PUBLICIDADE

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo

O Brasil é o país com maior diversidade de primatas do mundo, com 102 espécies, das quais 39% estão em risco de extinção. Ranking divulgado este ano, durante congresso de primatologia em Sinop, no Mato Grosso, indica que, dos 25 primatas mais ameaçados do mundo, quatro são do Brasil e um deles é o Zogue-zogue-de-alta-floresta (Plecturocebus grovesi), descoberto em 2012 em região próxima aos rios Telles-Pires e Juruena, e descrito em 2019.

A espécie é uma das 12 que vivem na cidade matogrossense de Alta Floresta, próximos da divisa com o Pará, na região conhecida como Arco do Desmatamento, onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e onde encontram-se os maiores índices de devastação da Amazônia.  

Não é à toa que oito desses animais estão em grau mais grave de ameaça de extinção, veja:

NOME EM PORTUGUÊSNOME CIENTÍFICOSTATUS DE AMEAÇA (IUCN)
bugio-de-mãos-ruivas-de-SpixAlouatta discolorvulnerável
bugio-vermelho-do-Rio-PurusAlouatta puruensisvulnerável
cuxiú-de-nariz-vermelhoChiropotes albinasusvulnerável
macaco-aranha-da-cara-brancaAteles marginatusem perigo
macaco-aranha-da-cara-pretaAteles chamekem perigo
macaco-da-noiteAotus infulatuspouco preocupante
macaco-pregoSapajus apellapouco preocupante
macaco-de-cheiroSaimiri ustusquase ameaçada
sagui-de-snethlageMico emiliaepouco preocupante
sagui-de-schneiderMico schneideriem perigo
zogue-zogue-de-Alta-FlorestaPlecturocebus grovesicriticamente ameaçada
zogue-zogue-de-barriga-vermelhaPlecturocebus molochpouco preocupante

Mais conhecimento, mais proteção para os primatas

No mês passado, Alta Floresta recebeu um presentão da bióloga Fernanda Abra, jovem pesquisadora premiada do Projeto Reconecta. Ela doou o prêmio que recebeu da Whitley Fund for Nature para instalar 13 pontes de dossel (passagens de fauna aéreas: para animais arborícolas como os primatas) na cidade. 

PUBLICIDADE

As primeiras sete foram instaladas entre os dias 13 e 17/10 e marcaram o lançamento do programa Alta Floresta não Atropela (contei aqui).

Como parte da programação, a cidade também ganhou uma exposição com fotos de 11 dos 12 primatas da região, de autoria de fotógrafos conservacionistas e conservacionistas fotógrafos.

São registros imprescindíveis para ampliar o conhecimento do público e a proteção desses animais. Mas a mostra durou apenas dois dias e só quem estava na cidade, nesse dia, viu. Para que imagens tão lindas não fiquem restritas à essa celebração, decidimos publicá-las aqui, no Conexão Planeta, contando um pouco sobre cada espécie. 

Apesar de não participar da exposição (os curadores não encontraram imagem de boa qualidade produzida na cidade), não poderíamos deixar o zogue-zogue-de-barriga-vermelha de fora.

Nossa intenção é a mesma que impulsionou a realização da mostra, como explica Fernão Prado, fotógrafo, empresário de ecoturismo e um dos curadores do evento: “Esta é, sem dúvida, uma excelente ferramenta para que a comunidade local conheça parte da nossa fauna. Só quem ama, cuida”. Está aqui uma ótima oportunidade para os nossos leitores também.

Transição, diversidade e ameaças 

Por ocasião da exposição, Lucas Eduardo Araújo Silva, biólogo e coordenador da Fundação Ecológica Cristalino (FEC), destacou que a região norte do Mato Grosso, onde está localizado o município de Alta Floresta, “é uma área de ecótono (transição) entre Amazônia e Cerrado, portanto, uma porção amazônica com alta diversidade biológica”. E salientou o que mostramos acima: “das 12 espécies que ocorrem na cidade, oito estão em algum grau de ameaça de extinção”.

E acrescentou: “O que estas espécies ameaçadas têm em comum é a sua distribuição. Ocorrem na calha sul do Rio Amazonas e são endêmicas de interflúvios” [áreas elevadas do relevo que separam dois cursos de água ou dois vales], “dentro do Arco do Desmatamento. A principal causa destas espécies estarem ameaçadas é a alteração de habitat devido ao desmatamento e ao uso do fogo, extraindo totalmente sua área de vida e/ou deixando habitats fragmentados e sem conexão”.

Entre Galhos e Olhares

A curadoria da exposição ‘Entre Galhos e Olhares’ foi realizada por Fernão, Lucas (que também é fotógrafo) e Eduardo Florense, fotógrafo morador de Alta Floresta e apaixonado pela vida selvagem, especialmente aves e mamíferos. 

Kacau Oliveira, fotógrafa e professora de fotografia de aves e natureza (em 2025, vai ministrar workshop na Fazenda Anacã, em Alta Floresta), foi responsável pela edição das imagens pós-curadoria e, também, participou da mostra. 

Os 12 primatas de Alta Floresta

A seguir, conheça as 12 espécies de primatasentre macacos, saguis (ou micos), bugios e cuxiós – que circulam pelas matas de Alta Floresta, na floresta densa preservada ou que ainda resiste às ameaças do desenvolvimento e nos fragmentos florestais que sobrevivem na área periurbana (transição entre periferia e cidade).

Um mais lindo que o outro e com peculiaridades muito interessantes, em 21 imagens. Todos, possíveis usuários das pontes de dossel que começaram a ser instaladas na cidade em outubro. Nos primeiros quinze dias, o sagui ou mico-de-schneider foi o primeiro a ser registrado se esbaldando numa das pontes, nos três níveis, como contei aqui.

BUGIO-DE-MÃOS-RUIVAS-DE-SPIX

Guariba-de-mãos-ruivas-de-spix ou guariba-de-mãos-vermelhas, esta espécie de bugio (Alouata discolor) é endêmica do Brasil Central, no sudeste da Amazônia, nos estados do Mato Grosso e do Pará. Ocorre principalmente na área entre quatro rios: Tapajós, Juruena, Xingu e Irirí. 

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo
Bugio-de-mãos-ruivas-de-Spix (Alouatta discolor): vulnerável
Foto: Guilherme Battistuzzo

Sua pelagem é negra por todo o corpo, exceto nas mãos, nos pés, no ápice da cauda e do dorso, que apresentam coloração castanho-avermelhada. 

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo
Bugio-de-mãos-ruivas-de-Spix (Alouatta discolor): vulnerável
Foto: Adrian Rupp

Na lista vermelha da IUCN é considerado vulnerável devido à redução populacional de mais de 30% nas últimas três gerações, devido à caça predatória e perda de habitat causada pelo desmatamento promovido pela indústria madeireira e à conversão de terras para pecuária e plantações de soja. E, também, ao impacto de duas grandes rodovias – Cuiabá-Santarém (que passa pelo Mato Grosso) e Transamazônica –, onde morrem por colisões veiculares. 

BUGIO-VERMELHO=DO-RIO-PURUS

Também chamado de Guariba-vermelho-do-rio-Purus (Alouatta puruensis) é uma espécie de bugio-vermelho nativa da Amazônia, com presença também no Peru. Ocorre nas florestas da bacia do rio Purus e do rio Madeira.

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo
Bugio-vermelho-do-rio-purus / Alouatta puruensis: vulnerável
Foto: Kacau Oliveira

Possui característica muito particular relacionada à pelagem: o macho tem coloração ruiva escura com o dorso levemente dourado, enquanto a pelagem da fêmea é toda de coloração mais clara, quase dourada. 

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo
Bugio-vermelho-do-rio-purus / Alouatta puruensis: vulnerável
Foto: Carlos Eduardo Carvalho

desmatamento (Mato Grosso, Rondônia e leste do Acre), a caça, a ocupação descontínua (Rondônia) e as rodovias BR-230 e BR-319 são as maiores ameaças para a espécie, cuja população diminuiu consideravelmente em três gerações, por isso é classificada como vulnerável pela IUCN.

A seguir, aprecie os registros dos fotógrafos que participaram da exposição Entre Galhos e Olhares,
além de Kacau, Eduardo e Lucas: Adrian Rupp, Alice Vigeta, Ana Carolina Aquino, Carlos Eduardo Carvalho, Guilherme Battistuzzo, Gustavo Canale, João Paulo Krajewski, Marcos Amend (querido amigo que participou, durante os primeiros cinco anos do nosso blog Por Trás das Câmeras), Rafael Ferraz Raphael Stori.

CUXIÚ-DE-NARIZ-VERMELHO

Endêmico do Brasil, o Cuxiú-de-nariz-vermelho (Chiropotes albinasus) ocorre apenas em pequenas áreas dos estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia. 

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo
Cuxiú-de-nariz-vermelho / Chiropotes albinasus: vulnerável
Foto: João Paulo Krajewski

A espécie sofre pressão da caça e é sensível à perda e fragmentação do habitat. A degradação ambiental em grande parte da região onde vive se intensificou devido à pecuária, à monocultura, à implementação de hidrelétricas – nos rios Teles Pires, Juruena, Tapajós e Madeira – e ao asfaltamento das rodovias BR-163 e BR-230.

Tudo isso levou ao declínio da população em cerca de 30% e à classificação pela IUCN como espécie vulnerável à extinção. 

Nas matas de Alta Floresta, no MT, vivem alguns dos primatas mais raros e ameaçados do mundo
Cuxiú-de-nariz-vermelho / Chiropotes albinasus: vulnerável
Foto: João Paulo Krajewski
MACACO-ARANHA-DE-CARA-BRANCA

Também conhecido como coatá-da-testa-branca ou macaco-aranha-de-testa-branca (Ateles marginatus) é uma espécie de primata do gênero Ateles, endêmico da Amazônia brasileira, mais especificamente dos estados do Pará e Mato Grosso, ocorrendo nas regiões entre o rio Tapajós e seu afluente, o rio Teles Pires, e no entorno do rio Xingu, ao sul do rio Amazonas. 

Macaco-aranha-de-cara-branca / Ateles marginatus: em perigo 
Foto: Guilherme Battistuzzo

A pelagem desta espécie de macaco-aranha é preta, exceto em área triangular branca, na testa, e em listras nas laterais da face. 

Mede aproximadamente 60 centímetros e sua cauda preênsil (que permite que o animal agarre ou segure objetos, além de se pendurar em galhos, deixando os membros livres) pode atingir 70 centímetros. A definição de macaco-aranha é uma referência aos membros e à cauda, que são muito longos e finos. 

Macaco-aranha-de-cara-branca / Ateles marginatus: em perigo 
Foto: Gustavo Canale

Nos indivíduos dessa espécie, os machos são maiores do que as fêmeas, e o peso varia de 5,8 a oito quilos. Na natureza, vive cerca de 20 anos; no cativeiro, pode chegar a 35 anos. 

Em 2008, o macaco-aranha-de-cara-branca foi incluído na Lista Vermelha da UICN/IUCN (União Internacional para a Conservação / International Union for Conservation of Nature) após avaliação que identificou redução de 50% de sua população em três gerações. Os motivos para esse declínio são a caça ilegal e a perda de habitat.

MACACO-ARANHA-DE-CARA-PRETA

Este primata da família Atelidaetambém conhecido como Coatá-preto ou macaco-aranha-preto (Ateles paniscus), é o mais popular do gênero Ateles. Vive na Floresta Amazônica e ocupa, quase sempre, a copa das árvores: é arborícola.

Macaco-aranha-de-cara-preta / Ateles chamek: em perigo
Foto: Kacau Oliveira

Alimenta-se de frutas, mel, folhas e outras partes de árvores e plantas. E vive em bandos, que podem reunir até 18 indivíduos. As fêmeas têm um filhote por ano. 

A espécie mede cerca de 60cm, chegando a pesar 8kg, e o macho é maior do que a fêmea. Para alertar sobre o local de alimentos e predadores, o macho se utiliza de um chamado, que pode ser ouvido a 500 metros.

Devido à caça e aos efeitos das alterações do clima na Amazônia, o macaco-aranha-da-cara-preta está em perigo, de acordo com a classificação da IUCN.

MACACO-DA-NOITE

Também chamado de macaco-coruja (Aotus infulatus), o macaco-da-noite é endêmico do Brasil, encontrado no Amapá, Mato Grosso, Pará, Maranhão, Tocantins e Piauí. De maneira geral, sua distribuição compreende a região do Arco do Desmatamento na Amazônia, mas também é também da Caatinga: primeiro registro tanto da espécie como do gênero aconteceu nos municípios de Caxingó e Buriti dos Lopes, no Piauí.

Macaco-da-noite / Aotus infulatus: pouco preocupante
Foto: Alice Vigeta

É um animal pequeno, arborícola, de hábitos noturnos, que estão relacionados à evolução de seus olhos grandes, adaptados a ambientes com ausência parcial de luz. 

Macaco-da-noite / Aotus infulatus: pouco preocupante
Foto: Lucas Eduardo Araújo Silva

Apesar de sofrer com a caça, os atropelamentos (rodovias e aumento na circulação de veículos) e a redução de seu habitat (também fragmentação) e devido ao desmatamento intensificado por atividades agrícolas, pela pecuária e pelas redes de geração e transmissão de energia, seu status na lista da IUCN é pouco preocupante.

MACACO-PREGO

Também chamado de mico-de-topete (Sapajus apella), esta é a espécie de primata mais comum na América do Sul, desde regiões amazônicas (a de Alta Floresta entre elas), até o sul do Paraguai e norte da Argentina.

Macaco-prego / Sapajus apella: pouco preocupante
Foto: Lucas Eduardo Araújo Silva

Bastante adaptável, pode ser encontrado em todos os tipos de vegetação: de florestas úmidas à savanas e ao semiárido, como a Caatinga, do nível do mar até 2.700 m de altitude.

Tem porte médio: pesa entre 1,3 kg e 4,8 kg e mede até 48 cm de comprimento, sem a cauda, que é preênsil, mas não tem a destreza do macaco-aranha: anda com as quatro patas. 

Macaco-prego / Sapajus apella: pouco preocupante
Foto: João Paulo Krajewski

Seu nome se deve ao formato do pênis quando ereto: parece um prego. Curiosamente, o clitóris se assemelha ao pênis, dificultando a identificação do sexo quando jovens. 

Pouco preocupante é seu status de conservação, de acordo com a classificação da IUCN.

MACACO-DE-CHEIRO

Também conhecido como mico-de-cheiro (Saimiri ustus), é uma espécie endêmica da Amazônia, ocorrendo nos estados do Amazonas, Rondônia, Mato Grosso e Pará, onde estima-se que vivam 10 mil indivíduos adultos da espécie.

Mico-de-cheiro / Saimiri ustus: quase ameaçada
Foto: Rafael Ferraz

Vive em bandos de 20 a 75 indivíduos, podendo chegar a 100. Pesquisadores acreditam que, quando os grupos são extremamente grandes, podem ser resultado de associações temporárias de grupos distintos. 

Habita florestas sazonalmente inundáveis (como várzea e igapó) e florestas de galeria, mas, também, ocorre em florestas de terra firme, no cerradão e florestas de transição Amazônia/Cerrado.

A espécie se alimenta de frutos e insetos como gafanhotos, borboletas, lagartas, cigarras e aranhas. E também podem consumir flores, néctar, sementes, ovos de pássaros e pequenos vertebrados como pererecas e lagartos.

Na lista vermelha da IUCN, está classificado como quase ameaçado. Sua vulnerabilidade está relacionada à degradação e desconexão do habitat na região onde vive, no Arco do Desmatamento, que é pressionado pela expansão agrícola e urbana, assentamentos rurais, agricultura, pecuária, além do aumento da matriz energética e da malha viária.

SAGUI-DE-SNETHLAGE

Também conhecido como Mico emiliae, o sagui-de-snethlage ocorre do norte do estado do Mato Grosso (em especial no Parque Estadual Cristalino, na margem direita do Rio Teles Pires)até o sul do Pará, em floresta tropical primária e secundária de terras baixas.

Sagui-de-snethlage (Mico emiliae): pouco preocupante
Foto: Guilherme Battistuzzo

O sagui-de-Snethlage tem focinho rosa, levemente pigmentado. A pelagem é macia e varia de cinza prateada a marrom alaranjada, além de uma mancha escura e preta no alto da cabeça e a testa, as bochechas e o queixo esbranquiçados.Tem orelhas grandes, sem tufos, mas com pelos castanhos finos e espalhados. A cauda é preta e apresenta alguns centímetros em tom amarronzado.

Sagui-de-snethlage (Mico emiliae): pouco preocupante
Foto: Gustavo Canale

Devido à sua ampla distribuição geográfica, esta espécie foi classificada pela IUCN como Menos Preocupante

SAGUI-DE-SCHNEIDER

Descrito em 2021 em artigo científico na Scientific Reports, o Sagui-de-schneider ou Mico-schneideri (nome cientifico) foi batizado em homenagem a Horácio Schneider, biólogo e geneticista paulista, falecido em 2018, pioneiro na pesquisa sobre diversidade e evolução de primatas.

Sagui-de-schneider (Mico schneideri): em perigo
Foto: Kacau Oliveira

A espécie é endêmica do Brasil, ocorrendo apenas na floresta amazônica do estado do Mato Grosso, entre os rios Juruena e Teles Pires, em municípios como Alta Floresta e Paranaíta.  

Sagui-de-schneider (Mico schneideri): em perigo
Foto: Marcos Amend

Vive em floresta de terra firme e áreas de Amazônia em transição para o Cerrado, inclusive em florestas degradadas. Seu status de conservação ainda é desconhecido, no entanto, ele habita áreas do chamado Arco do Desmatamento, onde os índices de destruição da floresta são altíssimos e a expansão agropecuária avança sobre a Amazônia, então pode ser considerado em perigo.

ZOGUE-ZOGUE-DE-ALTA-FLORESTA

Esta espécie de zogue-zogue é endêmica do Mato Grosso. Foi avistadapela primeira vezem 2012, “em matas vizinhas ao município, perto da divisa do estado com o Pará”, mas descrito apenas em 2019 pelos pesquisadores (entre eles, Gustavo Canale, que participou da exposição) que o encontraram numa área muito delimitada entre os rios Juruena e Teles-Pires, em Alta Floresta. 

Zogue-zogue-de-alta-floresta / Plectorocebus grovesi (criticamente ameaçado)
Foto: Ana Carolina Aquino
Zogue-zogue-de-alta-floresta / Plectorocebus grovesi (criticamente ameaçado)
Foto: Raphael Storti

Ganhou o nome científico de Plecturocebus grovesi em homenagem ao professor britânico Colin Groves, uma das maiores autoridades mundiais em taxonomia de primatas do mundo. 

Inicialmente, foi chamado de zogue-zogue de Mato Grosso, mas logo tornou-se símbolo de Alta Floresta e ganhou, de conservacionistas, o nome popular zogue-zogue-de-alta-floresta. Na Wikipedia é apresentado com os dois nomes.

Vive na copa das árvores e se movimenta com o auxílio de sua cauda preênsil, que se prende em galhos e troncos, deixando suas mãos e pés livres. É encontrado em grupos familiares e tem hábitos diurnos. 

Sua pelagem tem tons avermelhados no dorso e nas costas, enquanto na face e nos membros é cinza.

Consome frutas e folhas, ajudando na dispersão de sementes. E, como seu habitat já está 86% devastado, foi classificada na lista vermelha da IUCN como criticamente ameaçado, tendo nascido nessa condição. 

A presença do zogue-zogue-de-alta-floresta já é motivo de orgulho para os moradores do município, o que também contribui para a conscientização sobre sua importância para o ecossistema e a participação ativa de todos em sua proteção

Logo, logo – quando estiver passeando pelas pontes de dossel instaladas em outubro pela bióloga Fernanda Abra e seu Projeto Reconecta (contei aqui) -, deve se tornar um dos animais mais desejados de avistar pelos turistas

ZOGUE-ZOGUE-DE-BARRIGA-VERMELHA

Esta espécie de zogue-zogue (Plecturocebus moloch) é endêmica da América do Sul, em especial do Brasil, ocorrendo em florestas tropicais de terra firme neotropicais perenes, florestas de várzea e florestas de pântanos de água doce.  

Zogue-zogue-de-barriga-vermelha (Plecturocebus moloch): pouco preocupante
Foto: Christopher Borges / Wikimedia Commons

Como é muito adaptável e resistente, também sobrevive em bordas de florestas e pântanos, bem como em florestas ameaçadas pelo desmatamento, por barragens, rodovias e mineração. Sua distribuição é confinada pelas imponentes montanhas dos Andes, e se estende a leste até o Cerrado brasileiro.

É um primata pequeno e peludo, de cabeça arredondada, com corpo de 28 a 39 cm de comprimento e cauda maior que o corpo (33 a 49 cm). A pelagem é grossa e macia e varia entre os tons cinza acastanhado e laranja/vermelho.

Tem hábitos diurnos e se move em pares ou grupos familiares. Se alimenta de frutos – até 100 espécies diferentes! -, de preferência bem pequenos. Também come folhas (apenas brotos ou folhas jovens) e outras partes de plantas, além de invertebrados como mariposas, borboletas, casulos, aranhas e formigas, em especial na estação seca.

O zogue-zogue-de-barriga-vermelha está classificado no site da IUCN como pouco preocupante.

________

Também fizeram parte da organização da exposição ‘Entre Galhos e Olhares’: Fernanda Abra (Projeto Reconecta), José Alessandro Rodrigues (diretor de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Meio Ambiente de Alta Floresta), Josana Salles (coordenadora de comunicação da FEC) e Maelle Lima de Freitas (UNEMAT).

_________
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular

Foto: João Paulo Krajewski (cuxiú-de-nariz-vermelho)

Com informações do biólogo Lucas Araújo (Fundação Ecológica Cristalino), IUCN, Biofaces, ICMBio, New England Primata Conservancy, Science Direct, Scientific Reports

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor