Difícil imaginar que vídeos que mostram uma jiboia tenham milhares de curtidas nas redes sociais. Mas Santinha conquistou os internautas e seu caso ajudou muitas pessoas a deixarem de lado ideias pré-concebidas e distorcidas sobre cobras e serpentes.
Santinha é uma jiboia de 2,4 metros que foi brutalmente espancada na cabeça. Com diversas fraturas e ferimentos, ela foi resgatada, em estado grave, pelo biólogo Izar Aximoff e por bombeiros após ser encontrada em uma via pública perto do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Levada para o Instituto Vida Livre, há mais de três meses ela tem sido cuidada pela equipe de biólogos (na foto acima com o diretor do Vida Livre, Roched Seba).
“A estupidez, a maldade, a ignorância sem limites sobre espécies que escolhemos odiar. Essa jiboia fêmea, que já tem uma certa idade e que sobreviveu ao longo dos últimos anos, talvez não sobreviva ao seu último encontro com alguém decidiu agredí-la violentamente na cabeça”, escreveram logo no início do tratamento os biólogos.
Santinha com a boca toda ensanguentada após o resgate
(Foto: Instituto Vida Livre)
Além de receber medicamento para minimizar a dor, a jiboia precisou ter a cabeça e mandíbula imobilizadas. Nesse período ela precisou ser alimentada através de uma sonda inserida até a cavidade estomacal, com uma fórmula pastosa hipercalórico e hiperproteica, assim como receber uma hidratação “forçada”. “Santinha está com a boca imobilizada e não pode beber água sozinha, bem como não pode ficar imersa em nenhum recipiente de água (elas se hidratam pela pele e pela cloaca) pelo risco de molhar a cabeça e estragar a imobilização”, explicou a equipe do Vida Livre.
Felizmente, pouco a pouco, a jiboia se mostra mais forte e reativa. No final de outubro, após longas semanas com a boca imobilizada, as ataduras foram retiradas. Todavia, exames e acompanhamento clínico continuaram a fazer parte de sua rotina.
No final de novembro, Santinha também passou por um importante marco de sua recuperação: tomar o primeiro banho.
Ainda não se sabe se Santinha poderá ser devolvida à natureza. Caso isso não seja possível, ela continuará a ser bem tratada, sem enfrentar a ameaça da ignorância.
“Santinha foi o nome que escolhemos que dialoga com o preconceito com as serpentes que em muitos casos tem origens em crendices e preceitos religiosos. Todo preconceito é imediatamente burro porque inviabiliza a troca e o crescimento”, ressaltam seus cuidadores.
A jiboia (Boa constrictor) não é venenosa. Pertencente à família Boidae, está entre as maiores espécies de serpentes não peçonhentas. Pode viver até 30 anos e é observada em todos os biomas brasileiros. Com hábitos noturnos, se alimenta de pequenos mamíferos roedores, além de aves, anfíbios, lagartos e ovos.
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Foto de abertura: reprodução Facebook Instituto Vida Livre
Não adianta questionar sobre a crueldade contra os animais, é perda de tempo. Isso não terá fim.