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Ópera ‘O Guarani’ ganha versão concebida por Ailton Krenak e indígenas ocupam o palco do Theatro Municipal de SP pela primeira vez

Ópera 'O Guarani' ganha versão concebida por Ailton Krenak e indígenas ocupam o palco do Theatro Municipal de SP pela primeira vez

A ópera O Guarani foi composta em 1870 por Carlos Gomes considerado o mais importante compositor brasileiro de óperas – e inspirada no romance homônimo de José Alencar, publicado em 1857, que narra a história de amor entre Peri, jovem indígena Guarani, e Cecília (Ceci), filha de um nobre português, que tem, como pano de fundo, a disputa em torno da exploração da terra por portugueses e espanhóis.

Encenada, pela primeira vez, no Teatro Scala, em Milão, na Itália, colocou o Brasil no cenário musical mundial.

A nova montagem, que estreia hoje, 12/5, foi concebida pelo líder, pensador e autor Ailton Krenak, e faz uma espécie de “reparação” ao introduzir atores, músicos e cantores indígenas no elenco, unir o canto e a música Guarani à música erudita e tirar os bailarinos da ópera. Sua intenção é descolonizar a narrativa original, rechaçando a imagem exótica dos indígenas de José de Alencar, enfatizada por Carlos Gomes.

Foto: Richard Wera Mirim

Ator desde os sete anos, Davi Wera Popygua Ju (liderança do povo Guarani Mbya) contracena com a atriz Zahy Tentehar (povo Guajajara). Os dois interpretam os protagonistas, que também são representados por cantores líricos. Krenak cria uma Ceci indígena e um Peri branco, desvirtuando a história original e brincando com seus duplos.

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A Ceci de Zahy Tentehar / Foto: Richard Wera Mirim

Sob direção do maestro Roberto Minczuk, a Orquestra e o Coro Guarani do Jaraguá Kyre’y Kuery se unem à Orquestra Sinfônica Municipal (com 90 instrumentistas, além de cerca de 20 solistas) e o Coro Lírico Municipal (com 84 cantores). “A música é universal, e a música deles [Guarani] tem uma pureza, é uma celebração religiosa, uma celebração de gratidão. Tem essa linguagem universal em que não existe fronteira”, relatou Minczuk ao Globo.

Foto: Richard Wera Mirim

Krenak ainda convidou o artista plástico indígena de projeção internacional, Denilson Baniwa, e Simone Mina para assumirem a direção de arte e a cenografia, respectivamente. Denilson é autor das ilustrações belíssimas projetadas no cenário e nas paredes do Theatro Municipal.

Repare que a pluralidade também se manifesta na origem dos indígenas envolvidos nesta produção: há, pelo menos, três etnias presentes.

Inovações que certamente vão cutucar (e incomodar) os amantes de ópera de coração purista.

Liliana Costa é a dramaturgista do espetáculo, que tem, na direção cênica, Cibele Forjaz, em sua primeira ópera! Ela contou ao Jornal Nacional que “uma coisa é José de Alencar tentando fundar o Brasil e uma cultura brasileira genuína e única no meio do século 19. Outra coisa é o século 21 no qual a gente sabe, ou se reconhece, como um país multiétnico, plurilinguístico. A gente não busca uma cultura, a gente busca a confluência de culturas múltiplas que formam os vários ‘Brasis’”.

E ela destaca que “o maior desafio está na representação indígena” visto que o livro de José Alencar retrata “o mito da fundação idílica do país”, criada a partir do encontro de um homem indígena com uma mulher branca. Peri é considerado “um bom selvagem” e se converte ao catolicismo – “por amor”, destaca Krenak, “e não por sobrevivência” como Alencar decidiu.

A urgência da demarcação das terras indígenas – uma questão fundamental a ser resolvida pelo governo Lula -, em especial da etnia Guarani, também está presente na nova versão da ópera.

Foto: Richard Wera Mirim

As imagens que ilustram este texto e traduzem a beleza de algumas cenas deste espetáculo são do fotógrafo Richard Wera Mirim, que administra o perfil Mídia Guarani Mbya (Terra Indígena Jaraguá, SP), no Instagram.
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Fontes: Theatro Municipal, G1, Folha de SP, Valor

Foto : Richard Wera Mirim / reprodução Instagram

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Lucia Helena
Lucia Helena
2 anos atrás

Muito, muito legal essa reportagem, assim como outras que recebo pelo Conexão Planeta!!! Super Parabéns!

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