
Nos últimos 40 anos, a maioria dos lagos do planeta mudou de cor. A constatação foi feita por pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, que analisaram 32 milhões de imagens de satélites, de 67 mil lagos, desde 1984 até os dias atuais. Ao incorporar dados climáticos e populacionais no estudo, os cientistas observaram que apenas 14% desses corpos de água mantiveram a mesma coloração.
“Nossos resultados demostram a forte correlação entre alteração nas cores dos lagos, mudanças climáticas e impacto humano. Descobrimos que 60% dos lagos passaram por mudanças significativas de cor”, diz Zheng Duan, principal autor do estudo.
O pesquisador explica que a cor do lago é um importante indicador de sua saúde ou então, de perturbações ambientais, como por exemplo, uma maior concentração de nutrientes ou algas. Todavia, a coloração também tem relação com a sua localização. Aqueles com águas azuis estão, em geral, situados em áreas de latitudes do norte, enquanto os verdes são mais prevalentes em regiões densamente povoadas de latitude média, como o sul da Europa. Já lagos avermelhados e amarelados são principalmente encontrados no Hemisfério Sul.
O levantamento feito por Duan revela que o maior impacto foi observado nos lagos da América do Norte e norte da Europa. Frequentemente, um lago com uma cor mais azul sugere que uma água mais limpa. “Lagos em regiões de alta latitude apresentaram uma mudança mais pronunciada na cor. Não sabemos realmente por que isso acontece. Essa variação regional sugere que as mudanças climáticas e a atividade humana estão impactando os ecossistemas de maneiras complexas e localizadas”, afirma o geógrafo.
Duan lembra que a mudança de cor traz um importante alerta. Lagos, assim como outros corpos de água do planeta, são essenciais para o funcionamento de diversos ecossistemas da Terra. Além disso, eles são usados pelos seres humanos na agricultura e no abastecimento de água.
Em 2024, pesquisadores dos Estados Unidos soaram um alerta similar, ao divulgar imagens de rios laranjas em áreas remotas do Alasca. O fenômeno começou a ser percebido entre 2017 e 2018, quando eles notaram que em alguns locais, longe de qualquer atividade humana, inclusive mineração, a água que comumente tem uma coloração azul cristalina começou a ganhar um tom alaranjado, como se estivesse enferrujada.
Análises de amostras de água apontaram uma redução do pH, com uma acidez mais alta, e indicaram a presença de metais como zinco, cobre, níquel, chumbo e ferro – este último, provavelmente, sendo o responsável pela coloração laranja. A principal hipótese levantada foi que o derretimento do permafrost, a espessa camada de gelo do Ártico, que formou-se ao longo de milhares e milhares de anos, e em tese, pelo menos antes da crise climática, não derretia.
O permafrost acumula carbono orgânico e uma série de minerais, como aqueles vistos nos rios do Alasca. Com o derretimento, esses metais são expostos ao oxigênio, em um processo conhecido como intemperismo, que aumenta a acidez da água, os dissolvendo.
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Foto de abertura: James Wheeler from Pixabay