O Caminho da Mata Atlântica (CMA) é um projeto antigo, apresentado pela primeira vez em 2012, durante um congresso de unidades de conservação.
Ele ainda era chamado de Caminho da Serra do Mar e só começou a tomar corpo em 2014 com a criação do movimento social Borandá, que reunia cerca de 14 instituições, além do governo e operadores de turismo.
O CMA transformou-se num projeto magnífico de trilha, que percorrerá mais de 4 mil km para conectar áreas naturais e Unidades de Conservação do Rio de Janeiro (Parque Estadual do Desengano) ao Rio Grande do Sul (Parque Nacional de Aparados da Serra), passando por Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
A trilha vai cruzar mais de 70 áreas protegidas, incluindo 32 parques estaduais e dez parques nacionais.
Sua missão: “Engajar a sociedade na conservação e na recuperação da Mata Atlântica por meio de atividades ao ar livre e da conexão de áreas naturais ao longo dos mais de 4 mil km de trilha, promovendo o desenvolvimento socioeconômico inclusivo e a valorização do patrimônio natural e cultural”.
No entanto, não dá pra esquecer que o ministro do meio ambiente deste governo, Ricardo Salles, não apoia projetos de conservação. Demorou, mas infelizmente sua marca registrada – de destruição – chegou ao Caminho da Mata Atlântica.
Sem sinalização, sem proteção
Sem consultar a sociedade, tão pouco as Câmaras Técnicas, o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade apagou sinais pintados em pedras e árvores e removeu (ou cobriu) placas de sinalização do Caminho da Mata Atlântica dentro do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro.
O órgão criado em 2007 para gerir 334 unidades de conservação no país – não foi à toa que recebeu o nome do ambientalista Chico Mendes – tem sido desestruturado e militarizado por Salles, desde janeiro de 2019.
A demarcação e a sinalização da trilha, em cada trecho do Caminho, tem sido realizada por centenas de voluntários – ligados a ONGs ambientalistas, montanhistas e outros parceiros -, com total apoio do ICMBio (até a chegada de Salles!!), com o intuito de orientar os trilheiros e ajudar a proteger a mata.
Ontem, a Comissão de Governança do Caminho da Mata Atlântica (CMA) publicou vídeo acompanhado de uma nota de repúdio, que foi enviada à diretoria do parque.
É preciso pressionar para que essa ação seja revista e anulada e não se repita em outros trechos do Caminho.
Você pode ler o texto, na íntegra, e assistir ao vídeo no final deste post.
Trata-se de mais uma ação de Salles – que continua “passando a boiada” e se aproveitando do momento da pandemia, como sugeriu na reunião ministerial de abril do ano passado, gravada e divulgada ao público.
Salles continua ignorando a participação da sociedade e declarando seu desprezo pela missão da pasta que dirige: a conservação da natureza.
Santa Catarina na contramão de Salles
De acordo com o jornal O Globo, enquanto Salles detona a trilha no Rio de Janeiro, em Guabiroba, Santa Catarina, por conta da uma ação Secretaria de Turismo, as trilhas que integram o Caminho da Mata Atlântica e são um dos maiores atrativos da cidade, receberam placas com o mapa do trajeto, além de “informações como altimetria, dificuldade, distância, duração e histórico”.
A intenção do secretário de Turismo, Andrei Müller, é atrair visitantes e praticantes do ecoturismo com mais segurança, e com todo o cuidado que exige a pandemia.
Mobilização online, nota de repúdio e vídeo
Se você apoia este movimento, dissemine esta notícia e o vídeo. Ajude a fortalecer o projeto do Caminho da Mata Atlântica! Acompanhe o movimento pelas redes sociais: Instagram e Facebook.
Agora, leia a nota da governança do CMA e o vídeo produzido para acompanhar seu protesto.
“A Comissão de Governança do Caminho da Mata Atlântica (CMA), em nome de todos os voluntários e parceiros que atuam na sua construção desde 2015, manifesta total repúdio à destruição da sinalização da trilha e remoção das placas no Parque Nacional da Tijuca (PARNA Tijuca).
Placas do projeto foram arrancadas e a sinalização direcional foi coberta com tinta, sem qualquer justificativa, comunicação prévia, ou consulta às Câmaras Técnicas e aos Conselhos do Parque e do Mosaico Carioca.
O Caminho da Mata Atlântica é a primeira trilha brasileira a conectar diversos estados de duas regiões, totalizando mais de 4 mil km. Também é a trilha com maior extensão sinalizada no Brasil, totalizando mais de 500 km.
São mais de 4 mil voluntários cadastrados e centenas de pessoas que já participaram de oficinas e mutirões e vêm construindo passo a passo esse projeto que valoriza o patrimônio natural, histórico e cultural da Mata Atlântica.
É importante destacar que a sinalização destruída no Parque Nacional da Tijuca foi discutida e aprovada tanto na Câmara Técnica de Uso Público do Conselho do Mosaico Carioca de Áreas Protegidas, como na Câmara Técnica de Esportes e no Conselho Consultivo do próprio parque, e contou com apoio formal do ICMBio, em ofício de 23 de agosto de 2018.
Todas as instâncias de participação foram ignoradas em uma medida autoritária ordenada pelo ministro Ricardo Salles.
Essa é mais uma ação entre tantas que ameaçam o meio ambiente e desrespeitam a participação social na gestão ambiental em um momento de ataques à legislação de proteção, de censura e de explosão do desmatamento.
A boiada segue atropelando tudo o que foi construído na gestão ambiental brasileira em décadas. Medidas autoritárias como essa não nos calarão.
Continuaremos trabalhando e construindo este projeto com voluntários, instituições parceiras, operadores turísticos e comunidades locais”.
Fotos: Divulgação/CMA