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Garça não engoliu copo! Ele pode estar dentro de saco plástico envolto em seu pescoço. Força-tarefa ainda tenta resgatá-la 

Desde que o biólogo e veterinário Jeferson Pires alertou sobre uma garça-moura com copo plástico entalado no pescoço, em 2/12, na margem do Rio Morto, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro (contamos aqui), a arquiteta, urbanista e ambientalista Isabelle de Loys não mede esforços para tentar salvar o animal. 

Assim que soube do estado da garça, Isabelle compartilhou as fotos do veterinário e, a partir do dia seguinte (3), passou a visitar diariamente o local onde a ave vive, a fim de monitorá-la e de obter ajuda. Por meio de lives, que gravou todos os dias, incansavelmente, relatou o paradeiro da garça e implorou por uma força-tarefa dos órgãos ambientais: Ibama, INEA – Instituto Estadual do Ambiente, Patrulha Ambiental Municipal, Patrulha Ambiental Militar… 

“Tô pedindo pelo amor de Deus, quem puder acionar esses órgãos, repostar nas redes, por favor! Ela não parece estar bem. Vamos lá gente, vamos nos unir! Este animal tem que ser salvo!”.

A ambientalista Isabelle de Loys fotografa a garça que está visível na outra margem do rio Morto
Foto: reprodução do vídeo da TV Globo

Ela não sabia mais o que fazer diante de tanto descaso, exceto da Patrulha Ambiental Municipal, que ela chamava sempre que chegava ao local. No entanto, seus agentes nada puderam fazer pois carecem de estrutura para atender a esse tipo de resgate: “Não têm barco, nem ferramentas, nem agentes suficientes”.

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Até que, ontem (7) – cinco dias depois do alerta do veterinário! – o jornalista André Trigueiro divulgou o caso na TV Globo: “Vocês se lembram daquela imagem impressionante da garça que engoliu um copo plástico que ficou entalado no pescoço do animal no Recreio dos Bandeirantes. Pois bem, mesmo com os órgãos ambientais acionados, ela continua no mesmo lugar com o copo atravessado”.

Isabelle e Jeferson foram entrevistados. As imagens que ilustram a reportagem são da Reuters, que flagrou a ave bebendo água e tendo dificuldades para se alimentar: “Ela tem um peixe na boca, mas tem dificuldades para engolir”, relata a repórter. Elas também serviram para a análise da situação da garça pelos agentes ambientais, que levou à suspeita de que o copo está fora do corpo e não dentro (falo disso mais adiante).

Neste momento, a garça tentava engolir um peixe, mas logo depois vomitou
Foto: reprodução de vídeo da TV Globo

No mesmo dia, mais cedo, Isabelle havia divulgado a criação de uma plataforma colaborativa – Salvem a garça do copo! – iniciativa dela, de Vitor Barone e a Gávea Lab -, para monitorar a ave. 

Na plataforma, a ambientalista indicou seu celular para que seus seguidores pudessem avisá-la sempre que a vissem – enviando suas coordenadas. E ela orientava também para que ligassem para a Patrulha Ambiental e registrassem pedido de ajuda na Central 1746 de Atendimento ao Cidadão, no RJ, destacando que “somente pessoas autorizadas em resgate podem fazê-lo, caso contrário, podem colocar o animal em risco”. 

Mais tarde, ela foi além, ameaçando denunciar o caso à Justiça: “Se a garça não for resgatada, vamos mover uma ação popular e responsabilizar todos que prevaricaram”.

Uma força-tarefa, finalmente!

Hoje, finalmente – seis dias depois do avistamento da ave! – a tão desejada força-tarefa se concretizou, muito bem equipada com barcos, caiaque, drones…, e contando com a expertise de cada agente. 

“Finalmente, aconteceu a tão esperada mobilização de diversos órgãos. São mais de 30 pessoas do Ibama, INEA, Patrulha Ambiental Municipal, GM [Guarda Municipal], Guarda-Parques, o veterinário [Jeferson Pires], muito legal!”, contou Isabelle. “Isto é inédito, pessoal! Graças à mobilização conseguimos reunir órgãos ambientais de todas as esferas”, completou.

Durante a manhã até próximo de 14 horas, ela gravou várias lives e as publicou em seu perfil no Instagram contando o passo a passo da tentativa de resgate. A ave não estava visível quando chegaram, mas, com o drone, foi possível localizá-la. Tentaram afugentá-la com seu barulho para que ela chegasse mais perto do rio Morto, sem muito sucesso. Ela sumiu novamente. 

Diante desse cenário, os agentes ambientais decidiram colocar uma isca para atrair a garça, deixá-la se acostumar ao local, confiar que está segura. Só assim ela poderá ser capturada. Como tem hábitos noturnos, o ideal é que seja monitorada 24 horas, mas isso ainda ficou de ser resolvido, como comentou Jeferson. 

A isca se constitui de uma plataforma de madeira colocada junto à área onde vive a garça, no qual está amarrada uma macera, doada por uma loja de material de construção (Bazani). Dentro dela, foi colocada uma ceva com sardinha e camarão – “um banquete doado pelos pescadores do Posto 12!”, contou Isabelle – com um pouco de água, para atrair a ave. 

“A gente sabe que ali é uma região que ela frequenta, a ideia é deixá-la se alimentar por uns dias, e depois montar uma armadilha pra tentar fazer a captura”, explicou o veterinário. “Vamos deixar passar uns dois dias, até o animal se aclimatar, se acostumar com a situação, aí a gente monta a armadilha para fazer a captura de maneira segura”.

O monitoramento deve ser revezado entre agentes do INEA e da Patrulha Ambiental, mas isso ainda não havia sido definido quando finalizei este texto. “Agora é torcer pra que ela caia na isca!”, comentou a ambientalista em seu último vídeo, publicado próximo das 14 horas de hoje.

Copo dentro de saco plástico?

Nessa mesma live, Isabelle deu uma ótima notícia: na verdade, a garça pode não engoliu o copo que vemos em seu pescoço.

“Descobrimos que, aparentemente, é um saco plástico, com o copo dentro, que está envolto no pescoço dela. É isso que aparece nas filmagens e nas fotografias [que foram analisadas]. Ficamos mais tranquilos porque não está dentro do pescoço, mas fora [mas continua representando perigo porque a impede de se alimentar]. Por isso que ela está sobrevivendo até hoje”. 

Repare nas imagens abaixo: numa, a boca do copo está voltada para baixo (a foto foi feita por Isabelle no primeiro dia (3) em que foi ao rio Morto para monitorar a garça); noutra, está voltada para cima. Se tivesse sido engolido por ela, não teria como se mexer dentro do pescoço dessa forma e não estaria tão visível, certamente.

Foto: Isabelle de Loys
Foto: reprodução do vídeo da TV Globo

Se for confirmado que se trata de um saco plástico que está amarrado em seu pescoço, a ave será analisada por Jeferson e, se estiver em bom estado, será devolvida à natureza. Se tiver alguma lesão, será levada ao CRAS para que o veterinário a examine melhor e ela passe por reabilitação. Agora, só nos resta aguardar a captura.

O que fica desta história? 

Temos alguns pontos a refletir. O primeiro é sobre a morosidade com que agem os órgãos ambientais em casos como este – alguns muito mal equipados e sem condições de atuar em emergências. Como destacou André Trigueiro, ontem na TV, “mesmo depois dos órgãos acionados”, cinco dias depois de descoberta, a ave continuava sem assistência.

Portanto, a sociedade precisa se unir – como aconteceu neste caso – para cobrar não só maior celeridade na proteção da fauna e da natureza, mas investimentos em infraestrutura.

Outra questão importante é o consumo do plástico de uso único – garrafas, copos, talheres, pratos, canudos -, que têm impactado constantemente a fauna e devem ser banidos, como já aconteceu em outros países, como o Chile. 

“Encontramos frequentemente a presença de plásticos dentro do estômago de animais”, conta Jeferson. “Já tirei a cabeça de uma ‘Pepa Pig’ do estômago de um jacaré!”.

Além disso, é urgente, que o poder público faça investimentos em educação ambiental. Enquanto observava os agentes e o veterinário preparando a macera e a ceva para a garça, Isabelle mostrou o conteúdo de dois sacos de lixo que boiavam no rio Morto, naquele momento. “Resto de quentinha, embalagem, carne, copos… “Educação ambiental é tudo!”, disse. “A garça é apenas a consequência de uma ação nossa complementa insana. Nós devemos nos salvar, o planeta vai continuar. A gente é que não. A gente precisa da natureza para viver!”.

“A vontade que dá é de fazer um mutirão neste rio. Vejam quanto isopor!”, completou a ambientalista.

Por fim, destaco a mobilização popular, que é sempre muito importante não importa a causa. Isabelle foi incansável. Era desesperador vê-la monitorar a garça e pedir ajuda sem retorno nos primeiros dias. Com a ajuda de seus seguidores, amigos, de André Trigueiro, enfim, não estaríamos hoje animados com a possibilidade de salvar a garça-moura – indivíduo da maior espécie de garça do país – que vive na margem do rio Morto (aliás, nome perfeito para sua atual situação).
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Foto (destaque): reprodução vídeo reportagem TV Globo

 

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Pinho
Pinho
2 dias atrás

Quem colocou os plásticos na água deveria ser quem iria engolir!

Janie Garcia
Janie Garcia
2 dias atrás
Responder para  Pinho

A Eduçação Ambiental é urgente e necessária em todas as faixas de idade. É muito importante sensibilizar pessoas para que cuidem melhor da natureza. Reduzir descarte indevido é essencial. Ter empatia é essencial.

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