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‘Os olhos do Xingu’: indígenas apresentam belezas e ameaças em seus territórios, em mostra fotográfica na Noruega 

Por Isabella Pilegis e Silia Moan*

A exposição Os olhos do Xingu, que vai até 17 de junho no centro de Oslo, capital da Noruega, reúne fotografias de oito comunicadores indígenas e ribeirinhos da Rede Xingu+, que vivem em Terras Indígenas na Bacia do Rio Xingu, entre Pará e Mato Grosso

Com curadoria de Kujaesãge Kaiabi e dos comunicadores indígenas, a exposição é uma realização da Rede Xingu+, da Rainforest Foundation Norway e do Instituto Socioambiental (ISA). As fotografias serão exibidas em painéis em grande formato na Kronprinsesse Märthas plass, ao lado do Centro Nobel da Paz e da prefeitura de Oslo.

Ao todo, 20 imagens apresentam a preocupação dos indígenas e ribeirinhos com pressões e ameaças à Bacia do Rio Xingu, bem como a felicidade expressa no relacionamento com as comunidades, seus conhecimentos e culturas.

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Jepi Kaiulu Kalapalo brinca alegremente com borboletas em frente à sua casa
na Aldeia Kalapalo, Terra Indígena do Xingu 
Foto: Tauana Kalapalo/2016

A exposição direciona o olhar da sociedade para além da fronteira do imaginário popular, destacando a relação intrínseca entre o bem viver e a proteção dos territórios.

As imagens produzidas pelos comunicadores indígenas ainda propõem uma reflexão sobre como os diferentes modos de produção de registros visuais incentivam as novas gerações de comunicadores a fazer fotografia a partir do pensamento dos povos do Xingu. 

Na Aldeia Kalapalo, crianças se divertem com o ‘ta’, brincadeira que consiste em
acertar uma flecha no centro de uma roda em movimento 
Foto: Tauana Kalapalo/2017

A seleção de imagens inclui registros de mobilizações em Brasília, como a 3ª Marcha Mulheres Indígenas, realizada em setembro de 2023, além de retratos feitos em reuniões e em danças e festividades realizadas nos territórios.

Em uma potente fotografia monocromática, Tina Yawalapiti retratou o centro cultural Umatalhi, importante espaço para o fortalecimento do modo de vida alto xinguano pela realização de atividades como o ensino da língua yawalapiti – atualmente com poucos falantes –, aulas de artesanato e cursos de formação para comunicadores.

Construção de Umatalhi, centro cultural na aldeia Tuatuari, no Alto Xingu
Foto: Tina Yawalapiti/ISA

Sobre a curadora

Kujaesãge Kaiabi vive na aldeia Guarujá, no Território Indígena Xingu (TIX), onde se destaca como uma das mais promissoras figuras femininas do audiovisual. Todos os dias, ela acorda cedo, toma banho no rio e prepara a alimentação da sua família. Junto com as mulheres de sua comunidade, coleta mandioca, amendoim, torra farinha, faz artesanato e cuida de sua aldeia. 

A curadora Kujaesãge Kaiabi / Foto: divulgação

Seu principal papel enquanto comunicadora é apoiar os caciques e lideranças Kaiabi a compreender os retrocessos governamentais e ameaças que tramitam no Congresso Nacional. “Sou uma porta-voz do povo Kaiabi”, conta. Para isso, produz vídeos e áudios informativos. 

O desejo de se tornar comunicadora surgiu quando foi convidada para atuar no filme A história da Cutia e do Macaco, do Instituto Caititu. Desde então, Kujaesãge passou a se inspirar nas produções que viu durante a sua atuação. “Para mim não foi fácil, pois naquela época não havia mulheres na área audiovisual”. 

A imagem tem um poder muito significativo para o povo Kaiabi: “Quando tiramos uma foto ou fazemos um vídeo, é esse registro que servirá como dicionário ou lembrança da família que se foi”, conta Kujaesãge, que também pesquisa imagens do seu povo em arquivos históricos de conteúdos produzidos também por cineastas não-indígenas.

Desde 2018, realiza a cobertura audiovisual da Mobilização das Lideranças Indígenas, no Acampamento Terra Livre, em Brasília.

Em 2022, foi curadora do 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena do Brasil e, no mesmo ano, expôs no Instituto Moreiras Salles, fotos e um filme em que apresenta a trajetória do seu avô, Prepori Kaiabi, um dos principais pajés da história do Parque Indígena do Xingu (PIX).

Atualmente, Kujaesãge se dedica à produção de longa-metragem que conta a história do avô.

Sobre os comunicadores da Rede Xingu+

Composta por 26 membros, a Rede de Comunicadores Indígenas e Ribeirinhos do Xingu integra a Rede Xingu+, uma articulação entre organizações de povos indígenas, associações de comunidades tradicionais e instituições da sociedade civil atuantes na bacia do Rio Xingu. 

Tiogo Kalapalo (no centro) distribui peixes para moradores da Aldeia Aiha Kalapalo, na Terra Indígena do Xingu, como parte do processo de agradecimento do dono do ritual Kuarup à contribuição da comunidade, que juntou polvilho para alimentar os participantes do evento
Foto: Tauana Kalapalo/2022

Ao se apropriarem do uso de equipamentos e tecnologias sociais, esses comunicadores assumem o protagonismo na comunicação interna e articulação política entre diferentes povos da Bacia do Rio Xingu, e contribuem para a prevenção, emissão de alertas e monitoramento de atividades ilegais nas Áreas Protegidas do Xingu

* Este texto foi originalmente publicado no site do ISA – Instituto Socioambiental em 3/6/2024
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Foto (destaque): Renan Suya

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