Escrevi pela primeira vez sobre a Zerezes em 2014. Na época, contei como tinha nascido a marca de óculos carioca, criada três anos antes por quatro jovens amigos – e idealistas – do Rio de Janeiro, que estudavam juntos na mesma faculdade. “Tínhamos referências parecidas e saberes complementares”, dizia Luiz Eduardo Rocha, um dos fundadores.
A história da produção dos óculos começou pelas ruas da cidade. “Foi um acaso. Encontrávamos madeiras em abundância em caçambas e entulho de obras. Com o tempo fomos entendendo o valor delas, muitas eram nobres”, relembrou Luiz Eduardo. “Percebemos que poderíamos trabalhar com o que estava sendo descartado”.
Nas hastes dos óculos, fabricados artesanalmente com estas sobras de madeira, era registrado o nome da rua onde a matéria-prima – que teria o lixo como destino – tinha sido encontrada. Quem comprava o produto, sabia exatamente de onde ele havia surgido porque ali estava gravado: rua do Ouvidor, rua São Sebastião . “É a oportunidade de contar um pouquinho mais da história daquela madeira e levar isso para o produto”, acreditava o designer carioca.
Oito anos depois, com cinco lojas próprias no Rio de Janeiro, vendas online, revendedores em outros estados e até, no exterior, a Zerezes continua comprometida com a sustentabilidade. Em nova coleção, decidiu utilizar outro resíduo para fabricar seus óculos: canudos de plástico!
“A ideia surgiu por causa dessa notoriedade que o canudo tem. Assim como o mico-leão-dourado foi um símbolo dos animais em perigo de extinção, o canudo representa a categoria dos plásticos descartáveis, de uso único, que a gente utiliza por minutos e depois ficam aí poluindo o meio ambiente por séculos”, revela Hugo Galindo, diretor criativo da marca.
O projeto para a reutilização dos canudos nos óculos da Zerezes começou há dois anos (antes do produto ser proibido no Rio de Janeiro), em parceria com a designer Juliana Lattuca. “Um dos objetivos era levar também a conscientização sobre esse tipo de material para as pessoas e provocar uma mudança de comportamento“, destaca Hugo.
Cada óculos é produzido com 35 canudos plásticos reciclados. Primeiramente, eles são moídos e depois injetados em moldes. Após essa fase, seguem o processo de montagem tradicional.
Nenhum dos pares da edição limitada possui exatamente a mesma cor. Em geral apresentam um tom rosa, mais alguns ficam mais vermelhos, outros mais brancos.
O primeiro lote da coleção foi feito com doações de canudos vindos de estabelecimentos comerciais cariocas, que não podiam mais usar os produtos por causa da lei*.
A marca planeja, em breve, começar a usar outros plásticos também. “O dia em que a gente não tiver mais canudo para trabalhar será um prazer porque significa que o mundo está caminhando na direção que a gente acredita ser a ideal”, ressalta o designer.
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*Quem quiser doar canudos plástico para a Zerezes é só entrar em contato com a marca através de seu site ou nas páginas do Facebook e Instagram.
Fotos: divulgação Zerezes