Gabriel era ainda recém-nascido quando foi encontrado encalhado na Praia de Quixaba, em Aracati, no Ceará, em 2017. Resgatado pela equipe da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), o peixe-boi foi transferido dias depois para um Centro de Reabilitação de Fauna Marinha no Rio Grande do Norte.
O objetivo é que ele fosse treinado para poder sobreviver sozinho na natureza e no futuro, ser reintroduzido na vida livre.
Pois há poucas semanas essa história teve um final feliz! Gabriel estava pronto para viver livre novamente e foi montada uma grande operação para a sua soltura. A reintrodução da espécie no estado foi inédita e fruta da parceria de diversas organizações não-governamentais e públicas.
Gabriel ficou durante cinco anos num recinto de aclimatação no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos do Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (PCCB/UERN). Lá recebeu cuidados de diversos profissionais, uma equipe com biólogos, médicos-veterinários e treinadores.
Logo no início, o peixe-boi foi alimentado com um composto lácteo, oferecido com a ajuda de uma mamadeira subaquática, especialmente desenvolvida para alimentar animais dessa espécie.
Com o passar do tempo, aos poucos, Gabriel foi tendo outros alimentos incluídos na dieta, como capim-agulha e algas marinhas.
Desde o ano passado, o animal estava vivendo na Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, em Diogo Lopes (RN).
“Nesse tipo de recinto os peixes-bois-marinhos conectam-se à dinâmica e oscilação das marés, correntes marinhas e demais condições ambientais, reaprendendo os comportamentos necessários para enfrentar os desafios da vida livre”, explica André Favaretto, analista ambiental do Ibama.
E finalmente, no último dia 31 de maio, com cinco anos de idade, pesando quase 365 kg e medindo 2,62 metros de comprimento, Gabriel ganhou a liberdade. O portão do recinto foi aberto, mas ele não nadou automaticamente para fora e foi preciso que a equipe presente entrasse na água e desse uma “empurradinha” com um cordão humano.
A expectativa é que ele continue na região. Gabriel continuará a ser monitorado para que se tenha certeza de sua perfeita adaptação.
Vista aérea do recinto de aclimatação onde Gabriel ficou antes da soltura
(Imagem: reprodução vídeo Ibama)
O peixe-boi-marinho é considerado o mamífero aquático com maior grau de ameaça de extinção no Brasil. De acordo com o Ibama, a Bacia Potiguar, que inclui o litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte, é recordista nacional de encalhes da espécie, “em sua maioria filhotes recém-nascidos que não conseguiriam sobreviver em vida livre se não fossem resgatados e reabilitados por profissionais especializados, em instalações físicas apropriadas”.
Outros 30 peixes-bois-marinhos encontram-se atualmente em reabilitação e assim como Gabriel, devem ser, gradativamente devolvidos à natureza.
Gabriel, que foi resgatado ainda recém-nascido
(Imagem: reprodução vídeo Ibama)
Extremamente dóceis, os peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) chegam a medir 4 metros de comprimento e pesar até 800 kg. Herbívoros, se alimentam de algas marinhas e folhas de mangue, e ainda de uma planta chamada capim-agulha, daí ter recebido o nome popular de peixe “boi”.
Entre suas principais ameaças estão a captura acidental em redes de pesca, perda de habitat e a ocupação costeira desordenada.
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Foto de abertura: PCCB/UERN e CGMAC/DILIC/IBAMA