O jovem Dorivan do povo Guajajara da Terra Indígena Arariboia (TIA) – a mesma onde morava Paulo Paulino, assassinado no início de dezembro – foi encontrado morto e esquartejado na cidade de Amarante, no Maranhão. De acordo com a Apib – Articulacao dos Povos Indígenas Brasileiros, outro homem – “um crioulo não indígena”- também foi encontrado morto próximo de Dorivan.
Veículo de imprensa – que prefiro não citar – deu uma versão dos fatos que me parece “plantada”, como aconteceu com os brigadistas, quando foram presos. Parte da imprensa preferiu acusá-los, sem provas, com base nas falácias ditas pela polícia civil. Quero então aproveitar esta noticia triste para falar, mais uma vez, da escalada da violência contra os povos indígenas. E dar voz para a Apib, para Sonia Guajajara, para o Instituto Socioambiental (que publicou texto sobre mais este crime) e para todos que se indignam a cada violência perpetrada com base na certeza da impunidade.
Os povos e guardiões da floresta estão sendo atacados constante e brutalmente devido às declarações do presidente e de outros membros deste governo. Os criminosos se sentem protegidos para atacar e matar, mesmo durante o dia, porque sabem que continuarão livres e até poderão ser aplaudidos por sua proeza. Mas é fato que “um ataque brutal contra os povos indígenas vem tomando conta do Maranhão”, como declarou a Apib, em nota, em suas redes sociais.
Desde que assumiu o governo, Bolsonaro não fez outra coisa se não desestruturar órgãos de fiscalização e proteção, em qualquer instância. Neste caso, a Funai, que está enfraquecida e longe de lutar pelos direitos dos indígenas, sob o comando de gente que não conhece a política indigenista. Isso é estratégico, claro.
A menos de uma semana, quando um grupo de indígenas Guajajara foi atacado e dois mortos na rodovia BR-226, que corta as aldeias Boa Vista e El Betel, o governo do Maranhão mobilizou as polícias civil e militar e a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) para acompanhar o caso.
Mas é bom lembrar que, por causa da escalada de violência contra indígenas no Maranhão, em novembro, o governador Flavio Dino criou uma Força Tarefa de Proteção à Vida Indígena (FT-VIDA), a partir de decreto. Na ocasião, ele explicou que o objetivo era “auxiliar os órgãos federais em dificuldades e para atender emergências em terras indígenas”. Resta saber como essa Força pode, efetivamente, ajudar a evitar mais mortes no estado e, em especial, nas terras dos Guajajara.
E por onde andará a Força Nacional de Segurança Pública, autorizada pelo juiz Sergio Moro a agir na região, logo após os assassinatos de Firmino e Nelci, para garantir a integridade física e moral dos indígenas, dos servidores da Funai, dos não-indígenas?
A líder indígena Sonia Guajajara, coordenadora da Apib, tem comentado diariamente, em suas redes sociais, sobre os crimes brutais. Fez uma jornada de mais de 20 dias pela Europa para pedir que governos e empresas deixem de patrocinar o desmatamento e o genocídio desses povos, se negando a comprar produtos oriundos dessas regiões.
Hoje, Sonia publicou sobre mais este massacre: “São muitas falácias, muitas versões, acusações. Não interessa! Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém! Não é apenas um cenário de guerra, estamos num campo de batalha onde o ódio disseminado pelas forças políticas conservadoras, autoritárias, racistas são estimuladas pelo fascismo que já extrapolou todos os seus limites”.
Sim, é preciso urgente de um basta, como declara a Apib, pois “vidas estão sendo tiradas e outras colocadas em risco em nome da ganância”. Por muito pouco.
Foto: Reprodução Instagram / Jornada Sangue Indígena