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Jovem indígena, da etnia Guarani Kayowá, denuncia governo Bolsonaro na ONU: “vivemos em uma verdadeira crise humanitária”

No primeiro dia de julho, em audiência liderada pela chefe do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Michele Bachelet, a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo mentiu a respeito da performance do governo brasileiro diante da pandemia e em relação à proteção dos povos indígenas. Garantiu que a resposta do governo está “em linha com a liberdade de expressão, incluindo da imprensa, e o acesso à informação” e que “há um esforço para conscientizar a população”, como também ações para atender indígenas e outros grupos. Por fim, ressaltou que o país vive em uma “democracia vibrante”.

Para se ter ideia da dimensão de mais esta desfaçatez cometida por um membro da diplomacia brasileira, vale ler o relato do jornalista Jamil Chade (que acompanha todas as audiências das quais o Brasil participa na ONU) sobre o episódio.

No mesmo dia, rebatendo as declarações de Farani Azevedo, o governo da Suíça, indígenas e ONGs internacionais denunciaram a real situação da pandemia e dos povos indígenas em nosso país. Entre eles, o adolescente indígena Roger Ferreira Alegre, de 15 anos, da comunidade Amambaí, do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, que participou, por vîdeo-conferência, do encontro anual sobre crianças e meio ambiente.

A infância indígena em perigo

Em espanhol (assista ao vídeo no final deste post), Roger explicou aos participantes do encontro porque é imprescindível proteger os territórios indígenas e contou sobre os impactos do coronavírus em sua comunidade. Veja:

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“O meio ambiente afeta diretamente os direitos de meninos e meninas. Para a infância indígena, a proteção do território é a forma de garantir nosso estilo de vida tradicional, sobrevivência, nosso desenvolvimento como seres humanos e o exercício de todos os nossos direitos humanos. Infelizmente, no contexto Guarani, há uma dívida histórica por parte do governo do Brasil em demarcar nosso território. Mas o governo Bolsonaro paralisou o processo de demarcações no país. Como consequência, vivemos em situação de insegurança, com riscos à saúde, à alimentação, à integridade física e mental”.

“Nossas crianças sofrem com taxas elevadas de desnutrição. Somos mais de duas mil famílias – 60 são crianças – e sobrevivemos em barracas de plástico, sem acesso à água, saúde, educação, alimentação, em uma verdadeira crise humanitária”.

“No ano passado, 15 crianças entre 6 e 9 anos que tomavam café na escola indígena na aldeia Guyraroká foram cobertas por uma nuvem de agrotóxico, causando vários danos à saúde”.

É inadmissível que a sociedade brasileira se cale diante de tanta injustiça. O cineasta e indigenista Vincent Carelli relatou a situação desesperadora em que vive esse povo – expulso de suas terras e acampado à beira da estrada – no filme Martírio, sobre o qual contamos aqui, no Conexão Planeta.

Só a demarcação pode salvar as crianças

Completamente vulnerável, a comunidade de Roger foi atingida rápida e de maneira feroz pela pandemia de Covid-19. Ele denunciou a origem da contaminação.

“A Covid nos atingiu de maneira aguda. Faltam alimentos em nossos acampamentos. Muitos de nossos pais e familiares adultos foram contaminados trabalhando nas empresas frigoríficas da JBS”.

E sentenciou: “A principal medida para proteger os direitos das crianças indígenas é garantir a demarcação dos nossos territórios”.

Para finalizar a participação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), um de seus representantes, Paulo Lugon, reforçou as palavras do menino: “O foco da sua fala é que a proteção dos povos indígenas, em especial as crianças, é baseada na proteção de seus territórios tradicionais, sem os quais, nem o meio ambiente nem seus direitos são protegidos”. Precisa desenhar?

Foto: Reprodução do vídeo

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