Donas de fama negativa no imaginário popular, as jararacas, serpentes peçonhentas encontradas em várias regiões do país, ganharam representação mais amigável no livro “Jararaca, sim, com muito orgulho”, de Otavio Augusto Vuolo Marques, diretor do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, e Jussara Goyano, com ilustrações de Fernando Bastos.
Publicado pela editora Ponto A com o apoio da FAPESP, na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações, e do Instituto Butantan, o livro tem o objetivo de desmistificar diversos aspectos relacionados às serpentes.
“A jararaca é um dos bichos mais comuns no Sudeste e tem bastante evidência do ponto de vista ecológico e também no imaginário popular, mas nem sempre de forma cientificamente correta. A ‘crise existencial’ que a personagem sofre na história vem disso e é o que a leva à sua jornada de autoconhecimento”, contou Marques.
O livro é voltado ao público infantil e apresenta informações científicas básicas sobre as serpentes por meio de boxes ilustrados. A história parte da curiosidade de sua protagonista, uma pequena jararaca que deseja saber de onde veio e por que é como é – com uma língua que não para dentro da boca, sem orelhas e com outras características anatômicas decorrentes do processo evolutivo que remonta aos seus antepassados lagartos.
Com linguagem simplificada, os autores explicam, por exemplo, por que as serpentes perderam as pernas ao longo da evolução. Além de informações sobre o processo, o livro traz atividades ao apresentar uma árvore filogenética, representação gráfica das relações evolutivas entre várias espécies com um ancestral comum, propondo que o leitor desenhe a árvore genealógica de sua família, preenchendo espaços de um gráfico com os nomes dos seus pais, avós, bisavós e trisavós.
As curiosidades sobre as serpentes servem de motivação para que os autores apresentem e discutam conceitos essenciais em evolução e ecologia, como a diferenciação de espécies, especiação, adaptação e seleção natural, além de biodiversidade e conservação.
Jornada
A jararaca da história é nativa do continente e parte em busca de sua identidade até parar na Ilha da Queimada Grande, conhecida como Ilha das Cobras, no litoral paulista. Lá ela faz novos amigos e conhece a jararaca-amarela, ou jararaca-ilhoa, típica do local.
Localizada dentro de uma área de proteção ambiental, a ilha tem uma das maiores densidades populacionais de serpentes do mundo: são 430 mil m² de área de Mata Atlântica habitados quase que exclusivamente por serpentes. Estudos estimam que existam 2.300 jararacas-ilhoas no local, além de outra cobra, a dormideira, mais rara.
“A jararaca-ilhoa surgiu em função do isolamento da ilha, com a elevação do nível do mar, e essa história real, além de ensinar sobre diferenciação de espécies com um exemplo brasileiro, traz lições de preservação, porque se trata de uma espécie em risco de extinção”, disse Marques.
A editora Ponto A reservou mil exemplares que serão doados a escolas da rede pública de ensino. Os autores pretendem ainda levar periodicamente grupos de professores ao Instituto Butantan para apresentar tópicos tratados no livro de forma mais aprofundada.
“Alguns desses tópicos são elementos básicos para se trabalhar na escola com um tema fundamental hoje, que é a biodiversidade e a sua conservação. Estamos usando a jararaca para discutir questões muito mais amplas dentro da Biologia e imprescindíveis para a formação dos alunos”, explicou o autor.
Ao final, além de um texto sobre preservação ambiental, o livro traz um glossário com termos poucos usuais para crianças utilizados ao longo da história.
JARARACA SIM, COM MUITO ORGULHO!
Autores: Otavio Augusto Vuolo Marques e Jussara Goyano
ilustrações: Fernando Bastos
Lançamento: 2015
Preço: R$ 35
Páginas: 52
Mais informações: Ponto A
*Texto publicado originalmente por Diogo Freire no site da Agência Fapesp de Notícias
Imagem: divulgação