
Melancieiro? Isso mesmo! Talvez você não conheça esse termo, mas moradores de comunidades de vários estados amazônicos, como Amapá, Amazonas, Roraima e Pará, sabem bem o que ele significa. “É o nome popular dado a árvores que liberam um óleo transparente da casca que tem cheiro de melancia, por isso eles as chamam assim”, explica o biólogo Guilherme Sousa da Silva, pesquisador de pós-doutorado do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Foi durante seus estudos sobre melancieiros na Amazônia, em busca de flores de uma dessas árvores, que Guilherme descobriu uma nova espécie, até então desconhecida para a ciência. “Me deparei com essa população que tinha características diferentes de todas as outras espécies já descritas para o grupo. Quando vi já fiz a coleta, o registro e já comecei e pensar no artigo”, contou ele ao Conexão Planeta.
A nova espécie de melancieiro, que pertence à família botânica das leguminosas, foi encontrada nos municípios de Marabá (principalmente), Nova Ipixuna e Altamira, no sudeste do Pará. Medindo entre 6 e 20 metros de altura, a árvore possui uma flor belíssima, de cor branca, e frutos marrons, que não comestíveis para os seres humanos. Contudo, as flores são muito apreciadas por macacos.

Foto: Jone Carlos Ferreira Neves Junior
O melancieiro paraense foi batizado com o nome científico de Alexa duckeana, em homenagem a Adolpho Ducke, botânico austríaco e estudioso da flora amazônica, falecido em 1959. Segundo Guilherme, até este momento, a espécie só foi observada nas drenagens médias dos rios Xingu e Tocantins (a porção do meio do rio, depois da nascentes e antes da foz). Todavia, ele acredita que a árvore possa ocorrer em outras localidades.
“Embora não tenha sido registrada fora do Pará, a espécie pode ser esperada em partes dos estados do Maranhão e/ou Tocantins. Ela ocorre em fragmentos de florestas ombrófilas [que depende de chuvas abundantes e constantes] ou terra firme, uma mata fechada de dossel alto”, diz ele.

Foto: arquivo pessoal
Melancieiros têm propriedades medicinais
O grupo de pesquisadores que assina o artigo científico descrevendo a descoberta da nova espécie, tendo como autor principal Guilherme, alerta que ela já deve ser considerada possivelmente “em perigo de extinção”, devido ao avanço do arco do desmatamento na Floresta Amazônica e da expansão imobiliária.
Além disso, a madeira do melancieiro é muito utilizada na construção de casas, móveis e barcos. “No Pará é uma madeira de lei, que tem manejo restrito. No Amapá as populações são mínimas, principalmente pela exploração madeireira”, esclarece o pesquisador.
Outra propriedade importante dos melancieiros é a farmacológica. As cascas dessas árvores possuem castanospermina, uma substância natural altamente tóxica, utilizada no combate a várias doenças venéreas, e com vários estudos promissores também para o uso no tratamento ao vírus do HIV.
“Para a flora amazônica, a descoberta de uma nova espécie como essa é superimportante, principalmente para contribuir com a riqueza de espécies que por vezes é negligenciada. Para a região sudeste do Pará é importante para utilizar como justificativa para frear o desmatamento e na proposição da criação de novas unidades de conservação”, ressalta.

Foto: Guilherme Silva
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Foto de abertura: Guilherme Silva