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Lavanderias, pias e banheiros são instalados para atender pessoas em situação de rua durante a pandemia, em São Paulo e Salvador

Em cidades da Califórnia, Estados Unidos, são comuns as iniciativas que ajudam a minimizar as dificuldades quem mora nas ruas. Em outubro de 2015, escrevi sobre uma delas: uma moradora de São Francisco adaptou um ônibus antigo para abrigar chuveiros, vestiário e roupas limpas. E a ideia acabou inspirando um morador de Vitória da Conquista, na Bahia.

Mas, na verdade, atender as pessoas que não têm onde morar é o mínimo que os governos deveriam fazer em qualquer país do mundo pra driblar um pouco a desigualdade e a vulnerabilidade sociais. Principalmente porque tomar banho e poder usar roupas limpas colabora muito com o resgate da dignidade e muita gente pode mudar de vida, como contei sobre o projeto californiano.

Agora, com a pandemia do coronavírus, esse tipo de iniciativa tornou-se ainda mais urgente. O artivista Mundano, que mora em São Paulo, sacou isso logo no começo da pandemia e lançou uma campanha para ensinar as pessoas a montarem kits de limpeza com água e sabão e distribuirem por seus bairros. Muito inspiradora, a ideia se espalhou pelas redes sociais e tocou muitos brasileiros que tornaram a campanha um hábito.

Mas é imprescindível que o Estado ofereça a essas pessoas oportunidades para que possam se higienizar e que podem ajudar a controlar a transmissão da doença.

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Em cidades como São Paulo e Salvador, as prefeituras se mobilizaram e introduziram lavanderias, pias e banheiros (alguns com ducha) em locais onde as aglomerações e a presença dos sem-teto são constantes. Muito bacana, mas ainda é pouco pra atender a quantidade de pessoas que vivem nessa situação nos grandes centros urbanos.

E, aqui, cabe uma reflexão: depois desse período, os projetos serão mantidos e ampliados? Ou será que tais iniciativas só foram lançadas como medida emergencial e temporária porque a higiene dos moradores de rua afeta diretamente todos os cidadãos? Depois que a pandemia passar, eles perdem esse direito?

Agora, vejamos o que já foi feito. Se você conhecer mais alguma iniciativa bacana para incluirmos, aqui, é só contar nos comentários. E conheça uma prefeitura na contramão da luta contra o coronavírus, que, além de tirar o pouco que a cidade oferece aos moradores de rua, impede que coletivos possam colocar seus projetos bacanas de higiene popular.

Um alento no centro de São Paulo, o epicentro da COVID-19 na cidade

No final de março, a Prefeitura de São Paulo deu início a ações que fazem parte do programa Ação Vidas no Centro, promovido pelas Secretarias de Turismo e de Assistência e Desenvolvimento Social.

Primeiro, instalou pias com água potável (oferecida pela Sabesp) em áreas de grande movimentação (e aglomeração) para que pessoas em situação de rua possam lavar as mãos. De acordo com informações da Secretaria Municipal das Subprefeituras, as pias podem ser encontradas nos seguintes locais: Praça da Sé, Praça da Ouvidor Pacheco e Silva, Largo São Francisco, Largo Paissandu, Pateo do Colégio, Praça da República, Largo do Arouche, Parque Dom Pedro II, Largo General Osório e Praça da Liberdade.

Em 27 de abril, foi a vez de instalar tendas que abrigam lavanderias equipadas com máquinas de lavar e de secar roupas, no centro da capital paulista, nas Praças da Sé e da República, com monitores que orientam as pessoas a usarem o sabão e as máquinas, das 7h às 19h, horário de funcionamento, todos os dias.

As lavandeiras ficam ao lado de banheiros (alguns oferecem banho quente), também colocados em pontos estratégicos da cidade como as Praças da Sé e da República e outros cinco pontos da região central. Eles funcionam no mesmo horário das lavanderias.

As estações (como a prefeitura chama o conjunto de banheiros) das praças da Sé, da República e Ulisses Guimarães (Parque D. Pedro II) têm capacidade para atender até 3 mil pessoas por dia. No Largo do Paissandu e Praça Ouvidor Pacheco e Silva, a capacidade é para 1,5 mil pessoas por dia. As estações no Pateo do Collegio e no Largo General Osório são menores e só oferecem sanitários, não têm duchas para banho.

Todos oferecem toalhas descartáveis e sabonetes para higienização. E, segundo a prefeitura, em quatro semanas de funcionamento (foram instalados em 4/4), registraram mais de 80 mil atendimentos.

As três iniciativas vieram em boa hora. São Paulo – especialmente o centro da cidade – é o epicentro da COVID-19 no país e abriga cerca de 27 mil pessoas sem-teto, que vivem nas ruas ou se abrigam em prédios públicos e privados (abandonados por seus proprietários há muitos anos).

Mas o ideal, mesmo, é que essas iniciativas fossem apenas o início de um projeto maior que tivesse continuidade depois da pandemia. Passou da hora de olharmos para a população que vive em situação de vulnerabilidade na maior cidade do país, e que só cresce.

Abaixo, um resumo dos serviços oferecidos em cada estação do programa Vidas no Centro, para facilitar a divulgação:
Banhos e sanitários
– Praça da Sé (com lavanderia)
– Praça da Republica (com lavanderia)
– Largo do Paissandú
– Praça Ouvidor Pacheco e Silva
– Praça Civica Ulisses Guimaraes (Parque Dom Pedro II).
Sanitários
– Pateo do Colégio e
– Largo General Osório.

Refeições, lavanderia e assistência psicológica e social dentro de um caminhão

Devido à pandemia, desde 31 de março, o Terminal de Ônibus de Aquidabã, no bairro de Santo Antonio, Salvador, abriga um caminhão que oferece serviços especiais de atendimento a pessoas em situação de rua, que é uma iniciativa da prefeitura, por meio da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre), em parceria com a Agência Adventista para o Desenvolvimento e Recursos Assistenciais Leste (Adra) e o reforço de 15 voluntários.

Além de servir 500 refeições diárias, ele tem uma lavanderia industrial – com máquinas de lavar e secar roupas – e também especialistas em assistência psicossocial, por isso, está dividido em três compartilhamentos.

No dia do lançamento, o prefeito, ACM Neto, declarou que a ação faz parte “de um conjunto de iniciativas que a Prefeitura vem adotando para dar apoio as pessoas em situação de rua e mais pobres da cidade”. Ele anunciou um pacote de medidas na área social, que também inclui uma unidade de acolhimento para 160 pessoas sem-teto.

O plano é realizar 500 atendimentos por dia, com psicólogos e assistentes sociais, das 8h às 15h, inclusive nos finais de semana, que darão orientações sobre higienização e necessidade de se resguardarem em abrigos. Quem opta por sair da rua, é encaminhado para uma das vagas das unidades de acolhimento provisórias coordenadas pela Sempre.

A lavanderia tem capacidade para lavar e secar 280 kg de roupa/dia, levando em conta que cada processo pode durar até uma hora e meia.

Em Porto Alegre, prefeitura impede higiene de moradores de rua

Iniciativas de coletivos e ONGs aquecem o coração de quem mora nas ruas de Porto Alegre. Em 2018, a ONG Centro Social de Rua criou a Lavanderia de Rua, vinculada ao projeto Banho Solidário, que havia sido lançado em 2016. E, com a pandemia, seria natural contar com a prefeitura para ajudar esses “moradores”. No entanto, o que se viu foi muito chocante: torneiras públicas foram bloqueadas e iniciativas da sociedade civil foram impedidas de oferecer condições de higiene à essa população.

Instaladas em praças e parques da cidade, pelo menos 21 torneiras públicas estão bloqueadas, ao contrário do que recomenda o Conselho Nacional de Saúde, em documento emitido em 19/4, em conjunto com as Defensorias Públicas do Estado e da União e pelo Ministério Público Federal.

O prefeito Nelson Marchezan Júnior se negou a atender o pedido do coletivo Cozinheiros do Bem para a instalação de um ponto de água em cada um dos endereços de Porto Alegre onde o grupo colocou pias portáteis. Com recipientes para sabão líquido acoplado e acionamento da água por pedal – evitando o toque das mãos -, as pias (foto ao lado) são ideais neste momento de prevenção da transmissão do COVID-19. Motivo da recusa: provocariam aglomeração.

O projeto dos Cozinheiros do Bemresponsáveis pela manutenção das pias – tem parceiros bacanas como a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), que reuniu alunos e professores para produzir álcool em gel em mutirão, num fim de semana, e o coletivo TransLAB.Urb, de urbanistas especializados em inovação social urbana, responsáveis pela instalação.

Se, por um lado, o prefeito se recusa a colaborar com os sem-teto, no que tange ao isolamento social dos demais cidadãos, ele tem sido bastante severo. Claro que isso ajuda a impedir que a transmissão do coronavírus se espalhe, mas o ideal e mais justo seria incluir todos os habitantes da capital gaúcha no plano de combate à pandemia.

Hoje, a prefeitura de Porto Alegre atende mais de 4 mil moradores de rua com o programa de atendimento médico Consultório na Rua, o que leva especialistas a acreditarem que o número total pode chegar a 6 mil pessoas. A maioria trabalha em serviços instáveis como reciclagem de lixo e guardando carros. De acordo com levantamento da UFRGS, em 2016, 38% não tinham CPF, portanto, hoje, não poderiam pleitear o auxílio emergencial que o governo federal liberou por três meses devido à pandemia.

Fontes: G1, Matinal News, iBahia

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