O urso andino, também chamado popularmente de urso-de-óculos (Tremarctos ornatus), é a única espécie de urso existente na América do Sul, mais especificamente na região da Cordilheira dos Andes, em países como Chile e Peru. Pouquíssimo se sabe sobre esses animais, já que eles habitam montanhas e terrenos, de difícil acesso, entre 200 e 4 mil metros de altitudes. Mas pesquisadores da National Geographic, parte da Perpetual Planet Amazon Expedition, fizeram descobertas surpreendentes sobre esses animais, graças ao uso de colares GPS com minúsculas câmeras acopladas.
“O que conseguimos aprender por meio do uso das câmeras em colares muda completamente a maneira como estudamos os ursos andinos”, diz a bióloga Ruthmery Pillco Huarcaya, da organização Amazon Conservation. “Em um período de tempo relativamente curto, essa tecnologia nos abriu uma janela emocionante para o mundo desta espécie enigmática e icônica.”
As descobertas feitas pelos pesquisadores da National Geographic no Parque Nacional de Manu, no sudeste do Peru, foram descritas em um artigo científico divulgado recentemente no jornal Ecology and Evolution, e para os cientistas, elas ajudarão a melhorar ainda mais os esforços de conservação, “fornecendo informações inestimáveis sobre o comportamento, a história natural e as necessidades e benefícios ecológicos dos ursos andinos”, completa Ruthmery.
As principais revelações obtidas pelos mais de mil vídeos gravados pelos colares GPS, durante quatro meses, têm relação com a dieta desses ursos. Eles foram observados ingerindo mais de 20 espécies de plantas diferentes, comendo solo e argila (para evitar diarreia, suspeita-se), e ainda, pela primeira vez, esses animais foram documentados praticando o canibalismo – gravações mostraram um adulto comendo a carne de um outro urso, que tinha o tamanho de um filhote. Não se sabe, entretanto, se ele o matou ou estava apenas ingerindo os restos da carcaça.
Também houve o registro de um urso andino se alimentando de um primata, não humano, algo que já tinha sido documentando uma vez antes.
Além das observações sobre seus hábitos alimentares, outra constatação dos biólogos é que o urso andino é realmente muito mais arborícola do que outras espécies da família Ursidae. Em um registro inédito para a ciência, um macho e uma fêmea foram gravados copulando em cima de uma árvore.
“Esses novos insights sobre os ursos andinos nos dão uma chance de entender melhor um dos engenheiros do ecossistema que molda a floresta das nuvens e usar esse conhecimento para proteger mais efetivamente essa espécie-chave e seu habitat”, ressalta Ian Miller, diretor de Ciência e Inovação da National Geographic Society. “É disso que se trata o trabalho da Perpetual Planet Amazon Expedition — usar tecnologia de ponta para enriquecer nossa compreensão científica das maravilhas do mundo e impulsionar soluções inovadoras para proteger nosso planeta.”
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Foto de abertura: Pedro Peloso