Faz três anos que o Vaticano lançou a Encíclica Laudato Si– conhecida também como Encíclica Verde–, escrita pelo Papa Francisco como uma crítica veemente ao desenvolvimento a qualquer custo e ao consumismo, com a qual faz um apelo à humanidade para que se dedique a ações de combate à degradação ambientale às mudanças climáticas.
Tendo por base questão lançada pelo Pontífice – Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai nos suceder, às crianças que estão crescendo? – e também celebrar o aniversário da obra, o Vaticano promoveu, na semana passada (5 e 6/7), uma conferência internacional – com o tema Salvar a Nossa Casa Comum e o Futuro da Vida na Terra–, que reuniu mais de 300 pessoas, entre especialistas, representantes da igreja e dos povos de diversos países da África, Ásia, América Latina e Oceania.
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) – que promove reflexões sobre questões socioambientais com tribos indígenas, ONGs, pastorais, escolas, entre outros – participou do encontro, representada por uma delegação de indígenas do Brasil, Peru e Colômbia.
O jovem Diego Arapyun, de 29 anos (da etnia Arapyun, Aldeia Braço Grande, de Santarém, no oeste do Pará), representou os povos indígenas da Amazônia e foi recebido pelo papa na sexta-feira, 6/7, pela manhã (foto que ilustra este post).
Em entrevista ao portal G1, ele contou um pouco: “Neste evento, tivemos a oportunidade de compartilhar nossas realidades vividas enquanto povos indígenas da Amazônia. Falamos do que esperamos da igreja, onde a mesma deve anunciar, denunciar e acompanhar nossas lutas em defesa da vida, em defesa da nossa casa comum, que é o planeta Terra. Saio daqui com a esperança de que vamos nos unir em defesa da Amazônia, em defesa da nossa mãe terra”.
Diego reune duas características que Papa Francisco considera importantes neste momento de urgência para que a humanidade faça o que ele chama de conversão ecológica, ou seja, se converta em defensor da natureza, em protetor da biodiversidade biológica. Ele é jovem e indígena e o pontífice acredita que tanto jovens como indígenas poderão ajudar o mundo a fazer essa transformação da consciência.
“São os jovens que enfrentarão as consequências da atual crise ambiental e climática. Portanto, a solidariedade intergeracional não é uma atitude opcional, mas uma questão essencial de justiça”, acrescentou o papa, citando a Laudato Si, segundo o site do Vaticano. Sobre os indígenas, em especial, Francisco manifestou sua tristeza profunda com a expropriação de suas terras e de sua cultura com atitudes predatórias, novas formas de colonialismo, impulsionadas pelo consumismo e o o descarte.
Com sociedade, com organizações financeiras, com tudo
No encontro, o papa clamou para que os líderes honrem seus compromissos em relação ás mudanças climáticas e garantam um futuro possível e saudável para as crianças e os jovens. Mas deixou claro que não será apenas com política que conseguiremos chegar lá. É preciso o envolvimento da sociedade civil e de instituições econômicas e religiosas, lembrando que, em setembro, será realizado o Encontro sobre a Ação Global de San Francisco (EUA), que talvez possa “oferecer respostas adequadas, com o apoio de grupos de pressão de cidadãos de todas as partes do mundo”.
Segundo o site do Vaticano, ele “faz votos para que a preocupação ecológica se traduza numa ação orgânica e comum, citando eventos importantes como a COP24 sobre o clima – que acontecerá em dezembro próximo em Katowice, na Polônia, que terá como base de debates o Acordo de Paris, firmado em 2015″.
O papa também citou a necessária colaboração de organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial para quebrar os paradigmas financeiros por meio de reformas que possibilitem o desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.
Ao concluir seu discurso, o Papa Francisco agradeceu os participantes, destacando seu engajamento e coragem, pedindo que mantenham-se assim, perseverem mesmo diante de situações muito difíceis em que o interesse econômico suplanta tudo. Por fim, citou a Encíclica Verde, lembrando que os seres humanos são capazes de degradar tudo ao seu redor ao extremo, mas também são capazes de se superar, de se transformar, optar pelo bem e se regenerar.
Foto: Divulgação/Vaticano