Após quase cinco meses de detenção em Nuuk, na Groenlândia, o Capitão Paul Watson, aguerrido protetor das baleias e dos oceanos, está livre!
Hoje (17), finalmente, a Dinamarca rejeitou o pedido do Japão para extraditar o ativista – fundador do Greenpeace, da Sea Shepherd e da Fundação Capitão Paul Watson -, e ele foi libertado.
O ofício do Ministério da Justiça da Dinamarca, endereçado à Polícia da Groenlândia e enviado por e-mail oficial, anunciou a “recusa da extradição do cidadão americano-canadense Paul Franklin Watson para um processo criminal no Japão”.
Com base em análise cuidadosa das circunstâncias, determinou que a extradição não seria permitida sob a legislação de extradição vigente na Groenlândia, concluindo que:
– o longo período decorrido desde os incidentes tornou a extradição inviável;
– a incerteza sobre o tratamento judicial de Watson no Japão, incluindo a dúvida de que o período de detenção na Groenlândia fosse deduzido de uma eventual sentença, foi um fator determinante; e
– a natureza das acusações e o impacto da detenção prolongada reforçaram a decisão de negar o pedido.
Celebração
“Paul está livre!!!”, anunciaram as organizações Sea Shepherd France e a Sea Shepherd Brasil em suas redes sociais logo que a decisão foi anunciada.
Nas redes sociais da fundação, Watson declara: “Às vezes, ir para a cadeia é necessário para provar seu ponto de vista. Toda situação oferece uma oportunidade, e esta foi outra chance de lançar um holofote global sobre a caça ilegal de baleias no Santuário do Oceano Antártico do Japão. Se eu tivesse sido enviado para o Japão, talvez nunca tivesse voltado para casa. Estou aliviado que isso não tenha acontecido”.
E completou: “Esta decisão representa não apenas uma vitória para mim, mas também para aqueles que acreditam na justiça e na proteção do oceano. Agradeço profundamente o apoio de meus advogados, aliados e defensores em todo o mundo. Continuarei a lutar pelo do oceano e pela preservação das espécies marinhas“.
A Sea Shepherd Brasil (que apoia Paul Watson incondicional e independentemente da Sea Shepherd original, que rompeu com o ativista) reconheceu a consideração ética e jurídica das autoridades da Groenlândia sobre o caso. “A perseguição a Paul Watson é uma tentativa clara de criminalizar ações legítimas de proteção ao meio ambiente”, afirmou Nathalie Gil, presidente da organização no Brasil e que acompanhou a saída do ativista do confinamento.
“O trabalho de Paul tem sido fundamental na proteção das baleias e da vida marinha. Sua dedicação à preservação dos oceanos é um exemplo de coragem e integridade, e sua luta é essencial para a preservação das espécies e do nosso planeta”, completou Gil.
O Ministério da Justiça dinamarquês comunicou que emitirá uma declaração a respeito de sua decisão, ainda hoje (completarei este texto com ela). E, de acordo com o jornal britânico The Guardian, o porta-voz da embaixada do Japão, em Copenhague, não quis comentar o fato.
A acusação contra Watson
Watson foi preso em 21 de julho, quando seu navio atracou no território autônomo dinamarquês para abastecer. O motivo? Mandato internacional de prisão emitido pelo Japão que se referiam a acusações criminais referente a incidentes ocorridos há 14 anos, relacionados à campanha de conservação lideradas por Watson contra a caça de baleias no Oceano Antártico.
O país o acusa de atividades que incluíam “ferimentos pessoais”, “obstrução de negócios”, “invasão de navio” e “danos à propriedade”.
Foram 149 dias enclausurado e passando por sessões torturantes no Tribunal de Justiça local, onde provas foram negadas e o juiz apenas anunciava que o Ministério da Justiça da Dinamarca ainda não havia decidido sobre seu paradeiro, adiando por mais alguns dias a permanência de Watson na prisão. Ele completou 74 anos em 2 de dezembro.
Sem chance de fiança, o ativista corria o risco de ser extraditado para o Japão, por crime internacional, o que certamente seria uma tragédia porque o condenaria à pena máxima, que é de até 15 anos de detenção. Ou seja, sairia da prisão japonesa aos 89 anos.
Como foi a emboscada que prendeu Watson
Em 11 de julho, o navio M/Y John Paul DeJoria, pertencente à Fundação Capitão Paul Watson (CPWF, na sigla em inglês), saiu de Dublin, na Irlanda, com uma missão: ir atrás do maior e mais perigoso navio baleeiro, o Kangei Maru, construído pelo Japão ao custo de US$ 48 milhões e lançado ao mar em junho.
O objetivo era interceptá-lo ao norte do Oceano Pacífico, e “encerrar suas operações”, contou Watson na capital irlandesa, antes de partir.
Seguindo os planos, em 21 de julho, o navio da CPWF parou em Nuuk, capital da Groenlândia, para reabastecer. Mas que a Watson e sua organização não sabiam é que ele era procurado pela justiça japonesa e corria sério risco de ser preso ao fazer essa parada.
Em 2012, o Japão expediu um mandado de prisão internacional contra o ativista, com direito a alerta vermelho no sistema da Interpol. No entanto, há alguns meses, o mandado foi cancelado e, por isso a CPWF e Watson seguiam com suas ações tranquilamente. Ao que parece, o cancelamento foi uma emboscada: o Japão tornou o mandado confidencial – invisível para a CPWF – ele ainda continuava valendo.
Assim que o navio aportou em Nuuk, foi invadido por policiais federais da Dinamarca (que tem soberania sobre a ilha), além de agentes especiais da SWAT, sob a alegação de cumprimento do tal mandado. Algemado, Paul Watson foi levado para a delegacia de polícia da cidade.
Apoio recebido
Aqui, no Brasil, o cacique Raoni Metuktire, do povo Kayapó, se uniu ao movimento global pela libertação de Watson (contamos aqui).
E uma brasileira muito especial também demonstrou apoio a Watson: Tamara Klink protestou por sua libertação ao redor do navio da CPWF (foto abaixo), na costa da ilha de Nuuk, onde a embarcação permanecia atracada.
Poucos dias após a prisão de Paul Watson, a CPWF lançou campanha mundial por sua libertação, com petição online, que angariou 40.011 assinaturas até 12/12, às 11h.
Também alistou o apoio de políticos e de celebridades como Brigitte Bardot – amiga de Watson desde a década de 1970 -, o ator irlandês Pierce Brosnan, a banda francesa de rock eletrônico, Shaka Ponk (também conhecida como SHK PNK, na foto abaixo) e o presidente francês Emmanuel Macron.
Em 23 de julho, segundo a agência RFI, centenas de artistas e ativistas franceses também se mobilizaram para tentar evitar a extradição do amado ativista.
Encabeçadas pela ativista Brigitte Bardot, 89 anos, 388 mil pessoas assinaram petição online para pressionar o presidente Emmanuel Macron para que intercedesse em favor de Watson. “Devemos fazer tudo para salvar este homem corajoso”, disse a lenda do cinema ao jornal Le Parisien, na ocasião.
No mesmo dia, o gabinete de Macron declarou que ele estava pedindo às autoridades dinamarquesas que não extraditem o ativista. “O presidente está acompanhando a situação de perto” e “intervindo com as autoridades dinamarquesas”, declarou o gabinete do palácio do Eliseu.
A França – onde Watson vive desde 2023 (quando foi impedido de voltar a seu país, o Canadá) com sua companheira e dois filhos pequenos – chegou a discutir o caso em nível ministerial, segundo o Ministério da Justica dinamarquês.
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Foto (destaque): Fundação Capitão Paul Watson / divulgação
Com informações da Sea Shepherd Brasil e do The Guardian