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Os biólogos Giovanna Leite e Bruno Sartori são guias no Onçafari, localizado em área do Refúgio Ecológico Caiman (que abriga o hotel Caiman Pantanal), com mais de 53 mil hectares em Miranda, no Mato Grosso do Sul. Ela chegou e ele voltou à organização no ano passado e, desde então, diariamente os dois registram tudo que veem de exuberante e marcante em suas andanças por essa região do Pantanal. Também são excelentes fotógrafos.
Esta semana, eles foram surpreendidos com o resultado do concurso do maior festival de fotografia da América Latina (e um dos quatro maiores do mundo), o Brasília Photo Show (BPS) – Festival Internacional de Fotografia.
Os dois conquistaram medalhas de bronze nas categorias Natureza (ela) e Jornalismo Documental (ele). A lista de todos os vencedores está aqui e os medalhistas de bronze, aqui.
A premiação virtual dos vencedores (quem tiver interesse em assistir, está disponível no YouTube) aconteceu em 8/2 e a cerimônia de premiação será realizada durante a próxima edição do festival, que acontecerá de 4 a 6 de abril, em Brasília, quando a capital se transformará na ‘Cidade da Fotografia’. Sua programação será composta de exposições, rodas de conversa, debates e palestras.
A importância da fotografia para a conservação
Giovanna se inscreveu no prêmio com o flagrante de um animal raro, que batizou de ‘O cuidado’. Capturou um momento muito terno entre um filhote de veado campeiro albino e sua mãe (contamos aqui), em março de 2024, que reproduzo abaixo. Impossível não se emocionar com a imagem.
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Foto: Giovana Leite
Esse filhote foi avistado e fotografado pela primeira vez em outubro de 2023, num safari na região da Caiman, por Gustavo Figueiroa, biólogo e diretor de comunicação do Instituto SOS Pantanal. Um mês depois, foi Fábio Paschoal, jornalista, fotógrafo e então guia do Onçafari, quem fez o registro.
“Imagens como esta tocam o coração das pessoas e saber que meu trabalho desperta essa emoção me enche de força para seguir em frente. Mais do que isso, esta fotografia dá voz à biodiversidade brasileira”, conta a bióloga. “Sinto que essa imagem merece ser vista, especialmente porque foi capturada em um ambiente 100% seguro – a Caiman Pantanal– onde não há ameaças como caça e desmatamento”.
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Foto: arquivo pessoal
“Ela comprova, sem dúvida, que a biodiversidade preservada é inestimável. A conservação e o respeito à natureza neste lugar nos permitem viver interações como essa, transmitindo uma mensagem superimportante. E tudo isso reflete o trabalho incansável do Onçafari, que há anos se dedica ao estudo, monitoramento e conservação da fauna brasileira. Com essa repercussão, ganhamos ainda mais força para seguir nessa jornada fundamental pela proteção da natureza”, acrescenta.
“Este prêmio representa, sem dúvida, o reconhecimento do trabalho realizado pela Caiman e pelo Onçafari. Mas, além disso, exalta a importância dos fotógrafos de conservação e natureza, uma missão que venho abraçando há anos”, finaliza Giovanna.
Homenagem aos brigadistas: visibilidade e conscientização
Bruno é biólogo, recém-formado pela Unesp de Bauru (SP), trabalhou como guia, no Onçafari, nos anos 2021 e 2022, e retornou no início do ano passado, como guia de safari e biólogo.
Meses depois, em 17 de junho, flagrou um momento dramático dos brigadistas – homens e mulheres –, que atuavam no combate aos incêndios que devoravam o Refúgio Caiman – 80% de sua área foi destruída pelo fogo. Nesse ano, o Pantanal perdeu mais de 2.6 milhões de hectares.
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Foto: Bruno Sartori
Com esse registro contundente – que chamou de ‘Coragem em Meio ao Fogo’ -, ele homenageia aqueles que lutam para driblar o avanço do fogo no solo e na vegetação do bioma, e podem perder a vida.
“Nesses dias, a equipe toda do Onçafari se dedicava a ajudar os brigadistas, distribuindo alimentos e tentando encontrar os pontos de onde saía o fogo, com o objetivo de criar uma estratégia para tentar diminuir o estrago”, conta.
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encontro do fogo para tentar salvar o bioma”, conta Bruno
Foto: arquivo pessoal
“Esta foto foi feita pela manhã, às 11h, num dia em que eu estava na missão de suporte e apoio aos brigadistas que atuavam em áreas mais remotas. Nesse momento, eles estavam controlando uma área, o fogo virou e voltou, atingindo outra. Eles correram em direção a esse foco, que estava se reiniciando muito próximo numa área que ainda não havia sido queimada”.
E Bruno justifica: “Minha intenção com esse trabalho e com a inscrição no prêmio é justamente a de contribuir para dar mais espaço para essas pessoas que trabalham no combate aos incêndios. É uma homenagem à coragem e ao trabalho de quem correr ao encontro do fogo para tentar salvar o bioma, o Pantanal, mas também o Cerrado, todos os biomas”.
“Pensando nas oportunidades que temos aqui [no Onçafari], essas histórias merecem ser contadas. A gente sabe que quanto mais pessoas tiverem contato com esses acontecimentos e entenderem a importância da fauna e do ambiente preservados, mais interesse elas vão ter em proteger essas áreas”.
A dimensão que os incêndios ganharam no Pantanal o levou a inscrever a imagem na categoria Jornalismo Documental. Decisão acertada que o levou à conquista da medalha. “Fui surpreendido porque este é o maior festival de fotografia da América Latina!”, destaca, dizendo que o que sente com a premiação é um pouco conflituoso.
“Me sinto dividido por ter conquistado a medalha com o registro de um momento tão difícil e delicado, pelo qual passamos no ano passado. Mas, ao mesmo tempo, tenho a sensação de ‘dever cumprido’ por ter contribuído para dar visibilidade para a gravidade dos incêndios, para os brigadistas e, também, ver reconhecido o trabalho que nós, guias e biólogos, desenvolvemos ao revelar a exuberância da fauna e da paisagem do Pantanal, como também momentos de destruição”, finaliza.
O festival e o prêmio
Considerado o maior festival de fotografia da América-Latina, com mais de 120 mil participantes em dez anos, o Brasília Photo Show é um dos quatro maiores eventos do gênero no mundo.
Idealizado em 2015 pelo fotógrafo Eduardo Vergara, o festival partiu do livro Brasília Photo Show de 2013, que reunia fotos da capital federal com “o objetivo de oferecer, ao turista da Copa do Mundo de 2014, um retrato completo da cidade anfitriã do maior evento esportivo que nosso país já havia recebido”, conta o site do evento.
Foi durante uma viagem à Hollywood que Vergara teve a ideia de produzir o ‘Oscar da Fotografia’, tendo Brasília como cidade sede do primeiro Festival Internacional de Fotografia, o Brasília Photo Show, em 2015.
Seu objetivo era impulsionar a economia criativa no mercado fotográfico e, também, a geração de imagens realizadas tanto com câmera digital como com celular. Em 2023, foram incluídas, entre as categorias (que agora são 20), “a inteligência artificial e a edição de imagens como propulsores criativos”, destaca o site.
Além do fomento criativo, “o festival revela talentos que em todas as edições mostram alto nível criativo e técnico, o que encoraja centenas de pessoas – de todas as idades, nível cultural e social -, a ingressarem nos negócios da fotografia e da edição de imagens”.
Em função do BPS, desde 8 de fevereiro, Brasília tem sido palco de uma extensa programação organizada pelo festival, que começou com a premiação virtual dos vencedores e o lançamento de exposição no Museu de Arte de Brasília (MAB), com 400 fotos vencedoras (até 25 de maio), além de uma exposição digital com as mil fotos semifinalistas (veja a lista de todas as obras e seus autores).
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Fotos (destaque): Giovanna Leite (veado campeiro albino) e Bruno Sartori (incêndios no Pantanal)