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‘Flow’: animação vence Globo de Ouro com história de animais (não humanizados) liderados por um gato, num mundo pós-apocalíptico

'Flow': animação vence Globo de Ouro com história de animais (não humanizados) liderados por um gato, num mundo pós-apocalíptico

Atualizado em 30/1/2025 para indicar nova data de estreia no Brasil
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Esqueça tudo que você já viu em termos de animação, especialmente de estúdios de grande orçamento, que cada vez mais humanizam os animais. Flow é uma produção independente, dirigida pelo letão Gints Zilbalodis, do Dream Well Studio, que uniu produtores da Letônia, Bélgica e França para criar um desenho em que os personagens – quatro animais – miam, latem, chilreiam e se movem de forma realista, como o fariam na vida real.

Apesar das boas críticas e de uma impecável temporada de festivais que começou em Cannes, Flow era considerado “zebra” no prêmio Globo de Ouro, mas foi o grande vencedor da categoria de Melhor Longa-Metragem de Animação.

'Flow': animação vence Globo de Ouro com história de animais (não humanizados) liderados por um gato, num mundo pós-apocalíptico

Enfrentou uma batalha difícil ao competir com Divertida Mente 2 e Moana 2, dois sucessos de bilheteria da Disney/Pixar; O Robô Selvagem, longa da DreamWorks da lenda da animação Chris Sanders; Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl, produção de grande orçamento da Netflix, realizada pela Aardman Animations, vencedora do Oscar; e Memórias de um Caracol, do diretor australiano Oscar Adam Elliot, também vencedor do Oscar.

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E seu segredo talvez resida exatamente no fato de não transformar um gato preto, o protagonista, e seus companheiros – uma capivara, uma garça, um cachorro (golden retriver) e um lêmure – em heróis que falam, têm expressões humanas e usam roupas.

Não há falas porque não há seres humanos. Apenas os sons emitidos pelos animais – dublados por animais reais – e pela natureza. E claro: cada personagem tem algum grau de personalidade, como qualquer bicho: o gato é independente, o cachorro, brincalhão, a garça, orgulhosa…

Com lançamento no Brasil previsto para 30 de janeiro, a Mares Filmes e a Alpha Filmes, responsáveis pela distribuição de Flow nos cinemas nacionais, anunciaram que a estreia foi adiada para 20 de fevereiro.

'Flow': animação vence Globo de Ouro com história de animais (não humanizados) liderados por um gato, num mundo pós-apocalíptico

A história e peculiaridades da produção

A trama é ambientada em um futuro pós-apocalíptico. É o gato que, ao desvendar tudo ao redor, nos apresenta o cenário totalmente tomado pela água. Ele escapa de uma “enchente bíblica”, que submergiu tudo no mundo, incluindo a casa onde morava, e se refugia em um barco onde encontra os outros animais.

Juntos, eles partem numa aventura por um mundo totalmente alagado e sem a presença acolhedora ou perversa de humanos. O que estes deixaram foi apenas um “legado material”. Para quem é esclarecido sobre a atualidade climática do planeta, é quase impossível não pensar que a situação que se apresenta na tela é resultado da crise pela qual passamos hoje. É o mundo sem nós.

E duas curiosidades sobre o gato preto de Flow! Ele foi inspirado em um gato real, que tinha muito medo de água e foi o grande companheiro de Zilbalodis quando ele cursava o ensino médio e sonhava em fazer desenhos de animação. Chegou a rabiscar uma história, mas só resgatou seu sonho agora, com esta animação premiadíssima.

A dublagem ficou a cargo de Miut, a gata de Gurwal Coïc-Gallas, engenheiro de som do longa-metragem. A felina costuma miar muito, daí sua escolha, mas quando Gallas apontou o microfone para ela, se calou, dificultando a captura. Ele teve que instalar microfones por toda a casa para garantir que conseguiria gravar miados e outras reações sonoras da gatinha, como o ronronar.

'Flow': animação vence Globo de Ouro com história de animais (não humanizados) liderados por um gato, num mundo pós-apocalíptico

Quanto à escolha dos outros três animais, nada descobri. Por que um lêmure? Inspiração em Madagascar? E um cachorro da raça Golden retriver? Por ser bonachão? Uma ave pernalta como a garça? A escolha terá sido devido a suas personalidades e habilidades absolutamente distintas?

Inclusão

A vitória de Flow no Globo de Ouro – assim como a de Fernanda Torres, como melhor atriz de drama (como contei aqui) –, indica como, nos últimos anos, a premiação se tornou mais inclusiva em relação a títulos independentes e internacionais, especialmente se comparada a grandes prêmios de Hollywood.

No ano passado, por exemplo, a animação Suzume, de Makoto Shinkai, recebeu indicação surpresa e, em 2023, Inu-Oh, de Masaaki Yuasa, também fez uma aparição inesperada na lista, mas muito bem-vinda, ao lado de Marcel the Shell with Shoes On, de Dean Fleischer-Camp. Este ano, outra indicação surpreendente foi a do desenho australiano, em stop-motion, Memórias de um Caracol.

Mas, certamente, o reconhecimento obtido por Flow em festivais e outras premiações, antes de chegar ao Globo de Ouro, ajudou um bocado na conquista do prêmio.

Representado por especialistas em animação da Charades de Paris, o filme estreou mundialmente em Un Certain Regard, mostra paralela à seleção oficial do Festival de Cannes, e ganhou prêmios nos festivais de Annecy, Guadalajara, Ottawa, Melbourne e de Sevilla (onde ganhou três prêmios: Puerto América, melhor montagem e grande prêmio do júri), como também os prêmios da Academia Europeia de Cinema (EFA, na sigla em inglês), da Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles e do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York.

No próximo domingo, 12/1, ainda competirá pelo Critics Choice Award (Escolha da Crítica), prêmio indicado por críticos de cinema ou jornalistas de TV que realizam cobertura de uma ampla gama de filmes.

No que depender do site americano agregador de críticas de cinema e televisão Rotten Tomatoes, Flow já ganhou! A animação obteve 96% de aprovação da crítica especializada, com base em 84 análises, e 94% de aprovação do público.

Democratização, confiança e superação

O fato de Flow “abocanhar” um Globo de Ouro também sinaliza o reconhecimento da democratização do processo de animação já que ele foi criado com um software gratuito e de código aberto amplamente usado por animadores independentes e amadores: o Blender.

De comum com as megaproduções de estúdios hollywoodianos, a animação tem apenas o uso de 3D. E ainda despreza texturas, optando por desenhos chapados e cores desbotadas. 

Tudo isso prova que o grande sucesso nesse meio parece aberto a qualquer criador talentoso, não apenas aqueles que trabalham em grandes estúdios.

No discurso de agradecimento, Zilbalodis, de 31 anos, reconheceu a importância de seu pequeno filme ganhar o prêmio, não apenas para todos os profissionais envolvidos, mas também para a indústria cinematográfica da Letônia. 

“Este filme é feito por uma equipe jovem, mas muito apaixonada, em um lugar onde não há uma grande indústria cinematográfica. Então, esta é a primeira vez que um filme da Letônia está aqui, e isso é enorme para nós”, declarou o diretor.

“Esta é também uma história muito pessoal para mim porque eu costumava trabalhar sozinho. Fiz todos os meus filmes, sozinho, mas, desta vez, trabalhei com uma equipe e, assim como o gato de Flow, tive que aprender a confiar nos outros e a colaborar e superar diferenças. Acho que é muito importante lembrar disto hoje”, acrescentou.

A seguir, assista ao trailer de Flow e observe um pouco de tudo que contei aqui:

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Imagens: Janus Films / divulgação

Com informações do Globo de Ouro, The Guardian, Variety, Mashable

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Maristela
Maristela
3 meses atrás

O problema que a gente não consegue assistir, queria muito conseguir ver

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