
Neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) divulgou dados alarmantes sobre o clima: os últimos doze meses, de junho de 2023 a maio deste ano, foram os mais quentes já registrados desde os tempos pré-industriais e é praticamente impossível que se consiga limitar o aumento da temperatura global em até 1,5oC até o final desse século – limite estipulado entre os 196 países que assinaram o Acordo de Paris, em 2015.
Os dados trazidos a público nesta quarta-feira pela OMM fizeram parte de um evento realizado no Museu de História Natural, em Nova York, nos Estados Unidos, para marcar a data. No encontro, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um discurso em que pediu para que empresas de tecnologia e comunicação deixem de aceitar o dinheiro de publicidade vindo de companhias de combustíveis fósseis, que promovem a “destruição planetária“.
“Muitos governos restringem ou proíbem a publicidade de produtos que prejudicam a saúde humana, como o cigarro”, disse ele. “Da mesma forma, peço a todos os países que proíbam a publicidade de empresas de combustíveis fósseis. E conclamo os meios de comunicação social e às empresas de tecnologia que parem de aceitar propaganda sobre combustíveis fósseis.”
Ainda segundo a OMM, há uma probabilidade de 80% de que a temperatura média global anual exceda 1,5°C durante pelo menos um dos próximos cinco anos.
Para Guterres, a indústria de combustíveis fósseis é a principal responsável pelas mudanças climáticas. Há décadas executivos do setor já sabiam que a combustão de seus produtos – petróleo, diesel, gás e carvão – emite gases de efeito estufa na atmosfera, que ficam aprisionados ali por muito tempo, causando o aquecimento global.
“A madrinha do caos climático – a indústria dos combustíveis fósseis – obtem lucros recordes e festeja bilhões em subsídios financiados pelos contribuintes. É uma vergonha que os mais vulneráveis estejam abandonados, lutando desesperadamente para lidar com uma crise climática que nada fizeram para criar”, afirmou o secretário-geral da ONU.

Gráfico mostra aumento galopante da temperatura global desde a era pré-industrial até os dias de hoje
Imagem: Organização Meteorológica Mundial
Contudo, Guterres acredita que ainda há tempo de reverter esse cenário catastrófico e a saída está nas mãos dos atuais líderes mundiais. Ele lembrou que os países do G20 produzem 80% das emissões globais de gases de efeito estufa.
“Estamos jogando uma roleta russa com o nosso planeta. Precisamos de uma rampa de saída da rodovia para o inferno climático. E a boa notícia é que temos o controle do volante. A batalha para limitar o aumento da temperatura a 1,5oC será vencida ou perdida na década de 2020 – sob a vigilância dos líderes de hoje”, completou.
Entre os pontos delineados por Guterres para traçar uma nova trajetória climática estão reduzir emissões,
proteger as pessoas e a natureza dos extremos do clima, impulsionar o financiamento climático e acabar gradativamente com a indústria dos combustíveis fósseis.
“Vivemos em tempos sem precedentes, mas também temos conhecimentos sem precedentes no monitoramento do clima e isso pode ajudar na tomada de decisões. Esta série de meses mais quentes será lembrada como comparativamente fria, mas se conseguirmos estabilizar as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera num futuro muito próximo, poderemos voltar a estas temperaturas “frias” até ao final do século”, ressaltou Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus.
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Foto de abertura: Chris LeBoutillier on Unsplash