Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem crescendo nos níveis atuais, restam cerca de 22 anos até que a temperatura global alcance 1,5°C e o aquecimento ultrapasse o limite seguro estabelecido pelo Acordo de Paris, indica um estudo publicado na segunda-feira (18) na revista científica Nature Geoscience.
Pesquisadores da Universidade de Oxford, que conduziram o estudo, liderados por Nicholas J. Leach, introduziram uma métrica alternativa chamada “escala de adaptação/mitigação”, que considera apenas os orçamentos de carbono para os cálculos de aumento da temperatura e tempo.
“A métrica é capaz de fornecer informações valiosas sobre o estado atual do sistema climático e especificar emissões futuras de CO2, além de indicar o tempo restante para que se atinja determinada temperatura e o momento da estabilização da temperatura do planeta”, disse Leach. De acordo com ele, se a liberação de gases poluentes se mantiver, atingiremos o 1,5° C de aquecimento entre 2030 e 2049.
A escala de tempo de Leach é aplicável apenas para alvos climáticos de baixo aquecimento (até 1,5°C), já que em níveis mais elevados (acima de 2°C) podem surgir feedbacks adicionais do ciclo de carbono. Os próprios pesquisadores ponderam que a conta só é válida se os demais gases estufa se mantiverem constantes no futuro. Afinal, mesmo tendo um tempo de vida mais curto na atmosfera do que o CO2, gases extremamente poluentes como o metano também afetam o nível de aquecimento.
“Além de supor que o padrão de emissão dos demais gases de efeito estufa não muda com o tempo, assume que os sumidouros terrestres e oceânicos [de carbono] permanecem inalterados”, disse Carlos Nobre, climatologista da Academia Brasileira de Ciências. De acordo com ele, a capacidade dos oceanos e dos ecossistemas terrestres de absorver o excesso de carbono lançado no ar pela humanidade dá sinais de que pode declinar antes do que se imaginava. E caso isso se comprove, o tempo para chegar ao aquecimento de 1,5°C seria ainda mais curto.
*Texto publicado originalmente em 18/06/2018 no site do Observatório do Clima
Foto: domínio público/pixabay