Uma nova pesquisa divulgada recentemente revelou mais um efeito do aumento da temperatura da água dos oceanos provocado pelo aquecimento global: há um boom no nascimento de tartarugas-verdes do sexo feminino.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), em parceria com o Fundo Mundial para a Natureza da Austrália, e divulgado em artigo na publicação Current Biology.
Foi analisado um grupo de 200 mil tartarugas-verdes (Chelonia mydas), que vive na região ao norte da Grande Barreira de Corais, na Austrália, o mais importante local de desova da espécie no mundo. O que os biólogos constataram foi que, por causa do calor, 99% dos novos filhotes são fêmeas.
Um dos fatos mais interessantes da reprodução das tartarugas marinhas é, justamente, como o sexo do filhote é definido. É a temperatura da areia que vai estabelecer se nascerá um filhotinho ou uma filhotinha. Temperaturas acima de 29,3ºC produzem mais fêmeas e abaixo de 29,3 ºC machos.
“Ao juntar nossos achados com a média da temperatura do norte da Grande Barreira de Corais, percebemos que a eclosão dos ovos das tartarugas-verdes nas duas últimas décadas tem resultado somente em filhotes fêmeas e a completa feminização desta população poderá ocorrer em um futuro bem próximo”, afirmam os pesquisadores.
A ciência já alertou sobre como as mudanças climáticas estão afetando espécies e ecossistemas no mundo. Esta nova pesquisa é mais uma prova disso. O desequilíbrio ambiental provocado pelo aumento da temperatura da superfície terrestre, causada pela emissão de gases de efeito estufa, pode comprometer seriamente a reprodução das tartarugas-verdes. Sem machos, não haverá fecundação das fêmeas.
Ainda de acordo com os pesquisadores, com a previsão de que a temperatura global seja 2,6oC mais alta até 2.100, a sobrevivência das tartarugas-marinhas e outros tantos animais estará em risco.
A tartaruga-verde
No mundo todo, até hoje, são conhecidas sete espécies de tartarugas. A tartaruga-verde, também conhecida no Brasil como aruanã, é a que tem a maior população do planeta.
Elas podem pesar até 160 kg e tem, em média, 1.43 metro de comprimento. Seu habitat são mares tropicais e subtropicais, em águas costeiras e ao redor de ilhas, com muita vegetação. As tartarugas-verdes têm um importante papel nestes ecossistemas.
Na costa brasileira, elas são encontradas nas Ilhas Oceânicas de Trindade, na Reserva Biológica do Atol das Rocas e no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.
A tartaruga-verde é considerada “em perigo”, segundo a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de centenas de animais e plantas no planeta.
A classificação “em perigo” significa que a espécie possui grande chance de entrar em extinção na natureza.
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