Na semana passada, correu a notícia de que a Brooksfield Dona, uma marca de luxo pertencente ao grupo Via Veneto, foi flagrada praticando trabalho escravo em oficina na zona leste de São Paulo.
Na ocasião, foram encontradas péssimas condições de higiene e verificou-se que cada trabalhador, incluindo uma adolescente de 14 anos, recebiam apenas R$ 6 por peça costurada. Na loja da marca, uma blusa simples ultrapassa facilmente o valor de R$ 300.
Infelizmente, este não é um caso isolado. Dezenas de outras marcas de roupa sofrem autuações e se defendem de processos que apontam irregularidades na contratação de terceiros e fornecedores, especialmente no que se refere à prática de trabalho escravo e exploração infantil.
Isso acontece no Brasil e no mundo. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que mais de 21 milhões de pessoas são submetidas ao trabalho escravo, sendo a maioria mulheres e meninas. A exploração sexual reúne cerca de 22% das vítimas, cuja maioria absoluta é mulher. Já a indústria têxtil, as áreas de agricultura, construção e trabalho doméstico são responsáveis por 68% da prática ilegal.
Na China, tive a oportunidade de visitar uma fábrica têxtil na companhia do gerente da Fair Wear Foundation, uma organização europeia sem fins lucrativos que, a pedido de grandes marcas de roupa e acessórios, fiscaliza e gerencia as fábricas localizadas em países em desenvolvimento, como Índia, Tunísia e China, garantindo que sejam cumpridos os requisitos trabalhistas e sejam respeitados os direitos humanos dos trabalhadores.
Nesse dia, conheci jovens chinesas que trabalham na produção de estojos de maquiagem (a foto que abre este post foi feita lá) . Pouca claridade, calor, um trabalho repetitivo e mal remunerado. Ainda assim, tratava-se de uma fábrica adequada aos requisitos mínimos, o que me fez imaginar como seria caso não os cumprisse, que é a realidade da grande maioria.
Além disso, a Fair Wear Foundation vem implementando políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, que costuma ocorrer com bastante naturalidade em qualquer ambiente, especialmente quando falta fiscalização, comprometimento e cumprimento de premissas básicas. As mulheres são submetidas não somente ao trabalho escravo, mas também a abusos sexuais e assédio em suas mais variadas formas.
No Brasil, a organização Repórter Brasil – que tem à frente o jornalista e ativista Leonardo Sakamoto – faz um trabalho excelente no combate ao trabalho escravo e, assim como a Fair Wear Foundation, contribui publicamente para que os consumidores possam fazer escolhas conscientes e responsáveis, por meio do aplicativo Moda Livre, disponível nos sistemas iOS e Android.
Baixando o aplicativo no celular é possível conferir quais marcas estão isentas de práticas ilegais e quais respondem a processos por trabalho escravo ou análogo à escravidão.
A moda também é uma manifestação política, talvez a mais explícita delas. Portanto, não há como advogar pela equidade de gênero sem considerar que enquanto parte de nós ainda estiver sendo privada, literalmente, de suas escolhas, sem que façamos nada contra isso, não há outro mundo possível.
Agora, deixo você com a palestra de Leonardo Sakamoto no TEDxPraçaDasNações, realizado em fevereiro na sede das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, do qual participaram líderes de iniciativas que estão transformando vidas. Ele é um exemplo. Lá, contou sobre as práticas da escravidão contemporânea no Brasil e do aplicativo Moda Livre que está ajudando a mudar essa realidade no segmento de moda.
Leia também:
Marca de luxo é responsabilizada por trabalho escravo (Repórter Brasil)
#SomosLivres: com apoio de Wagner Moura, campanha luta contra mudanças na legislação
A face da escravidão contemporânea