
No sábado, 1 de agosto, de acordo com o Consórcio de Veículos de Imprensa, o país registrou 2,6 milhões de infectados e mais de 93 mil mortos por Covid-19. Cerca de 1.017 óbitos em média.
Uma realidade cruel que, depois de quatro meses de pandemia, parece não comover muita gente. A maioria tornou-se insensível à morte e esquece que, cada pessoa que morre, é alguém que tem nome, família, amigos e amigas e uma história. É mais uma história de afetos interrompida bruscamente, sem a possibilidade da despedida. Um luto ainda mais triste.
Para chamar a atenção para o absurdo dessa situação, uma ação anônima – Lute Apesar do Luto – fincou 32 cruzes pretas de madeira (medindo 2,5 metros de altura por 80 cm de largura) ao lado de cada bandeira que “enfeita”, desde 2018, a ponte Cidade Jardim, na Marginal Pinheiros, em São Paulo. São 18 de um lado e 14 do outro, vistas por quem passa pela ponte e também por quem trafega na marginal, abaixo dela.
“Reivindicamos que o luto seja lembrado e ressaltamos que não há normalidade diante de mais de 90 mil mortos” é a mensagem da ação que espalhou as hashtags #lutepeloluto #luteapesardoluto pelas redes sociais.

De acordo com a projeção dos dados, certamente chegaremos a 100 mil esta semana. Em Hiroshima, no Japão, em agosto de 1945, a bomba atômica jogada pelos americanos matou entre 90 mil e 166 mil pessoas. Consegue imaginar isso?
Claro que muita gente morre em pandemias, mas, num mundo veloz e cheio de possibilidades como o que vivemos, é inadmissível que tenhamos chegado a esses números. E isso devido à negligência do governo Bolsonaro e à sua forma irresponsável de conduzir a gestão da pandemia. Somos o segundo país do mundo no ranking de mortes por covid-19, perdemos para os Estados Unidos e ganhamos da Índia.
Bolsonaro nega a Ciência, chama a doença de “gripezinha”, zomba do uso da máscara de proteção, desqualifica o isolamento social, indica remédio sem comprovação científica, abandona pobres e povos originários e libera apenas 23% da verba destinada ao combate do coronavírus.

Mas ele não está sozinho! A irresponsabilidade, o egoísmo e a ignorância de muitos brasileiros contribui para esse caos. Os governos flexibilizaram a quarentena por pressão econômica, mesmo com a curva de contágio ascendente.
Bares, shoppings, restaurantes, praias e ruas estão cheios de gente. Com e sem máscara. Todos com a falsa sensação de que estamos voltando ao normal, de que podemos lidar com o coronavírus sem receio.
Será que é porque pensam que somente pobres e velhos morrem? Que se ficarem doentes terão assistência adequada e serão rapidamente curados? Que são fortes e terão apenas uma gripe forte? Parece também o desejo pelo risco, por uma espécie de roleta russa, na qual incluem as crianças, com a polêmica e irresponsável volta às aulas.
Está nas nossas mãos mudar esse cenário. Se governos não respeitam a vida, respeitemos nós! Essa mensagem também me parece embutida na ação das cruzes na ponte paulistana.
Não pode ser normal

Hoje, de acordo com levantamento do Consórcio de Veículos de Imprensa, às 8h, chegamos a 94.145 óbitos registrados e 2.733.735 diagnósticos de Covid-19. Os dados foram atualizados às 13h novamente: 94.226 mortes e 2.736.298 casos.
Desde a semana passada, a quantidade de mortes diárias caiu cerca de 3%. Deveria ser zero. Nas últimas 24 horas, foram 514, quase a mesma quantidade de passageiros de um Boeing 747.
Não esqueçamos de que, todos os dias, é como se caísse um Boeing no país. E que isso não é normal. Não pode ser normal.
Como sugeriu o site dos Jornalistas Livres, “Toda bandeira do Brasil, em todo o território nacional, deve ser colocada a meio-pau. Para lembramos sempre de quem não está mais entre nós, mas que merece que nós sigamos lutando para que o Brasil não seja lembrado como o país que enterrou mais vidas em todo o mundo, por egoísmo, negacionismo e incompetência de um Governo”.
Bandeiras a meio mastro já, por todos os mortos da Covid-19! #bandeirasameiomastro
Fotos: todas são do Facebook, sem autoria