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No Saara, tempestades raras causadas por ciclone extratropical formam rios e lagoas e enchem lagos secos há décadas

Considerado um dos lugares mais áridos do mundo, no Deserto do Saara, raramente chove no final do verão. Em geral, são registrados menos de 250 milímetros de chuva por ano e, em algumas áreas, a precipitação não passa de dez milímetros. Mas, em setembro, essa quantidade foi alcançada em apenas dois dias de chuvas, anunciou o governo.

Uma rara sequência de tempestades inundou as areias do Saara, formando rios e lagoas. Na vila de Tagounite, que fica a cerca de 450 km da capital, por exemplo, em 24 horas foram registrados mais de 100 milímetros de chuvas.

“O que é fascinante é que lagos normalmente secos no Saara estão enchendo devido a esse evento”, comentou Moshe Armon, professor sênior do Instituto de Ciências da Terra e daUniversidade Hebraica de Jerusalém

Satélites da NASA identificaram a formação de rios que encheram o Lago Iriqui, seco há 50 anos. E um lago que Armon está observando especialmente é o Sebkha el Melah, uma planície de sal no centro da Argélia, que é tema de um de seus estudos mais recentes.

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Para entender melhor a frequência de eventos de precipitação pesada nessa região, Armon e colegas analisaram duas décadas (2000–2021) de dados. Das centenas de eventos que afetaram essa área ao longo desses anos, eles identificaram apenas seis ocorrências anteriores que levaram ao enchimento desse lago.

Em nota, a NASA ainda explicou que as precipitações intensas e inesperadas estão associadas a um ciclone extratropical – também raro na região. “O sistema se formou sobre o Oceano Atlântico e se estendeu para o sul, puxando a umidade da África equatorial para o norte do Saara”.

Segundo a MetSul Metereologia, o ciclone atravessou o Noroeste do Saara em 7 e 8 de setembro e encharcou grandes áreas sem árvores do Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, que raramente recebem chuva. “Apesar de precipitação nesta região acontecer todo verão, o que é único este ano é o envolvimento de um ciclone extratropical”, declarou Armon.

Houssine Youabeb, representante da Diretoria Geral de Meteorologia do Marrocos, disse que esse tipo de precipitação, num espaço tão curto de tempo, não era vista há décadas na região, entre 30 e 50 anos.

E Youabeb ainda fez um alerta: chuvas torrenciais como essas – classificadas por meteorologistas como tempestade extratropical – podem mudar o clima na região, nos próximos meses e anos. Isso pode acontecer porque as precipitações fazem o ar reter mais umidade, causando mais evaporação e, consequentemente, mais tempestades.

Embora grande parte da chuva tenha caído em áreas muito pouco povoadas, o governo do Marrocos indicou que várias aldeias enfrentaram inundações repentinas destrutivas, estradas danificadas e fornecimento de eletricidade e água interrompido.

Seis anos de seca extrema

As tempestades chegaram ao Saara após seis anos seguidos de seca extrema, que levaram ao racionamento de água no Marrocos. 

Apesar do desequilíbrio climático que esse fenômeno representa – e de ter causado a morte de, pelo menos, 20 pessoas no Marrocos e na Argélia – a abundância de chuvascertamente contribuirá para abastecer os aquíferos subterrâneos que, por sua vez, abastecem as comunidades do deserto.

Durante todo o mês de setembro, os reservatórios represados da região tiveram enchimento recorde. Mas, segundo especialistas, ainda não é possível dimensionar o quanto as chuvas daquele mês poderão aliviar a seca naquele deserto. 

Saara X Amazônia

Em agosto, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites, da Universidade Federal do Alagoas, identificou que, ventos fortes e constantes vindos do sudeste do planeta se somaram à temperatura anormal dos oceanos (que estão esquentando cada vez mais), contribuindo para as chuvas torrenciais no Saara, conectando o deserto à seca extrema na Amazônia.

“Com o Atlântico Norte mais quente, ventos alísios [constantes] de sudeste têm mantido a ZCIT [Zona de Convergência Intertropical] muito afastada da Amazônia, inibindo as chuvas e beneficiando o Saara. Esse é apenas um dos impactos indiretos que a posição da ZCIT na África pode ter no clima da Amazônia”, explica o laboratório.
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Com informações da MetSul e da AP/G1

Foto: reprodução de vídeo

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