e surfistas.
Quem for atingido por um peixe-leão, deve lavar a região com água quente, rapidamente, para diminuir a dor e procurar um médico.
E, em seguida, comunicar o ICMBio, responsável pela gestão as Unidades de Conservação (UC) no Brasil, que disponibiliza um canal de atendimento (0800 61 8080), que atende todo o território nacional e qualquer emergência relacionada à flora e à fauna brasileiras.
Antes que seja tarde
Para procurar minimizar os riscos ao meio ambiente e à saúde humana, as autoridades locais precisam monitorar a presença do peixe-leão em nosso litoral. E, principalmente, controlar essa invasão. Mas como?
Segundo o pesquisador Jean Vitule, campanhas de conscientização do público são imprescindíveis.
O ICMBio elaborou um guia online com dicas e informações muito úteis a respeito do peixe-leão, que vale consultar.
Além disso, disseminar e incentivar o consumo da carne dessa espécie entre o público, supermercados e restaurantes, pode ser uma boa solução para combatê-lo, além de uma nova fonte de alimento e de renda para comunidades locais.
Os espinhos do peixe-leão são venenosos, mas a carne, não! E, segundo quem já provou, é deliciosa.
A seguir, reproduzo o vídeo registrado por um pescador em Jacumã, publicado pela ONG Impact no Instagram. E, em seguida, o vídeo de um casal de brasileiros que experimentou um prato com peixe-leão na Costa Rica: eles conversaram com um pescador, que conta sobre a solução adotada para driblar a ameaça da espécie, e com uma cozinheira, que ensina uma receita com a iguaria.