O incêndio que teve início por volta das 14h de sexta-feira (14), na parte alta do Parque Nacional do Itatiaia, que fica entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, devastou cerca de 200 hectares de vegetação – área que, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), equivale a 200 campos de futebol. Mas, segundo informações divulgadas pelo Corpo de Bombeiros, o fogo foi controlado no início da noite de domingo.
A área atingida vai do Morro do Couto e da portaria da parte alta (conhecida como Posto Marcão), onde o fogo começou, e se estende até a Pedra do Camelo.
A operação para debelar o incêndio envolve cerca de 150 profissionais, entre bombeiros, militares do Exército, guarda-parques, brigadistas voluntários e do parque e combatentes de instituições e órgãos (Prevfogo do Ibama e agentes do ICMBio) diversos, que continuam atuando no local para impedir que o fogo avance ou que surjam novos focos.
As prefeituras e a Defesa Civil dos municípios de Resende (RJ), Itamonte (MG) e Itatiaia (RJ), além de três helicópteros do Corpo de Bombeiros, do Exército e da Polícia Militar de Minas Gerais (responsáveis por jogar água nas áreas em que é impossível chegar a pé), participam das ações.
Mas, mesmo com todo esse aparato, o fogo se alastrou rapidamente devido à vegetação seca causada pela falta de chuvas na região, aos ventos fortes e à localização (parte alta do parque com trechos de mais de 2 mil e 2,5 mil metros de altitude, portanto, de difícil acesso), que dificultou o combate das chamas.
“É importante destacar que temos três frentes de atuação: a das aeronaves, dos militares que estão entrando com os abafadores e das viaturas (que levam água), que fazem o combate nas estradas mais próximas aos pontos que não são muito remotos”, explicou o porta-voz dos bombeiros, major Fábio Contreiras, à Agência Brasil.
Nos trechos mais altos, “o acesso é ruim, são locais íngremes. É um desafio o bombeiro estar ali fisicamente, porque a declividade é muito alta, então não é possível o combate terrestre. Nesses locais, duas aeronaves fazem simultaneamente o combate ao incêndio jogando água”, acrescentou.
Ele ainda destacou que, parte dos bombeiros que atuam no combate ao incêndio no Itatiaia, é especialista em incêndios florestais, muito comuns na região nesta época do ano. E que, além da importância ambiental, o Parque Nacional de Itatiaia é uma área relevante para a corporação, que usa o local para cursos de especialização em incêndio florestal e treinamentos.
“A gente já está acostumado com o local e tem toda a cartografia. Conhecemos o terreno, que infelizmente, há décadas, sofre com incêndios”.
A princípio, a visitação ao parque foi suspensa até quarta-feira (19), mas pode ser estendida. E o evento marcado para 22 de junho, quando o parque abriria a temporada de montanhismo (ATM), foi cancelado.
O que provocou o incêndio?
Em nota oficial, o ICMBio informou que “ainda não foram determinadas as causas do incêndio, que serão averiguadas por perícia posteriormente”, já que a prioridade é o combate e controle total do fogo.
Segundo o major Contreiras, 99% dos incêndios têm causas humanas, ou seja, são provocados por fogueiras, acúmulo de lixo e guimbas de cigarro, além de balões e fogos de artifício.
“O local onde começou o incêndio, no Morro do Couto, localidade de 2,5 mil metros de altura, em média, é remoto. Não é frequentado por pessoas, então acreditamos que a causa pode ter sido um balão, ou exploradores, pessoas que fazem trilhas e descartam material e não respeitam as normas do parque. Infelizmente tudo isso pode contribuir”.
No entanto, a câmera instalada em 3 de abril na parte alta do parque, que monitora o local por 24 horas – com transmissões ao vivo pelo YouTube -, gravou imagens que talvez ajudem a esclarecer o início do fogo. Ela registrou um comboio do Exército ao lado do foco que deu origem ao incêndio, o que, a princípio, levou à suspeita de que os militares possam ter ligação com o incêndio, ainda que acidental (veja reprodução do video abaixo, publicado pelo fotógrafo Gabriel Tarso em 14/6, e assista no final deste post).
Segundo O Eco, “as imagens circularam inicialmente em grupos de mensagem da Câmara Técnica de Montanhismo e Ecoturismo” e mostram dois momentos.
No primeiro vídeo (14h08), aparece “um pequeno foco de incêndio, marcado por uma fumaça branca, concentrado num único ponto, próximo de uma das estradas internas do parque”. Ao lado, estão parados (ao menos) 21 veículos da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), mas não é possível identificar se há pessoas fora dos veículos. Em seguida, a câmera muda de direção e tira o comboio do foco.
No segundo vídeo (14h13), a câmera volta para o local onde estava o comboio – que não está mais lá – e é possível ver a fumaça, “bem mais alta e espalhada”, indicando que o fogo já estava se alastrando.
Em nota, a AMAN declarou que, após concluir exercícios de instrução, os militares identificaram foco de incêndio no local e iniciaram o combate. “… contudo, devido aos fortes ventos e à vegetação seca, o fogo se alastrou, não sendo possível sua contenção. As viaturas que participavam do exercício foram retiradas do local, por questão de segurança e ato contínuo, os instrutores da AMAN informaram a direção do Parque Nacional do Itatiaia [sobre o incêndio]. Desde então, foi mobilizado apoio ininterrupto ao Parque, com pessoal especializado, aeronaves da Aviação do Exército e suporte logístico, que permanecerão até o término dos trabalhos”.
A AMAN ainda ressaltou que “não houve nenhum registro de acidente no local que pudesse ter dado origem ao fogo” (a sede da AMAN fica em Resende, aos pés do PNI, e tais treinos e atividades em suas montanhas acontecem desde 1957).
No entanto, de acordo com fontes ouvidas pelo O Eco – que trabalham com incêndios em áreas naturais e pediram para não serem identificadas -, ‘a imagem gravada às 14h08 mostra um fogo que começou ‘há apenas alguns minutos’’, disse uma. “O fato é que foram mesmo os militares”, declarou a outra. “Como foi exatamente não dá para saber ainda, mas ou foi algum deles que colocou o fogo ou pode ter sido algo do escapamento dos caminhões”.
Soma-se a isso o fato de que o canal de Youtube do parque não está disponível, pelo menos desde 15/6, segundo o site. Hoje, acessei em momentos diversos (a última vez, às 13h03) e continua fora do ar (o link deve ter sido mudado para privado). Segundo apurou O Eco, o ICMBio suspendeu a transmissão ao vivo “para poder utilizar a câmera no planejamento estratégico do combate ao incêndio”.
A câmera foi implementada pelo PNI, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, não só para monitorar focos de incêndio, como também para estimular as pessoas a “conhecerem o parque e o pico das Agulhas Negras – seu principal cartão-postal -, que é o ponto mais alto do Estado do Rio de Janeiro, com 2.791 metros.
O parque mais antigo do Brasil
O Parque Nacional do Itatiaia tem 87 anos. Foi o primeiro criado no Brasil, em 1937, e tem 28 mil hectares de extensão. Fica na região da Serra da Mantiqueira e ocupa os municípios de Itatiaia e Resende, no RJ, e Bocaina de Minas e Itamonte, em MG, próximo à divisa com São Paulo e à Rodovia Presidente Dutra.
Esta unidade de conservação (UC) é “dominada” pela Mata Atlântica e apresenta áreas montanhosas e elevações rochosas. O ponto mais elevado – que, como já disse, é seu cartão-postal – é o Pico das Agulhas Negras (acima), com altitude que varia de 600 a 2.791 metros.
Na região de planalto, encontram-se os campos de altitude, além de vales suspensos, onde nascem rios. No parque há nascentes de 12 bacias hidrográficas regionais, que drenam a água para duas bacias: a do rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, e a do rio Grande, afluente do rio Paraná.
A seguir, assista ao vídeo publicado pelo fotógrafo Gabriel Tarso, que com imagens da câmera do PNI, que revela o comboio do Exército e a fumaça, em 14/6, e, a seguir, o fogo devastando o parque, em 15/6.
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Foto (destaque): reprodução imagens da câmera do parque/G1
Com informações de ICMBio, Corpo de Bombeiros do RJ, O Eco, Agência Brasil, G1