
Durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, no ano passado, um novilho chamado Valente nadou desesperadamente para alcançar o alto de um morro e escapar da violência das águas, em Muçum, cidade a 154km de Porto Alegre. Ficou desaparecido por três dias, com uma pata fraturada, até que os brigadistas do GRAD – Grupo de Resposta a Animais em Desastres, o encontraram. “Provou que seu nome faz jus à sua história”, declarou a organização em seu Instagram. “E se tornou um símbolo de resistência dessa tragédia”.
Devido ao esforço descomunal que fez para salvar sua vida, o boizinho fraturou gravemente uma das patas da frente. Seu destino teria sido a morte, certamente, caso o GRAD não tivesse adquirido o animal de seu dono.
Já no local, os médicos do Instituto Veterinário de Grandes Animais (IHVet) da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e do GRAD o examinaram e decidiram que Valente deveria ser levado ao hospital veterinário, em Caxias, para ser tratado.
O médico veterinário Enderson Barreto, do GRAD, que participou do resgate em 2023, visitou Valente recentemente e ficou emocionado ao vê-lo tão saudável, forte e cheio de energia (assista ao vídeo, no final deste post, até o fim).

Primeiro, os médicos tentaram imobilizar a pata com gesso, mas não funcionou e, infelizmente, a pata teve que ser amputada. A partir daí, discutiram outras saídas até que optaram por uma prótese, que, neste caso, parecia uma boa alternativa.
Desenvolvida por uma empresa de Porto Alegre, a prótese personalizada (parece uma pata de boi!) custou R$ 3,5 mil, pagos pelo GRAD (viu só como as doações constantes à instituição são importantes?). A UCS assumiu os custos de acolhimento e tratamento de Valente que, em cerca de um mês, recebeu a prótese e uma nova chance para resgatar a mobilidade e ter qualidade de vida.
“Ele é um símbolo muito forte porque representa que fratura não quer dizer o fim, principalmente para animais de grande porte. E a Universidade de Caxias acreditou nele e junto com parceiros desenvolveram uma prótese. Ele está passando por reabilitação constante devido ao peso, o animal vai crescendo, precisa reabilitar sempre”.
E Enderson acrescentou: “É um símbolo muito forte de recuperação, de que toda vida importa e que a gente sempre tem que dar o nosso melhor, mesmo que as chances sejam poucas. É um símbolo muito forte! Então, nosso agradecimento especial à Universidade de Caxias por ter acreditado no Valente e que ele seja um símbolo muito forte para outros, que possam se inspirar nessa história e dar vida digna para todas as espécies”.
A história de Valente é um “exemplo de superação e também um lembrete do impacto positivo que o trabalho em equipe e o cuidado com os animais pode alcançar”, destaca o GRAD.
“A última opção seria a eutanásia”
Em entrevista ao site GZH, Leandro Ribas, médico veterinário e diretor do Instituto Hospitalar Veterinário da UCS, explicou na ocasião: “O que é diferente no Valente é que ele é um animal de produção, um bovino. Não é considerado animal de companhia, tampouco um pet. O bovino não tem a mesma relação que o ser humano, na sua grande maioria, tem com os cavalos. E, às vezes os tutores não investem na colocação de próteses, mesmo com essa relação. Com os bovinos, menos ainda”. E declarou: “Em relação ao Valente, ele vindo pra cá, pra nós a última opção seria a eutanásia”.
Antes de receber a prótese, Valente passou por adaptação com prótese provisória, produzida com cano de acrílico. E seu estado emocional ajudou muito na recuperação e na adaptação. Ribas contou que a expressão da face, dos olhos e da orelha do novilho “denunciavam” que estava sem dor e bem.

Foto: reprodução de vídeo do GRAD
Hoje, Valente anda e corre normalmente, mas como Ribas explica: “É um animal que precisará de cuidados toda vida. Não é um animal que voltará para um rebanho. Ele vai ser criado como pet. Tem que ficar perto das pessoas, para um olhar diário. Não dá pra soltar e olhar ele na semana que vem”. Por isso, será colocado para adoção. E os integrantes do instituto veterinário pensam em entrar na disputa por ele.
Ribas ainda destacou que a história do novilho vai muito além de uma boa ação: “dá oportunidade para que os alunos ganhem conhecimento técnico na prática, inclusive os estagiários voluntários do instituto”. Além disso, fica uma lição de humanidade: “a parte humana, social e cidadã, que é nos importarmos com os outros”.
E finalizou: “Nós somos uma universidade comunitária e entendemos que temos que dar apoio a essas causas. Por ser uma causa diferente, acho que uma universidade como a nossa tem condições de fazer parte desse projeto (…). A parte humana precisa de todo nosso suporte, e a causa animal também”. Afinal, “todos os animais, independentemente do seu porte, se os manejarmos, todos são pets, todos são animais de companhia. O Valente é uma mostra disso”.
A seguir, veja como Valente está bem no vídeo produzido pelo GRAD no Instituto Veterinário da UCS:
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Fotos (destaque): reproduções do vídeo do GRAD Brasil