Maior felino das Américas, a onça-pintada (Panthera onca) possui a mordida mais poderosa dentre todos esses animais e uma maneira única de caçar. Ela crava seus dentes caninos na cabeça da presa e quebra a espinha dorsal ou perfura o crânio da vítima. A força exercida é tão grande que chega a quebrar cascos de jabutis e o couro do jacaré.
Por isso mesmo, embates entre seres humanos e onças-pintadas geralmente são letais para os primeiros. Mas Rodrigo Cardoso Campos pode se considerar um homem de sorte. O capataz de uma fazenda na região do Paiaguás, no Mato Grosso do Sul, no Pantanal, sobreviveu ao ataque de um desses animais.
No começo desta semana, o trabalhador e outro peão estavam trabalhando numa cerca da propriedade quando ouviram cachorros latindo. Foram checar o que estava acontecendo e se depararam com a onça. Ao tentar fugir, correndo, eles foram perseguidos.
A onça foi em cima dos dois, mas Rodrigo começou a lutar para tentar se defender e ao colega. E o que salvou a vida dele foi um celular, que estava no bolso dele. Ao morder o aparelho, ele explodiu e o felino se assustou e fugiu.
Rodrigo teve várias fraturas expostas e os dois braços quebrados. Transferido de avião para um hospital em Corumbá, mas felizmente passa bem.
Encontros entre onças e pantaneiros não são incomuns, afinal ambos têm como lar o bioma. Entretanto, ataques desses animais são raros, já que eles se sentem intimidados.
Especialistas do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que atua na região, aproveitaram o incidente para reforçar importantes recomendações.
“Nós solidarizamos com o trabalhador rural que sofreu vários ferimentos graves. A equipe torce pela sua recuperação e fica à disposição para prestar apoio sobre a prevenção de outros casos”, divulgou em nota o instituto.
O IHP esclarece que no caso de encontros com onças, pintadas ou pardas, por exemplo, a prioridade deve ser, sempre, a vida e a saúde das pessoas, mas com respeito aos animais também.
“No caso dos pantaneiros e pantaneiras que vivem em áreas remotas e acabam ficando mais expostos por coexistirem no mesmo território desses animais, a prioridade deve ser sempre evitar o contato direto. Essa preocupação existe principalmente para garantir a segurança das pessoas, em especial de trabalhadores que acabam ficando mais expostos em áreas de campo”, diz.
Uma das dicas do IHP caso haja um encontro inesperado com a onça é justamente não dar as costas ao animal e não correr porque esse comportamento parecerá para ele o de uma presa. Todavia, é óbvio que em situações de pânico e estresse, algumas pessoas não consigam reagir da maneira correta.
Abaixo segue uma lista de recomendações elaborada pela equipe do IHP:
1 – Verifique com pessoas que conhecem a região se há avistamentos recentes de onça-pintada ou onça parda, em que locais eles ocorreram para se acender um alerta;
2 – Procure não andar sozinho e caso suspeitar de rastros que indiquem pegada de onça, faça barulho pelo caminho ou evite o trajeto;
3 – Se encontrar carcaça de animal morto, evite chegar perto, principalmente se não houver urubus presentes no local;
4 – Locais onde ocorrem a “ceva”, prática considerada crime pela legislação ambiental, devem ser evitados porque trazem grande risco de conflito com as onças, bem como denunciados à Polícia Militar Ambiental;
5 – Verifique pelo caminho que estiver possíveis rastros que onças deixam, como pegadas, se há mais de uma pegada, sugerindo mais de um indivíduo no local, ou até fezes, e se esses detalhes sinalizam serem frescos ou antigos;
6 – Caso encontrar com uma onça no trajeto, evite a aproximação e tente manter a maior distância possível até que o animal saia do contato visual;
7 – Se você estiver frente a frente com uma onça, não se vire e não corra – esse comportamento remete a de uma presa;
8 – Ainda no caso de estar frente a frente com uma onça, mantenha contato visual e procure distanciar-se andando para trás sem movimentos bruscos;
9 – Onças com filhotes tendem a ser mais defensivas, o mesmo ocorre quando estão em período de acasalamento – andam em dupla;
10 – Depois que a onça sair do contato visual, procure evitar o trajeto ou, se precisar seguir adiante, espere por um período médio para continuar o trajeto.
Acesse essas informações em uma página interativa, clique aqui.
Para acionar socorro, a orientação é procurar os Bombeiros (193). A Polícia Militar Ambiental também pode atuar e dar suporte nesses casos. O IHP pode prestar apoio técnico, após o resgate da vítima. O contato é faleconosco@institutohomempantaneiro.org.br.
Foto de abertura: Ian Lindsay por Pixabay