Monumento Natural das Ilhas Cagarras, no RJ, celebra 15 anos e anuncia primeiro trecho oceânico da Trilha Transcarioca

Ontem, 13 de abril, o Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MONA Cagarras) completou 15 anos de criação e celebrou a data com ótimas notícias: o anúncio de implementação do primeiro trecho oceânico da Trilha Transcarioca e a inauguração oficial de sua primeira embarcação.

O arquipélago é composto por quatro ilhas (Palmas – foto abaixo), Comprida, Cagarra e Redonda) e duas ilhotas (Filhote da Cagarra e Filhote da Redonda), além de uma área de 10 metros de área ao redor de cada uma delas. 

Com 91,23 hectares, a área de preservação marinha está localizada a cerca de 5 km da praia de Ipanema e é uma das 340 Unidades de Conservação Federais (UC) gerenciadas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 

Em 2010, ganhou status de Monumento Natural para que fossem preservados os remanescentes do ecossistema insular da Mata Atlântica, além das belezas cênicas e da área de refúgio e nidificação de aves marinhas.

“O MONA Cagarras ainda está debutando no mundo da conservação marinha e nós estamos muito felizes hoje. Nesses anos, consolidamos a importância da UC para o ecossistema marinho e insular do Rio”, destacou Tatiana Ribeiro, chefe da UC. “Trabalhamos muito para conhecer e proteger a rica biodiversidade do arquipélago, ordenar e melhorar as experiências dos visitantes, reduzindo seus impactos negativos, e, recentemente, adquirimos a nossa primeira embarcação, apresentada oficialmente hoje e que auxiliará ainda mais a nossa gestão”.

Considerada uma conquista simbólica que marca este aniversário, a primeira embarcação do monumento é uma lancha inflável cabinada (foto abaixo) com capacidade para até 13 pessoas, equipada com dois motores de 200hp, que foi adquirida pelo ICMBio com recursos de compensação ambiental. Com ela, a UC ganha maior autonomia e amplia sua presença institucional, aprimorando sua gestão e garantindo a manutenção dos progressos obtidos até agora.

A divulgação dessas conquistas aconteceu durante evento realizado no último domingo (13) no posto 6, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, que teve atracões como exposições de exemplares de animais marinhos (cedidos pelo Museu Nacional) e de fotos e maquetes (em parceria com o Projeto Ilhas do Rio/Instituto Mar Adentro e Instituto Mar Urbano), além de bolo de aniversário temático e aulas lúdicas com a bióloga Luciana Fuzetti, vestida de sereia – que apresentou alguns animais marinhos vivos como baiacu, ouriço-do-mar e estrela-do-mar do projeto Mar de Conhecimento – e com os pescadores Marcos Santana e Marcos Antônio de Sousa sobre pesca artesanal e sustentável.

Rio ganha trilha oceânica

A Transcarioca é uma trilha de longo curso do Rio de Janeiro, inaugurada em dezembro de 2017 (contamos aqui) com 180 km de extensão, que sai da Barra de Guaratiba, na Zona Oeste do município, e termina no Morro da Urca, aos pés do Pão de Açúcar, na Zona Sul. 

Agora, com o primeiro trecho oceânico implementado a partir da adesão da trilha da Ilha Comprida, a Transcarioca avança para o mar. Mas o projeto não é recente: segundo o ICMBio, a trilha foi desenhada há muitos anos, junto com diversos conselheiros da UC, e é uma iniciativa prevista no Plano de Manejo e no Plano de Uso Público do MONA Cagarras. 

“Nosso planejamento é inaugurar, em agosto, um circuito de trilha na Ilha Comprida, que é uma das quatro grandes ilhas que formam o MONA Cagarras. A caminhada será sobre o costão rochoso e em pequenas áreas da Mata Atlântica insular”, conta Breno Herrera, gerente da GR4 do Sudeste do ICMBio.

O que ainda falta concluir: a sinalização da trilha, a elaboração de placas interpretativas e o trabalho final de credenciamento dos condutores, que estarão autorizados a levar os turistas até a Ilha Comprida.

Herrera explica: “Estão sendo finalizados alguns ajustes, envolvendo o conselho gestor do MONA e do Mosaico Carioca, como, por exemplo, o modelo de visitação a ser adotado – que deve ser um modelo autoguiado, onde o visitante possa, por exemplo, contratar um guia na colônia Z13 ou escolher uma das empresas que já operam o turismo e são credenciadas pelo MONA Cagarras para transportar os visitantes. A partir daí, a pessoa chega até a Ilha Comprida, faz o desembarque e se conecta com o trecho insular da Transcarioca, seguindo toda a sinalização que já estamos instalando”.

Um pouco mais sobre o MONA Cagarras

Esta UC foi a primeira unidade de proteção federal marinha implementada no Rio de Janeiro. Juntas, todas as Unidades de Conservação Federais Marinhas protegidas pelo ICMBio representam cerca de 25% da área marinha do Brasil.

Em 15 anos, o MONA Cagarras conquistou avanços ambientais históricos como a obtenção, em 2021 (com o apoio técnico-científico do projeto Ilhas do Rio) do título de Hope Spot (Ponto de Esperança, em tradução livre), concedido pela organização Mission Blue, aliança mundial liderada pela referência internacional em conservação marinha, Sylvia Earle (contamos aqui).

A certificação sinaliza ambientes marinhos com alta biodiversidade, mas que estão ameaçados e precisam de proteção. As Cagarras contam com proteção federal há 15 anos, desde que se tornaram Monumental Natural.

No Brasil, além do MONA Cagarras, dois outros locais possuem a certificação da Mission Blue: o Banco dos Abrolhos, na Bahia, e a Ilha de Alcatrazes (como contamos aqui). No mundo todo são 165 Hope Spots.

No MONA Cagarras está o maior ninhal de fragatas (Fregata magnificens) do Atlântico Sul, com cerca de 10 mil aves desta espécie, apenas, além de uma fauna variada, com insetos, répteis e anfíbios. No que se refere à flora, a proteção incide sobre a Mata Atlântica insular, com espécies ameaçadas de extinção. 

No Monumental Natural tem sido intensificado o combate a espécies exóticas invasoras a partir de planejamento operacional, que abrange prevenção, controle, monitoramento, erradicação e comunicação, incluindo o manejo do Coral-Sol (Tubastraea spp).

Originário dos oceanos Pacífico e Índico, esse coral precisa ser controlado, do contrário pode matar ou deslocar espécies nativas do mar carioca, como mariscos, esponjas, algas e corais endêmicos da região. 

A UC preserva rica biodiversidade marinha e insular, que inclui espécies endêmicas, ameaçadas de extinção e com potencial de uso econômico e farmacêutico, entre elas estão o cavalo-marinho(Hippocampus reidi) e a tesourinha (Chromis multilineata). 

O MONA Cagarras também se caracteriza por ser um santuário para as aves marinhas, abrigando não só uma das duas principais colônias reprodutivas de fragatas do Atlântico Sul (como contamos acima), como também a segunda maior população de atobás-marrom (Sula leucogaster – foto abaixo) da costa brasileira. E, além de representar área de fundamental importância para estas espécies, serve de abrigo para descanso, alimentação e reprodução para outras 49 espécies de aves. 

O arquipélago ainda é um dos melhores abrigos na costa da cidade do Rio de Janeiro para baleias e golfinhos e um referencial geográfico para orcas.

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Foto (destaque): Fernando Moraes / Projeto Ilhas do Rio