Entre o grupo de anfíbios conhecido como anuro, do qual pertencem sapos, rãs e pererecas, o acasalamento pode ser bastante agressivo entre algumas espécies. Machos assediam as fêmeas em grandes números, as intimidam e as obrigam a copular, formando um emaranhado de corpos. Há evidências científicas que apontam uma alta mortalidade entre elas durante o período dessa chamada reprodução explosiva. Muitas acabam se afogando.
Todavia, ao realizar estudos sobre a existência de algum tipo de preferência do tamanho do corpo da fêmea entre os sapos da família Ranidae, com distribuição na Europa e noroeste da Ásia, pesquisadores fizeram uma descoberta surpreendente.
Para tentar escapar ao assédio brutal dos machos, muitas fêmeas se fingem de mortas. Literalmente. Entre outras estratégias então desconhecidas. Acreditava-se até agora que elas se submetiam passivamente ao desespero deles para se reproduzir. Mas não é bem assim.
“Nosso estudo fornece evidências claras de que as fêmeas, mesmo em densas agregações de acasalamento, são menos indefesas do que geralmente se supõe”, descreveram os autores do artigo científico publicado na Royal Society Open Science. “Observamos três comportamentos diferentes das fêmeas tentando evitar os machos, entre eles, a imobilidade tônica, quando elas se fingem de mortas”.
A ecologista Carolin Dittrich e o herpetologista Mark-Oliver Rödel, do Instituto Leibniz para a Evolução e Ciência da Biodiversidade, na Alemanha, observaram a interação entre diversos grupos de fêmeas e machos.
No total, 54 delas foram agarradas por sapos que tentavam acasalar. 83% daquelas que tentavam escapar do acasalamento giravam o corpo. Os pesquisadores suspeitam que esse comportamento pode ser uma tentativa de analisar a força e a resistência do macho ou tentar afogá-lo.
Outros 48% delas começaram a cantar, ou seja, imitaram a vocalização dos machos para tentar ludibriá-los. E mais de 30% das fêmeas utilizaram a estratégia do fingir de morta. Elas estenderam seus membros, que ficaram rígidos e ignoraram solenemente os vorazes reprodutores.
“A imobilidade tônica pode ser uma opção melhor para uma fêmea do que lutar para escapar”, afirmam Carolin e Rödel, “já que qualquer movimento em um grande grupo de acasalamento atrai automaticamente a atenção de outros machos próximos e, portanto, aumenta a probabilidade de formação de uma bola de acasalamento”.
Momento da reprodução “explosiva”, em que vários machos buscam as fêmeas
(Foto: Pavel Kirillov from St.Petersburg, Russia, CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons)
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Foto de abertura: Kramthenik27, CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons