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Iguanas boiaram da América do Norte até Fiji, na mais longa dispersão transoceânica de qualquer animal terrestre

Iguanas boiaram da América do Norte até Fiji, na mais longa dispersão transoceânica de qualquer animal terrestre

Existem quatro espécies de iguanas do gênero Brachylophus que habitam as ilhas de Fiji e Tonga, no Pacífico Sul. Todas elas descendem de ancestrais que colonizaram essa região da Oceania nos últimos 34 milhões de anos, provavelmente oriundas do oeste da América do Norte, de onde teriam boiado por 8 mil km.

A hipótese foi levantada por biólogos das universidades da California, Berkeley, e de São Francisco (USF), nos Estados Unidos, que realizaram análises genéticas das espécies e de fósseis e estudos sobre a época da formação dessas ilhas vulcânicas.

“Descobrimos que as iguanas de Fiji são mais intimamente relacionadas às iguanas do deserto da América do Norte, algo que não havia sido descoberto antes”, explica o paleontólogo e herpetólogo Simon Scarpetta, professor assistente da USF e principal autor do estudo publicado no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences.

Iguanas boiaram da América do Norte até Fiji, na mais longa dispersão transoceânica de qualquer animal terrestre
Uma das espécies de iguana, Brachylophus vitiensis,
encontrada em Fiji
Foto: Nicholas Hess

Suposições anteriores defendiam que as iguanas de Fiji seriam descendentes de uma linhagem de répteis observada mais comumente no Pacífico e que já teria sido extinta. Outra teoria alegava que elas seriam originárias da América do Sul, e teriam então viajado pela Antártica ou pela Austrália até a Oceania.

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Mas a descoberta atual dos pesquisadores aponta que as iguanas de Fiji são mais próximas daquelas do gênero Dipsosaurus – a mais comum delas é a Dipsosaurus dorsalis, observada nos desertos de Sonora e Mojave, no sudoeste dos Estados Unidos e noroeste do México (e em algum ponto dos últimos 34 milhões de anos ocorreu uma divergência genética das iguanas de Fiji, Brachylophus, de seus parentes mais próximos, as iguanas do deserto da América do Norte, Dipsosaurus, explicam os autores do estudo).

“Que elas tenham chegado a Fiji diretamente da América do Norte parece loucura”, admite o coautor do estudo, Jimmy McGuire, professor de biologia integrativa da UC Berkeley e curador de herpetologia no Museu de Zoologia de Vertebrados. “Mas modelos alternativos envolvendo colonização de áreas terrestres adjacentes não funcionam realmente para aquele período de tempo, já que sabemos que elas chegaram a Fiji nos últimos 34 milhões de anos ou mais. Isso sugere que, assim que a terra apareceu onde Fiji agora existe, essas iguanas podem tê-la colonizado. Independentemente do momento real da dispersão, o evento em si foi espetacular.”

Segundo os biólogos, as iguanas devem ter flutuado, sobre troncos de árvores e folhas, no que é considerada agora a mais longa dispersão transoceânica conhecida de qualquer animal terrestre.

“Você pode imaginar algum tipo de ciclone derrubando árvores onde havia um bando de iguanas e talvez seus ovos, e então elas foram levadas pelas correntes oceânicas”, sugere Scarpetta. “Iguanas e iguanas do deserto, em particular, são resistentes à fome e à desidratação, então meu raciocínio é que, se houvesse algum grupo de vertebrados ou qualquer grupo de lagartos que pudesse realmente fazer uma jornada de 8 mil quilômetros pelo Pacífico em uma massa de vegetação, um ancestral parecido com uma iguana do deserto seria o escolhido.”

Iguanas boiaram da América do Norte até Fiji, na mais longa dispersão transoceânica de qualquer animal terrestre
Brachylophus bulabula, outra espécie de iguana observada em Fiji
Foto: Nicholas Hess

Todas as espécies de iguanas encontradas em Fiji e Tonga estão ameaçadas, seja por causa da perda de habitat, tráfico de animais silvestres ou predação por ratos, que não são nativos das ilhas.

Mapa acima mostra possíveis teorias defendidas por biólogos: a estrela azul é Fiji e a vermelha
seria o ponto de partida da América do Norte
Imagem: divulgação Universidade da Califórnia, Berkeley

Iguanas de Galápagos também boiaram pelos oceanos

A origem de um dos maiores símbolos da riquíssima biodiversidade de Galápagos, arquipélago com treze ilhas, que ficam espalhadas em quase 8 mil km2 na costa do Equador, também intriga cientistas. Acredita-se que as iguanas dessa parte do mundo tenham um antepassado comum, que boiou até ali, vindo do continente sulamericano, em “canoas” de vegetação, assim como as de Fiji.

A separação (em espécies diferentes) entre iguanas marinhas e terrestres teria se dado por volta de 10,5 milhões de anos atrás.

Raríssima iguana rosa (Conolophus marthae)  de Galápagos, criticamente ameaçada de extinção
Foto: Joshua Vela / GNPD

*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação da Universidade da Califórnia, Berkeley

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Foto de abertura: Nicholas Hess

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