*Texto atualizado em 23/03/24
Na noite da sexta-feira (22/03), após a publicação desta reportagem, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) publicou uma nota condenando os “crimes brutais” de Daniel Alves e Robinho e externando solidariedade às vítimas. O texto, divulgado dois meses após a condenação de Alves, veio também após o técnico da seleção, Dorival Júnior, e o capitão da equipe, Danilo, serem questionados sobre os casos durante uma coletiva de imprensa, em Londres.
Segue abaixo a reportagem original.
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Já tinha sido vergonhoso quando, em fevereiro, a justiça da Espanha decidiu pela condenação por estupro do ex-jogador da seleção brasileira Daniel Alves e outros atletas, ex-colegas e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se mantiveram em silêncio sobre o caso.
Agora, com a prisão de Robinho, que também vestiu a camisa do Brasil em campo, condenado pela justiça da Itália por estupro coletivo, o mesmo se repete. Silêncio total, nenhuma declaração oficial.
Coube a jogadoras da Seleção Brasileira e a Leila Pereira, presidente do Palmeiras e atual chefe da delegação da seleção, se pronunciarem publicamente.
“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, disse ela em entrevista ao portal UOL.
Leila se refere não apenas aos crimes e ao silêncio dos colegas do sexo masculino e da própria CBF, mas à decisão de um Tribunal de Barcelona que concedeu a liberdade provisória a Daniel Alves esta semana, enquanto seus advogados recorrem da sentença de quatro anos e seis meses. Para isso, todavia, ele deverá pagar uma fiança de € 1 milhão de euros, pouco mais de R$ 5 milhões, e entregar seus dois passaportes para as autoridades (o brasileiro e o espanhol).
Robinho foi julgado na Itália em 2017 e recebeu uma pena de nove anos de prisão. O estupro tinha acontecido quatro anos antes, em uma boate de Milão. O ex-jogador voltou ao Brasil para aguardar todas as possibilidades de recursos, que se esgotaram. Como estava morando em Santos e não há acordo de extradição entre os dois países, continuava solto.
Entretanto, a justiça italiana solicitou que ele cumprisse a pena no Brasil. Na quarta-feira (20/03), o Superior Tribunal de Justiça julgou a questão e determinou que Robinho fosse preso imediatamente. Ele já foi levado para a prisão do Tremembé, em São Paulo.
Após a declaração contundente de Leila, as jogadoras Ary Borges e Kerolin Nicoli usaram suas redes sociais para manifestar repúdio pelo silêncio dos atletas homens.
“A Leila foi gigante no que disse e mostrou que é isso que pessoas em posições de impacto precisam fazer. Leila COMO MULHER se posiciona mas será que até quando apenas mulheres vão continuar se expondo, sozinhas a repudiar situações como essa, ou no caso, CRIME como estes?!??”, escreveu Ary. “Eu tava evitando falar sobre o assunto porque só conseguia sentir raiva de tudo isso. Mas é inaceitável o cara pagar pra pra ter o direito de estuprar uma mulher. Ele não pagou por sua liberdade ou porque se arrependeu do que fez ou pra provar sua inocência. É inadmissível!!”.
“LEILA Pereira, gigante, como MULHER se posicionou e digo mais, mostrou como pessoas que têm voz, espaço, influência poderiam se posicionar! Até quando só mulheres ? Até quando mulheres irão continuar sofrendo esses e outros tipos de crimes e as pessoas que cometem sairão ilesas ?!?!”, criticou Kerolin.
O machismo no mundo do futebol
Desde o ano passado, existe um movimento na Espanha que denuncia um ambiente tóxico e machista nos bastidores do mundo do futebol, que veio à tona também com o caso de Luis Rubiales, o presidente da Federação Espanhola de Futebol que deu um beijo forçado numa jogagora na final da Copa, na Austrália.
O ex-todo poderoso foi acusado de agressão sexual e coerção contra Jennifer Hermoso, que afirmou não ter consentido o beijo. No mês passado, o Tribunal Nacional de Espanha, em Madrid, recomendou que Rubiales deva ir a julgamento (saiba mais nesta outra matéria).
Por causa da polêmica envolvendo o até então czar do futebol, a hashtag #SeAcabó começou a ganhar força nas redes sociais. Espanholas foram às ruas protestar contra o dirigente e os abusos sofridos por mulheres diariamente. Era a hora e a vez do movimento #MeToo no país europeu.
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Fotos de abertura: Breno Barros/rededoesporte.gov.br (Daniel Alves) e Fotos Públicas (Robinho)