
O parque aquático Marineland Antibes – o maior da Europa, que se apresentava como ‘como o primeiro zoológico marinho do continente, estabelecido nos anos 70, na Riviera Francesa, no sul do país -, anunciou, no início de dezembro, que encerrará suas atividades em 5 de janeiro.
A decisão é resultado de anos de campanhas incansáveis realizadas por organizações de proteção animal, como a PETA-França e One Voice, e um marco na luta contra o cativeiro de animais marinhos e para a conscientização sobre a crueldade que implica o confinamento.
Tais ações levaram a uma queda importante de público – que, em dez anos, passou de 1,2 milhão para 425.000 visitantes/ ano –, além do temor das consequências da implementação da lei francesa de 30 de novembro 2021 contra maus-tratos a animais, que, entre outras medidas, proíbe espetáculos envolvendo mamíferos marinhos no país a partir de dezembro de 2026, como também a reprodução em cativeiro.
Mas, ao mesmo tempo em que celebram a decisão, ambientalistas e animalistas temem pelo paradeiro dos 4 mil animais que a instituição abriga. São 150 espécies diferentes, que, além de orcas, incluem golfinhos, leões-marinhos, tartarugas, ursos polares, pinguins, tubarões e outros peixes, a maioria nascida em cativeiro.

e cujo paradeiro ainda é desconhecido
Fotos: Marineland/divulgação


Com um detalhe: a morte de orcas e o plano do parque de transferir as duas restantes (Wikie, 23 anos, e seu filho Keijo, de 11) para o Japão –, certamente para o parque aquático Kobe Suma SeaWorld, onde provavelmente seriam separados um do outro e usados para reprodução –, causaram protestos e provocaram a reação de Agnès Pannier-Runacher, ministra da Transição Ecológica do governo francês, que se opôs à transferência devido às leis japonesas sobre “bem-estar-animal”.

fossem enviados para o Japão, certamente para outro parque aquático
Foto: Marineland / divulgação
O relatório final do governo sobre o caso das orcas sentenciou: “O bem-estar animal sendo a principal razão pela qual o legislador votou para fechar os centros de apresentação de cetáceos em cativeiro ao público, a garantia desse bem-estar deve ser um critério fundamental na escolha do destino dos cetáceos do Marineland”.
Justiça impede envio de orcas para parque do Japão
A Justiça analisou o caso e o Tribunal de Aix-en-Provence, 758 km ao sul de Paris, decretou que a administração do parque deveria ficar com os dois animais, pelo menos “até o final de uma perícia sobre suas condições de vida”, sob pena de multa de € 15.000 por dia e por animal. E um tribunal de segunda instância manteve a decisão.
Explico sobre a perícia: em setembro de 2023, no final de uma longa batalha jurídica liderada pela ONG One Voice, a Justiça ordenou uma perícia sobre as condições de vida das orcas: uma morreu de septicemia, em outubro do mesmo ano e, a outra – Inouk, de 25 anos – após a ingestão de um pedaço de metal, em março deste ano.
Muriel Arnal, presidente da One Voice, declarou, na ocasião, que “quer o Marineland feche ou não, deve assumir a responsabilidade por seus animais e não jogá-los no lixo como coisas velhas”. Lembrou, ainda, que Keijo tinha acabado de completar 11 anos, sua mãe Wikie tinha 23 e que “elas têm 60 anos de expectativa de vida pela frente”. Isso se forem levadas para santuários marinhos, como reivindica o PETA, pois, no cativeiro, dificilmente ultrapassam os 30 anos de vida.
Santuário no Canadá
Em nota à imprensa, o parque aquático Marineland diz que se vê “forçado a considerar se separar das baleias” antes da implementação da lei de 2021 contra o abuso de animais, “que limitará as possibilidades de manter orcas em cativeiro”.
Por isso, anunciou que sua prioridade é “realocar todos os animais nas melhores estruturas existentes” e “negociar nas próximas semanas, com os sindicatos, as consequências sociais deste projeto de fechamento”.
Quando se manifestou contra a decisão do parque de enviar Wikie e Keijo para o Japão, Agnès Pannier-Runacher levantou a hipótese de as orcas serem transferidas para parques que respeitem as “regulamentações europeias”, como o de Tenerife, no arquipélago espanhol das Canárias.
Mas a ideia foi rapidamente rejeitada por Arnal, da One Voice, porque “o parque na Espanha é igual ao do Japão”, com “piscinas muito pequenas onde as orcas brigam”. Segundo a ativista, o parque espanhol “perdeu quatro orcas em quatro anos”. A última delas, no final de novembro deste ano.
A ONG faz um apelo para que as orcas de Antibes sejam enviadas a um santuário na Nova Escócia, no leste do Canadá, criado pelo Whale Sanctuary Project (WSP), projeto administrado, desde 2016, por ONGs e cientistas.
A instituição está se preparando para receber cetáceos que nasceram em cativeiro e não se adaptariam à vida em liberdade no mar. O objetivo do projeto é oferecer, às orcas, ambientes naturais e protegidos, com características muito próximas ao seu habitat.
Sempre que um parque zoológico fecha as portas, a alegria vem carregada de apreensão. O mesmo acontece com o parque Beto Carrero World, que anunciou seu fechamento em junho de 2024 e se negou a dizer para onde os animais que abrigava seriam enviados.
O importante é não esmorecer e pressionar, como fazem as ONGs especializadas, que não dão um minuto de sossego para os administradores dos parques aquáticos, que nunca deveriam ter sido permitidos em local nenhum do mundo.
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Foto (destaque): Marineland / divulgação
Com informações da RFI