Agora, turistas que quiserem usufruir das praias paradisíacas da Tailândia, terão que optar por produtos livres de substâncias químicas ou tomar sol sem protetor.
Em 4 de agosto, o governo desse país anunciou a proibição do uso de loções com filtro solar em todos os parques nacionais marinhos do país. A medida radical visa preservar os recifes de corais.
Estudos científicos comprovam que não é apenas o aquecimento da água, devido às alterações climáticas, que provoca o fenômeno do branqueamento de corais.
Substâncias como oxibenzona (benzophenone-3), octinoxato (metoxicinamato de octila), 4-metilbenzilideno, cânfora e butilparabeno, contidas em loções vendidas como blindagem contra os raios solares tropicais e o câncer de pele também contribuem para o enfraquecimento e a morte dos corais, além de interferirem em sua reprodução.
E são estas as substâncias proibidas pelo governo que não contou como fará o controle, mas alertou que os infratores serão multados em até 100 mil baht tailandeses ou US$ 3 mil.
Não estão contemplados na lei os cosméticos, como bases para a pele ou batons, com fator de proteção.
Vale lembrar que o impacto do uso dessas substâncias vai além dos recifes: se estende a outras espécies de animais marinhos, que também são envenenadas ou dependem dos corais como abrigo e alimento.
Arquipélago Palau, pioneiro
Com essa medida, a Tailândia se junta ao Havaí, nos EUA, ao Arquipélago de Palau, no Oceano Pacífico, as Ilhas Virgens Americanas, a leste de Porto Rico, e a Bonaire, ilha caribenha holandesa, na luta para preservar um dos ecossistemas mais ricos e delicados do mundo.
Em 2018, o Havaí decidiu banir filtros solares (contamos aqui) que contêm oxibenzona e o octinoxato. Foi o primeiro estado americano a tomar essa decisão, mas a lei só entrou em vigor em janeiro deste ano para que a indústria e o comércio tivessem tempo de se adequar à nova legislação.
No Arquipélago de Palau, o governo também anunciou a proibição em 2018, mas foi mais rápido do que o Havaí, tornando-se, de fato, o primeiro país no mundo a implantar a medida.
Em 1º de janeiro de 2020, Palau baniu o uso e a venda de filtros solares que contêm, pelo menos, uma das dez substâncias prejudiciais a corais e à vida marinha divulgados em uma lista, entre eles o terrível oxibenzona, que filtra os raios ultra-violetas.
Segundo a Fundação Internacional de Barreiras de Corais (International Coral Reef Foundation), “a maioria dessas substâncias é incrivelmente tóxica para os estágios iniciais da vida de várias espécies animais”.
A oxibenzona, por exemplo, danifica o DNA dos corais e pode matar corais jovens, além de causar defeitos de desenvolvimento em espécies de peixes e ser tóxica para camarões, moluscos, algas marinhas e ouriços-do-mar.
O Palau se autointitula como paraíso intocado para mergulhadores. Além disso, as ilhas Chelbacheb ou Rock Islands são formadas por um recife de coral parcialmente submerso e consideradas patrimônio da humanidade pela Unesco. Nada mais vital do que ser pioneiro na adoção dessa medida. Que sirva de exemplo para o mundo!
Outro país que passou na frente do Havaí, na prática, foram as Ilhas Virgens Americanas, onde a lei foi sancionada em julho de 2019 e entrou em vigor em março de 2020. Na mesma época, o governo da ilha caribenha holandesa de Bonaire anunciou sua intenção de banir o protetor solar, mas não há .
E no Brasil?
A proibição é uma forma de provocar as indústrias a adotarem ingredientes naturais em suas formulações, adaptando-se a uma outra realidade, ambientalmente responsável, mas que leva em conta a saúde humana também.
Afinal, se esses produtos fazem tanto mal para os seres marinhos, por que não prejudicariam os humanos?
Em 2018, especialistas revelaram que as 10 substâncias químicas banidas em Palau eram encontradas em cerca de metade dos cremes e loções vendidos em todo o mundo.
Quando o Havaí, nos Estados Unidos, anunciou seu veto a esses produtos, grandes marcas de filtro solar trataram de se adaptar e chegaram a anunciar – também nas embalagens – que seus produtos eram “seguros para barreiras de corais”.
No Brasil, há um projeto de lei ainda em tramitação no Senado – Projeto de Lei 616/2019, de autoria de Lasier Martins (Podemos/RS) -, que, desde junho de 2019 está com a “relatora, Senadora Zenaide Maia, para reexame”, conforme indicado no site do Senado.
Mas, enquanto não existe lei, os consumidores podem anotar (e decorar) a lista das dez substâncias proibidas em Palau e bani-las de sua vida. Ei-las: oxybenzona (benzofenona-3), etilparabeno, octinoxato (metoxicinamato de octila), butilparabeno, octocrileno, metilbenzilideno cânfora, benzilparabeno, triclosano, metilparabeno e phenoxyethanol.
São venenos e quanto maior o boicote a esses produtos, melhor para nossa saúde e para “convidar” a chamada “indústria da beleza” a se adaptar e rever sua produção.
Muitas já estão alterando processos, mas podem demorar para se tornarem “limpas” nesse aspecto. Mas, de outro lado, há muitas marcas de “produtos naturais”, o que é ótimo, mas também exige atenção e pesquisa. Quanto mais pessoas se dedicarem ao assunto, mais rápido o setor pode inovar e se aprimorar.
Muitos são os sites femininos que se dedicam a apurar e a fazer listas de produtos naturais. Além disso, blogueiras especializadas podem ser boas fontes. Vai dar trabalho, sim, mas é um bom caminho para você definir a sua lista de “produtos do bem”. Para você e a vida marinha.
Foto: S Scholz/Pixabay
Fontes: BBC, Senado, DW, Chemical Watch