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Marca brasileira de moda produzida com algodão orgânico da Paraíba recebe certificação europeia

Este mês, a empresária Francisca Vieira levou sua marca Natural Cotton Color, da Paraíba à Milão, cidade italiana que é símbolo de luxo e vanguarda, para participar do evento The Sustainable & Ethical Show Room, onde apresentou modelos de sua nova coleção e recebeu uma certificação muito especial: o selo Friend of the Earth (‘Amigo da Terra’ em tradução livre).

Concedido pela World Sustainability Organization (WSO), o selo foi criado em 2016 para certificar produtos de agricultura e pecuária sustentáveis, mas logo a organização desenvolveu requisitos de certificação para roupas e produtos de moda sustentáveis, sendo reconhecido em mais de 50 países.

Francisca Vieira e a certificação Friend of the Earth, da World Sustainability Organization, em Milão, Itália / Foto: divulgação

O objetivo da certificação desse setor é “estimular e favorecer a mudança em direção a uma moda mais respeitosa com o meio ambiente e com os trabalhadores”, como explica Paolo Bray, fundador e diretor da WSO.

Para conquistar o selo Friend of the Earth – que tem validade de três anos -, a Natural Cotton Color passou por intenso processo de verificação e, em 2024, passará por nova auditoria, como acontece com todas as marcas certificadas, que, entre outros benefícios, contam com ações de marketing que ajudam na promoção e ativação das vendas no mercado internacional. 

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Bray destaca que a sustentabilidade é um dos impulsionadores de compra de cerca de 75% dos consumidores.

“São inúmeras as iniciativas das marcas para uma produção mais sustentável do ponto de vista ambiental e social, mas o consumidor fica obviamente confuso ao buscar um produto sustentável. O selo ajuda a identificar os que são auditados, garantindo mais segurança na escolha”.

Inovação nos tecidos

O desfile organizado pela WSO em Milão reuniu mais de dez marcas oriundas dos quatro continentes, entre elas a Natural Cotton Color, que apresentou 20 looks (composições produzidas com vestidos, saias, calças, coletes, camisas, acessórios): 14 femininos e seis masculinos.  

Entre as peças apresentadas – a maioria produzida com tecidos planos feitos em tear manual -, há inovações têxteis como o jacquard de algodão colorido orgânico e seda e o Denim colorido, exclusivo da marca, que não tem tingimento. Este é um tecido diferenciado, com patente requerida no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)

Ensaio na Pedra do Ingá / Foto: divulgação

A coleção ainda oferece técnicas artesanais, destacando-se o bordado labirinto aplicado por artesãs diretamente sobre as peças. O programa de artesanato do município de Ingá foi implantado para salvaguardar essa técnica que é patrimônio imaterial e cultural do Estado da Paraíba.

As bordadeiras especialistas em ‘labirinto’, em ensaio na Pedra do Ingá / Foto: divulgação

E Francisca ainda acrescenta: “O arranjo produtivo em Ingá reúne mulheres com perspectivas de geração de renda por meio da moda, que tem mais valor agregado. Isso tem atraído as mais jovens e pode garantir que a técnica continue viva”. 

Mas tem mais: “O labirinto aproxima as mulheres desta área rural, onde as casas são muito afastadas uma das outras, fortalecendo o senso de comunidade e de colaboração entre elas”. 

As bordadeiras de ‘labirinto’, em ensaio na Pedra do Ingá / Foto: divulgação

Rastreamento por aplicativo 

Mas a inovação da Natural Cotton Color vai além dos tecidos utilizados: está também em seu rastreamento e permite a leitura de informações como geolocalização, origem e processo de produção diretamente pelo consumidor, já que pode ser realizada no tecido por meio de um aplicativo que pode ser instalado no celular. 

“O código de rastreamento não afeta o design do produto pois só é visto com luz ultravioleta, não perceptível ao olho humano”, explica Francisca. A tecnologia foi desenvolvida pela startup R-Inove Soluções Têxteis em parceria com o SENAI CETIQT e o Senai Paraíba. E a empresária completa:

“A tecnologia e as certificações são ferramentas poderosas que podem garantir que a indústria tenha mais consciência e responsabilidade em suas escolhas”. 

O algodão orgânico da Paraíba, certificado

O algodão orgânico produzido nesse estado é a base da produção da Natural Cotton Color e resulta de vários arranjos produtivos, mas o destaque fica por conta do que está localizado em Ingá.

Nesse município, a produção é realizada por agricultores familiares e quintuplicou em apenas um ano: hoje, alcança 46 hectares, segundo a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (EMPAER).

Importante destacar que, mesmo com o clima semiárido da região, que fica na Caatinga, onde as chuvas são escassas, o algodão é cultivado sem irrigação e sem defensivos químicos. E já nasce colorido – em tons que vão do bege ao marrom -, dispensando tingimentos. Isso gera economia de 87,5% de água no processo têxtil e de confecção, em comparação a uma peça similar, tingida pela indústria, de acordo com informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

E tem mais um detalhe interessante: o algodão de Ingá já tem certificação internacional de produto orgânico – o selo Ecocert -, que chancela produtos de empresas que respeitam os princípios da sustentabilidade, o que chama a atenção do mercado pelo mundo.

Desfile da Natural Cotton Color realizado no Dia do Campo, em 12 de setembro, para os agricultores familiares, para que vissem como o algodão que cultivam se transforma em produtos de moda / Foto: divulgação

Em agosto, representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) visitaram os campos de algodão em Ingá para conferir o programa socioambiental e de preservação cultural da região. 

Francisca diz, orgulhosa: “Nosso algodão é cultivado pela agricultura familiar com contrato de compra garantida. O preço pago por quilo é o maior do Brasil”. E acrescenta: “O município de Ingá é um grande impulsionador da produção de algodão consorciado com outros produtos como milho, feijão e fava, o que ainda garante a segurança alimentar”. 

Foto: divulgação 

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