Se alguém perguntar pra você qual o maior mamífero do mundo, você sabe dizer? Talvez não, mas quem se interessa pela vida selvagem no planeta, certamente sabe que é a baleia azul (Balaenoptera musculus), que talvez seja o maior animal que já povoou o mundo até hoje!
O musaranho etrusco, que parece um rato, e o morcego-abelha são os menores mamíferos. Entre os anfíbios, a salamandra gigante chinesa (Andrias davidianus, criticamente ameaçada) é o maior! E o menor?
Nos últimos anos, muitas foram as espécies de anfíbios descobertas pelo planeta: em Madagascar, Papua Nova Guiné, Cuba, Equador, Peru e Brasil. E, em 30 de janeiro, três pesquisadores – Wendy Bolaños, Iuri Ribeiro Dias e Mirco Solé – apresentaram o menor anfíbio do mundo em artigo publicado na revista Zoologica Scripta, que deixa a moeda de 1 real gigante (foto acima).
A publicação é uma das mais conceituadas na área de Zoologia, editada em nome da Academia Norueguesa de Ciências e Letras e da Real Academia Sueca de Ciências.
O minúsculo ser é brasileiro… e baiano! E, não só é o menor anfíbio anuro (sapos, rãs e pererecas) do mundo, como também o menor sapo e o menor vertebrado terrestre.
O caminho das pesquisas
Foi descoberto e descrito em 2011, numa RPPN, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra Bonita, no município de Camacan, no sul da Bahia, e batizado como sapinho-pulga; cientificamente é Brachycephalus pulex. Seu tamanho? 7,1 mm! Entre os pesquisadores estava o biólogo e professor Iuri (que participou do estudo de agora), da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), de Ilhéus, na Bahia. Pouco tempo depois, em outra expedição, eles também encontraram a espécie no Parque Nacional Serra das Lontras, em Arataca, no sul do estado.
A ausência da espécie em outros topos de morro indica que é uma espécie endêmica da região.
O mais interessante é que, em 2012 – portanto, um ano depois! – uma rã de 7,7 mm, da família Paedophryne amauensis, procedente da Papua-Nova Guiné, foi proclamada o menor anfíbio em estudo publicado na renomada revista científica PLos One. Pois é… foi sem nunca ter sido porque, afinal, o diminuto Brachycephalus pulex já havia sido descoberto, e era “muito” menor.
Oito anos depois, em 2019, foi iniciada a pesquisa que uniu essa pequena espécie, a bióloga Wendy Bolaños, então mestranda do Programa de Pós-graduação em Zoologia da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), e os professores Iuri e Mirco, e que resultou na coroação do sapo-pulga como o menor do mundo: anfíbio, sapo e vertebrado.
Um pouco do estudo e o resultado
No Brasil, o primeiro sapo minúsculo (Brachycephalus ephippium) foi descrito em 1824 por Johann Baptist von Spix e, desde então, o gênero – que tem 41 espécies, a maioria descrita na última década – se concentra no sul do estado da Bahia, no nordeste, até Santa Catarina, no sul do país. Todas são endêmicas da Mata Atlântica e reconhecidas pelo tamanho corporal miniaturizado em sapos.
Até 2011, no gênero Brachycephalus, a espécie descrita como B. pulex parecia ser “a menor rã neotropical, com comprimento de 8,2 mm”. Mas o estudo carecia de informações sobre os comprimentos máximos de machos e fêmeas e também de análise comparativa com outras espécies de sapos pequenos.
Surgiu daí a pesquisa de Wendy Bolaños, acompanhada por Iuri e Mirco. O foco do estudo foi a Brachycephalus pulex.
Ela comparou o tamanho dos adultos da espécie com os de outras descobertas na última década e chegou-se à conclusão de que os indivíduos de sapo-pulga são “os anfíbios com menor comprimento total registrado, o que os qualifica para suportar o título de menor anfíbio anuro e, também, de menor vertebrado do mundo”, declaram os pesquisadores no artigo.
No Museu Zoológico da Universidade Estadual de Santa Cruz (MZUESC), Bolaños mediu e determinou o sexo de 46 exemplares, sendo 39 de Serra Bonita (BA) e sete da Serra das Lontras (BA). E a bióloga constatou que o menor sapo da espécie era um macho adulto – as fêmeas são sempre maiores – e media apenas 6,45 mm!
“Já estão ameaçados”
Ao mesmo tempo em que celebra a descoberta, o pesquisador Mirco Solé, da UESC, alerta que a sobrevivência da espécie está ameaçada: “É positivo que esse diminuto sapinho ocorra em duas áreas de conservação, mas sua vulnerabilidade às mudanças climáticas é preocupante. Espécies de baixada podem escapar do aumento de temperatura deslocando-se para áreas de montanha, mas as que habitam os topos de morro não têm para onde ir”.
E Iuri Ribeiro Dias, que também participou da pesquisa, chama a atenção para o fato de que mais de 40% dos anfíbios do mundo já estão ameaçados.
“Infelizmente, na última reavaliação do status de ameaça, realizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o sapinho-pulga foi classificado como em perigo de extinção (EN = endangered). Portanto, está em nossas mãos garantir que ele não desapareça e que as futuras gerações de brasileiros ainda possam se orgulhar de ter o menor anfíbio do mundo vivendo na Bahia”.
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Foto (destaque): Renato Gaiga/divulgação