Pra começar, você sabe o que é uma cobra-papagaio? “Cobra-papagaio é um nome popular dado para serpentes do gênero Leptophis por causa de sua cor. Elas são verdes – a maioria delas tem uma mancha amarelada no dorso. Como são arborícolas, é comum encontrá-las em galhos de árvores e arbustos”, explica Diego Santana, coordenador do Laboratório de Biogeografia e História Natural de Anfíbios e Répteis do Instituto de Biociências (Inbio) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. “Em alguns lugares do Brasil essas serpentes também são chamadas de cobra-cipó e de azulão-boia.”
Diego é um dos autores de um artigo científico recém-publicado que descreve uma nova espécie dessas serpentes no Brasil, a cobra-papagaio-de-bigode (Leptophis mystacinus). Ela recebeu esse nome popular porque possui uma faixa pré-ocular preta que se estende de um olho ao outro, lembrando um “bigode”.
A descoberta da nova espécie se deu durante um trabalho de doutorado de revisão das espécies Leptophis pelo professor do Inbio Nelson Rufino, autor principal do estudo. Durante a análise de espécimes, ele notou que algumas delas, coletadas no Tocantins, pareciam diferente. Foi feito então o sequenciamento de DNA dos animais e confirmou-se que a suspeita.
A cobra-papagaio-de-bigode não é peçonhenta. Ela mede entre 50 e 60 cm, da ponta do focinho até a cloaca. “Mas a cauda dela é muito comprida, comum em animais arborícolas. Então o tamanho da cauda às vezes é o mesmo do resto do corpo da serpente. É um bicho bem grande”, diz Diego.
Outra particularidade pela qual foi possível diferenciar essa espécie de outras foi a estrutura de seu hemipênis. “As serpentes fazem parte de um grupo de répteis chamados Squamata, do qual fazem parte ainda lagartos e cobras de duas cabeças”, afirma. “E todos eles possuem o hemipênis, o órgão copulador dos machos, que são dois. No caso das serpentes, eles podem ter algumas ornamentações, como espinhos, franjas ou um formato diferenciado.”
Além dos indivíduos coletados no Cerrado do Tocantins, principalmente seguindo o curso do rio Tocantins e perto da beira do rio Araguaia, também foi encontrado um espécime na coleção do Museu Nacional vindo de Minas Gerais. “Acreditamos que a espécie também pode ser observada em Goiás, no oeste da Bahia e em alguns outros pontos”, revela o pesquisador.
Ainda não se sabe o status de conservação da Leptophis mystacinus. Contudo, o consenso entre especialistas que conhecem o Cerrado e os animais que vivem nele é que a fauna do bioma está ameaçada. “O Cerrado é um bioma ameaçado. Onde a gente vai hoje o Cerrado hoje é uma lavoura do mundo – produz-se ali a soja, o milho e o que se produz ali não é só para o Brasil, mas commodities para o mundo todo. O Cerrado é uma das áreas mais destruídas do planeta. Não se fala muito nisso por causa da pressão do agronegócio, mas precisamos de mais áreas protegidas no bioma”, alerta.
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Foto de abertura: Leandro Alves da Silva