O cacique Raoni Metuktire, líder do povo Mẽbêngôkre (Kayapó), é reverenciado no mundo todo. Durante toda sua vida defendeu a proteção e os direitos dos povos indígenas, assim como a preservação ambiental. Aos 91 anos continua uma das vozes mais importantes entre esses povos e agora seu nome será ainda mais imortalizado ao nomear a nova espécie de peixe cascudo descoberta no rio Xingu.
Batizada de Scobinancistrus raonii, a espécie só foi encontrada numa porção do médio rio Xingu, que vai da Volta Grande do Xingu, área muita impactada pela construção da barragem de Belo Monte, em Altamira, até próximo à confluência do rio Iriri com o rio Xingu.
Raoni foi um daqueles que lutou contra a obra da usina de Belo Monte, em 2010.
Esse peixe cascudo se difere de outros do gênero Scobinancistrus pelo seu padrão de cores e algumas outras características. Seu corpo é coberto por grandes bolas amarelas espaçadas sobre um fundo escuro, que varia entre verde escuro e preto. Ele pode chegar a medir até 17 centímetros de comprimento.
O peixe cascudo Raoni escondendo-se sob seu microhabitat preferido:
placas conglomeradas de cascalho e óxido de ferro
(Foto: Leandro M. Sousa)
Apesar de sua descrição só ter sido feita agora, esse peixe já é bastante conhecido na região, tanto pelas comunidades locais como por colecionadores, entre os quais recebeu o apelido de tubarão por causa de seu corpo roliço.
“A gente já conhece esse bicho há muito tempo. Ele já era vendido no comércio de pesca ornamental e era um bichinho muito diferente, mas na época não sabíamos em qual gênero ele se encaixava. Foi uma surpresa ver que não conseguimos encaixá-lo em nada que conhecíamos e que se tratava de uma nova espécie”, afirma Lúcia Rapp Py-Daniel, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e uma das co-autoras do artigo científico publicado na revista Neotropical Ichthyology sobre o assunto.
Para conseguir confirmar que o peixe cascudo Raoni era mesmo uma nova espécie, os cientistas analisaram 38 exemplares dele.
Segundo eles, é importante garantir a qualidade da água da região pois existem ainda potencialmente várias outras espécies desconhecidas e também é necessário estabelecer estratégias de conservação porque esses peixes “são são muito comercializados e exportados por causa da aparência colorida e atrativa”, alerta Lúcia.
A nova espécie foi descrita por um grupo de pesquisadores INPA, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Foto da boca da espécie recém-descrita de peixe do rio Xingu
(Foto: Leandro M. Sousa)
Fonte: Agência Bori
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Foto de abertura: Leandro M. Sousa
