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Jiboia mais rara do mundo é reencontrada (viva) na Mata Atlântica, após 60 anos

A descoberta foi feita em 21 de janeiro deste ano por moradores da região de Guapivuru, no interior de São Paulo, e anunciada na semana passada pelos pesquisadores do Instituto Butantan e do Museu de Zoologia da USP. Considerada pelos pesquisadores como praticamente extinta, a Corallus cropanii, mais conhecida como jiboia-do-Ribeira ou jiboia-de-Cropan, é também a cobra mais rara do mundo.

O primeiro registro de sua existência é de 1953. A jiboia foi encontrada e capturada com vida na cidade de Miracatu, São Paulo, por um herpetólogo do Instituto Butantan, Alphonse Richard Hoge. Agora, mais de meio século depois, um novo exemplar é capturado nas mesmas condições e em seu habitat natural. Mas esta não é a segunda vez em que essa espécie é encontrada na região. Há outros cinco registros, com uma característica em comum: entregues ao Butantan sem vida ou, como em um dos casos, apenas por fotografias.

Dessas, a primeira foi capturada em Pedro de Toledo, em 1969, e entregue sem vida ao instituto. A segunda foi enviada ao Butantan de Santos, em 1978; mas os pesquisadores acreditam que tenha sido encontrada no Vale do Ribeira e encaminhada à cidade litorânea para ser despachada para a capital. Entre esta e a próxima captura, passaram-se mais de 30 anos, até que, em 2003, uma fêmea de 1,5 m (a maior até janeiro deste ano) foi morta por um morador do município de Eldorado, próximo ao rio Ribeira de Iguape. Sua cabeça e a pele estavam conservadas em álcool e assim foram entregues ao Butantan. Seis anos depois, um morador da comunidade de Guapiruvú, no município de Sete Barras (SP), fotografou uma jiboia-do-Ribeira depois de mata-la e enviou as imagens para os pesquisadores do instituto. Sem data precisa, outro exemplar dessa espécie foi morto na mesma comunidade e apenas parte de sua pele e do esqueleto foram recuperados e incluídos na coleção científica do Museu de Zoologia da USP.

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Por tudo isso, a descoberta do macho de 1,70m de comprimento e 1,5 k (a maior, até agora!) – “de cor alaranjada, com escamas bem definidas e losangos pretos espalhados pelo corpo” – deve ser muito celebrada. Ainda mais porque representa a chance de os cientistas pesquisarem sobre sua biologia e hábitos já que quase nada se sabe do animal, apenas que, como toda jiboia, não é venenosas e mata suas presas por constrição ou esmagamento.

“A jiboia-do-Ribeira nunca foi observada na natureza, por isso não temos muitas informações sobre seu comportamento”, ressalta Lívia Corrêa, bióloga do Instituto Butantan. “A cobra receberá equipamento com radiotelemetria, que possibilitará seu rastreamento e a transmissão de informações, e será solta e monitorada em seu habitat natural”.

Ela será deixada no mesmo local em que foi encontrada, com o auxílio dos moradores responsáveis pela captura. E jovens da comunidade de Guapivurú serão treinados (e remunerados) para desenvolver esse trabalho em parceria com os pesquisadores.

Educar é o melhor caminho para a preservação

Ao anunciar a feliz descoberta, os pesquisadores do Instituto Butantan e do Museu de Zoologia da USP fizeram questão de ressaltar que ela só foi possível graças à cooperação da comunidade rural de Guapiruvú. Essa parceria foi realizada por meio de atividades educativas (palestras, folhetos e cartazes) com os moradores – adultos, mas principalmente jovens e crianças – sobre a importância da conservação das serpentes e do ecossistema onde vivem. E também para desmitificar a ideia de que cobrar são “do mal” e precisam ser eliminadas.

Os biólogos Bruno Rocha e Daniela Gennari (Museu de Zoologia) e Lívia Corrêa (Butantan) conduziram as ações. Os pesquisadores e as instituições que representam visavam encontrar uma jiboia-do-Ribeira viva e sabiam que, sem a ajuda da população local, que vive no habitat do animal, isso seria impossível. Por isso, envolveram a comunidade, ensinando-a a proteger e cuidar da biodiversidade, o que incluía não matar as serpentes encontradas.

A iniciativa contou com financiamento da Fapesp, da Rufford Foundation e da Universidade de Cornell, de Nova York, EUA, e provou que parcerias entre a ciência e a sociedade são possíveis. “Além de trazerem benefícios para a produção de conhecimento científico e para as comunidades, também colaboram com a preservação de espécies, principalmente as ameaçadas de extinção”, acrescentou Lívia.

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Jararaca, com muito orgulho!

Foto: Lívia Corrêa, do Instituto Butantan

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