Ele tem apenas 2 centímetros, mas é rápido que nem um foguete. Por isso mesmo recebeu, em inglês, o nome de Cerrado Rocket Frog, e assim ficou em português, o sapo-foguetinho, espécie de anfíbio rara, só encontrada no Cerrado.
“Ele tem esse nome pois dá uns pulos bem ligeiros, é uma espécie muito arisca, o que dificulta sua captura, além de ser bem semelhante às folhas do chão onde fica. E com o intuito de deixá-lo mais familiar para a sociedade, escolhemos manter o nome no diminutivo, por isso sapo-foguetinho”, conta a bióloga Gabryella Mesquita, uma das diretoras do Instituto Boitatá.
Outras duas curiosidades desse pequeno morador do Cerrado é ele ter um desenho que faz lembrar uma ampulheta nas costas e ser uma das poucas espécies de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) de hábitos diurnos. “A maioria das espécies canta a noite, esse canta durante o dia!”, diz a bióloga.
E agora pesquisadores do Boitatá, com o apoio de diversas outras instituições, estão lançando uma iniciativa para transformar o sapo-foguetinho em mais um símbolo para a conservação do Cerrado, assim como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus).
Apesar desse bioma brasileiro ser uma das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta, ele tem sofrido enormemente com o desmatamento. Só no último mês de janeiro, ele perdeu 51 mil hectares de vegetação nativa, área equivalente ao território da cidade de Maceió. Quando comparado à Amazônia, o Cerrado – o segundo maior do país – tem menos proteção e uma forte atuação do agronegócio. E é isso o que preocupa especialistas.
“Cerca de 50% dos anfíbios do Cerrado são endêmicos, não ocorrendo em nenhum outro bioma brasileiro. Com o aumento do desmatamento e degradação do meio ambiente, podemos perder boa parte dessas espécies únicas nos próximos anos”, diz Gabryella.
É o caso do sapo-foguetinho. Encontrado em ambientes de florestas, em matas que circundam rios, córregos e riachos rochosos, a espécie foi classificada na década passada como ‘em perigo’ de extinção, a segunda categoria de ameaça mais alta. Todavia, graças a esforços de proteção, como o trabalho de pesquisa e monitoramento realizado pelo Boitatá, seu status de conservação foi reavaliado em 2022 e o Allobates goianus agora configura como ‘quase ameaçado’. Isso significa que ele não é oficialmente mais tido como em risco de extinção e formalmente protegido no Brasil.
“No geral, a redução do status de ameaça de uma espécie deve ser vista como uma boa notícia”, explica Gabryella. “No entanto, se a proteção do sapo-foguetinho for reduzida devido a esse cenário, pode ser extremamente prejudicial para a conservação da espécie, que ainda continua claramente sofrendo por ameaças como a perda de habitat.”
Pequenininho, mas rápido: espécie canta durante o dia
(Foto: Pedro Peloso)
De acordo com levantamentos feitos pelo Boitatá, populações do sapo-foguetinho só são observadas atualmente em menos de dez localidades do estado de Goiás, e algumas delas são bem pequenas.
“Das populações conhecidas, poucas parecem ser grandes e vivem em áreas mais preservadas, como na formação Chapada dos Veadeiros. Entretanto, a maioria das populações que encontramos parecem ser muito pequenas, com poucos indivíduos adultos e estão sofrendo impactos diretos do contínuo e desordenado crescimento agropecuário”, lamenta Werther Ramalho, pesquisador do instituto envolvido no estudo.
Werther Ramalho em trabalho de campo, monitorando anfíbios do Cerrado
Foto: Pedro Peloso
Educação e sensibilização ambiental, aliadas da conservação
Além de advogar pelo título de “Símbolo para a Conservação do Cerrado” para o sapo-foguetinho, o time do Instituto Boitatá também planeja realizar, paralelamente ao trabalho em campo, ações de sensibilização da população sobre a importância dessa espécie tão única. Estão na lista de atividades a produção de materiais audiovisuais, como documentários e livros, palestras em congressos, escolas e universidades.
“Temos um livro infantil que contará a história do sapo-foguetinho do Cerrado para um público amplo. A obra já está em produção e a previsão para o lançamento é até início de 2025!”, adianta a diretora da ONG.
Ilustração feita pela artista Gabriela Luiza representando o sapo-foguetinho como um
guardião da biodiversidade do Cerrado
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Foto de abertura: Pedro Peloso