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60 maiores bancos do mundo investiram quase 7 tri de dólares em fósseis desde Acordo de Paris

Por Leila Salim*

Os 60 maiores bancos do mundo despejaram US$ 6,9 trilhões na indústria de combustíveis fósseis desde 2016, quando o Acordo de Paris entrou em vigor. Somente em 2023, foram US$ 705,8 bilhões (cerca de R$ 3,6 trilhões) investidos, inclusive em empresas que têm planos de expansão da produção com a abertura de novas fronteiras de exploração fóssil.

Os dados são do relatório Investindo no Caos Climático (do original em inglês Banking on Climate Chaos), lançado na semana passada. 

Produzido anualmente por organizações como a Oil Change International e a Indigenous Environmental Network, o levantamento apontou que a economia global segue operando na contramão do que a ciência já demonstrou ser a única forma de cumprir o objetivo do tratado do clima, de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais: reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até o final desta década e atingir zero emissões líquidas até 2050. 

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Desde 2022, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU alerta que, para que o planeta tenha uma chance de estabilizar sua temperatura, o uso de carvão mineral precisa cair 95%, o de petróleo 60% e o de gás natural 45% até 2050. Mas, enquanto o mundo quebra recordes sucessivos de temperatura e os eventos extremoscomo as enchentes que devastam neste momento o Rio Grande do Sul, no Brasil, e o Afeganistão, apenas para citar dois exemplos – se multiplicam atingindo principalmente aqueles que menos contribuíram para a crise do clima, instituições financeiras seguem abastecendo os principais causadores do problema. 

“Mesmo com o caos climático se intensificando, empresas de combustíveis fósseis estão redobrando seus planos de expansão, enquanto seus executivos e acionistas desfrutam de ganhos extravagantes. Executivos dos bancos também estão lucrando com investimentos sujos em uma escala que envergonha o financiamento para mitigação e adaptação climática”, diz o relatório. 

Enfatizando a necessidade de mudança no rumo dos investimentos globais, o documento cita ainda declaração de Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, de abril deste ano: “Todos os dias, ministros das finanças, CEOs, investidores e banqueiros de desenvolvimento direcionam trilhões de dólares. É hora de deslocar esses dólares da energia e infraestrutura do passado para aquelas compatíveis com um futuro mais limpo e resiliente. E garantir que os países mais pobres e vulneráveis se beneficiem”. 

Os dados do relatório revelam que, dos US$ 705,8 bilhões investidos em empresas fósseis em 2023, quase metade (US$ 347,5 bilhões) foi destinada a empresas que pretendem expandir sua produção abrindo novas fronteiras de exploração. Do total de US$ 6,9 trilhões direcionados à indústria fóssil entre 2016 e 2023, US$ 3,3 trilhões foram parar em empresas que têm planos de expansão. No topo do ranking de bancos investidores em fósseis está o americano JPMorgan Chase, que saltou de U$$ 38,7 bilhões em 2022 para US$ 40,9 bi no último ano.

O segundo lugar é  do megabanco japonês Mizuho, que passou de US$ 35,4 bilhões em 2022 para US$ 37 bilhões em 2023, subindo quatro posições na lista. 

Em meio às cifras trilionárias, a dimensão da desigualdade pode ser dada pela comparação com as metas de financiamento para a transição energética e a adaptação às mudanças do clima. Quando o Acordo de Paris foi firmado, os países ricos prometeram investimentos de US$ 100 bilhões por ano entre 2020 e 2025.

O dinheiro deve ser destinado para apoiar a transição energética e planos de adaptação nos países em desenvolvimento. O montante total em seis anos, de US$ 600 bilhões, é menor do que os bancos investiram em fósseis somente no ano passado – e ainda não foi pago.

Defendendo que as instituições precisam agir rapidamente para alinhar seu financiamento com a meta de 1,5 ºC e possibilitar uma transição energética justa e equitativa, as organizações que assinam o relatório demandam que os bancos passem a negar imediatamente qualquer financiamento para a expansão de fósseis. 

“Os bancos devem encerrar empréstimos e investimentos para qualquer empresa que esteja expandindo combustíveis fósseis. Essa exclusão deve considerar financiamento de projetos, financiamento corporativo geral e transações de mercado de capitais para qualquer empresa com planos de expansão, independentemente do escopo do projeto de expansão. Esta é a medida mais urgente que os bancos devem tomar para cumprir suas promessas climáticas”, aponta o texto.

* Este texto foi originalmente publicado no site do Observatório do Clima em 15/5/2024
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Foto: Valeriy Kryukov/Unsplash

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