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O movimento dos que não levam lixo para casa

O movimento dos que não levam lixo para casa

*Por Mariana Della Barba 

Uma filosofia vem ganhando adeptos entre quem quer adotar um estilo de vida em sintonia com o meio ambiente: a Zero Waste (Lixo Zero), que incentiva não só a reciclagem e o reaproveitamento, mas também a menor produção de lixo.

Quem adere ao conceito geralmente começa dizendo “não” a embalagens nos pontos de venda, como caixas, bandejas de isopor e sacos plásticos, preferindo levar sacolas de pano e recipientes de vidro para acomodar os produtos. “Plástico não serve para nada além de poluir e prejudicar a vida marinha”, diz Fernanda Cortez, idealizadora do projeto Menos 1 Lixo e defensora da campanha Mares Limpos, da ONU Meio Ambiente. “E é preciso explicar isso às pessoas, em todo lugar. Outro dia, não quiseram me entregar um suco em um copo de vidro, só no descartável, então recusei. Depois questionei a gerência e cobrei uma postura mais sustentável.”

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Fernanda Cortez, criadora do projeto Menos 1 Lixo: é preciso recusar plásticos e se posicionar
em estabelecimentos que não aderem à prática 

Para se engajar no Lixo Zero, recusar é a primeira atitude recomendada também pela francesa Bea Johnson, que mora nos Estados Unidos e foi chamada de “sacerdotisa do lixo zero” em uma reportagem do jornal The New York Times. Considerada a pioneira do movimento, Bea é autora do site e do livro Zero Waste Home, em que defende a adoção dos 5Rs: refuse, reduce, reuse, recycle e rot (recuse, reduza, reutilize, recicle e faça compostagem). “Vivemos em uma sociedade do consumo criada pelas empresas”, diz, em entrevista ao Believe.Earth, por telefone, da Califórnia. “Elas prometem que, se comprarmos determinado produto, vamos economizar tempo e dinheiro. Mas percebi que isso é bobagem e que estamos sendo enganados.”

Bea Johnsons: autora do site e do livro “Zero Waste Home”

Para Bea, um exemplo emblemático é o hábito de comprar papel toalha, porque, calculando o gasto para achar o produto no mercado, trazer para casa, guardar no armário, reciclar a embalagem dele e depois repetir todas as etapas, é possível concluir que usar um pano e depois lavar pode ser mais rápido e econômico. “Essa é apenas uma das dezenas de coisas que a indústria faz a gente acreditar que precisa”, afirma. “Dizem que seu fogão só ficará realmente limpo se você usar um produto específico – o mesmo vale para o chão, os vidros, os azulejos, as superfícies de metal.”

Todo lixo que não pode ser reciclado ou compostado em 2016 por Bea, seu marido e dois filhos

O armário da lavanderia de Bea era lotado, como o de vários lares antes de ela adotar o Lixo Zero. Hoje, ela limpa a casa toda com vinagre, sabão em pedra e bicarbonato de sódio. “Isso, sim, é uma grande economia de tempo e dinheiro.”

Efeito global

Metade do lixo gerado no mundo é residencial, segundo o livro Drawdown: The Most Comprehensive Plan Ever Proposed to Reverse Global Warming (Drawdown: o mais abrangente plano já proposto para reverter o aquecimento global, em tradução livre), do ambientalista norte-americano Paul Hawken. De acordo com a obra, se a taxa média de reciclagem doméstica passasse dos atuais 50% para 65% do total de resíduos, o reaproveitamento poderia evitar a emissão de 2,8 gigatoneladas de gás carbônico até 2050.

No último século, a produção de lixo aumentou dez vezes – e esse número vai mais que dobrar em poucos anos. O Banco Mundial prevê que os habitantes de áreas urbanas vão gerar 1,42 quilo de despejos por dia em 2025 – hoje, essa média é de 0,64 quilo. Os brasileiros já geram 1 quilo de resíduos diariamente, segundo pesquisa feita em 2016 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Deixar de produzir tantos descartes é uma iniciativa que começa pequena, com algumas mudanças de hábito, mas faz uma diferença enorme.

Para saber mais

*Texto publicado originalmente no site do Believe Earth

Fotos: divulgação Zero Waste Home e Fe Cortez

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