Sete cavalos entram na pista. A plateia esperava por modelos humanos, que apareceram na sequência. Mas os bichos galopando no “palco” de um dos desfiles da Semana de Moda de Paris mexeu com o público.
Os animais permaneceram no local, o estábulo da École Militaire, durante toda a apresentação, sob o comando de Jean-François Pignon, conhecido como “o encantador de cavalos”. Ele está há 30 anos a frente dessa ecola de equitação, a mais antiga da França. E foi justamente nesse ponto que a polêmica se criou.
Stella McCartney, a estilista inglesa que se coloca como porta-voz da defesa dos animais na moda, recebeu críticas. Ao longo do desfile, os cavalos soltos obedeciam ao treinador, atuando individualmente ou em formação. Ativistas da causa animal são fortemente contrários ao uso dos bichos para entretenimento humano, como em circos.
“Compartilhando o amor de Stella pelos animais, seus cavalos educam os outros sobre laços, confiança e respeito entre humanos e nossos semelhantes”, explicou a marca em nota.
Stella McCartney sugeriu que queria mostrar animais vivos, e roupas sem o uso de bichos na passarela.
“Há muito couro, peles e penas nas passarelas, principalmente no inverno. Eu só queria mostrar os animais de uma maneira diferente”, disse a estilista ao jornal The Guardian. “Estes animais estão vivos e minhas roupas não mataram nada”, argumentou.
O desfile da estilista dentro de um estábulo
(Foto: Stella McCartney/Studio Premices)
O tema já está na pauta da indústria da moda há uns bons anos. E a estilista britânica se apresenta como “ativista que dá voz à Mãe-Terra, nossos amigos animais e em solidariedade a todos os humanos”.
A designer desenvolveu para a coleção peças confeccionadas a partir de materiais feitos com resíduos de uvas, maças e cogumelos. Em várias roupas havia estampas de cavalos e alguns casacos de inverno foram produzidos com pele sintética, lembrando a desses animais.
A estilista cresceu montando cavalos, assim como a mãe e a irmã
(Foto: Stella McCartney/Studio Premices)
Stella é filha de Paul McCartney, um dos maiores astros da música mundial, do quarteto antológico “The Beatles”. Paul é vegetariano e faz campanhas em prol dos animais como a “Segunda Sem Carne”.
No site da marca da estilista, apresentada como “Sustainable Luxury Fashion”, há um detalhamento sobre os materiais sintéticos usados em suas coleções e que imitam pele ou couro.
Apesar da polêmica em Paris, a organização internacional PETA, conhecida por suas campanhas contundentes contra qualquer tipo de abuso animal, incluindo no universo da moda, veio a público defender o desfile de Stella.
“A PETA tira o seu chapéu vegano para a pioneira da moda amiga dos animais Stella McCartney, que reafirmou porque a amamos ao afirmar, antes do desfile, que seus designs fabulosos são feitos de maçãs, cogumelos, microfibra e outros materiais interessantes, uma lição para qualquer designer ainda usando pele, couro ou peles exóticas para atender”, escreveu em nota.
Peça com estampa de cavalo e os animais, vivos, ao fundo
(Foto: Stella McCartney/Studio Premices)
Já a organização Animal Aid criticou a decisão de levar cavalos para a passarela, especialmente uma raça selvagem, em um ambiente fechado e disse que era ‘eticamente questionável’. Estamos surpresos que Stella McCartney esteja usando cavalos, muito menos a sensível raça Camargue em seu show”, ressaltou.
Ainda segundo a ONG, a raça foi explorada durante séculos devido à sua pequena estatura e temperamento calmo.“Eles são inteligentes e sensíveis e é por isso que sobreviveram na região selvagem de Camargue, na França, por tanto tempo. Desfiles de moda não são lugar para cavalos. De acordo com sua moral vegana, Stella McCartney deveria parar de usá-los em qualquer desfile de moda futuro”, concluiu a Animal Aid.
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Foto de abertura: divulgação Stella McCartney