António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, foi direto ao ponto durante seu discurso na abertura dos trabalhos da Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, no Egito.
“Em apenas alguns dias, a população do nosso planeta cruzará um novo limite. O membro de número 8 bilhões da nossa família humana nascerá. Este marco coloca em perspectiva o que é esta conferência do clima. Como responderemos quando o “bebê 8 bilhão” tiver idade suficiente para perguntar: O que vocês fizeram pelo nosso mundo – e pelo nosso planeta – quando tiveram a chance?“, perguntou Guterres a líderes globais que estão presentes no encontro, entre eles, os representantes de algumas das maiores potências econômicas Rishi Sunak, o novo primeiro-ministro do Reino Unido, e Emmanuel Macron, presidente da França.
Guterres alertou que no atual ritmo não existe a menor chance de cumprirmos o que foi acordado em 1995, na COP de Paris, quando quase 200 nações se comprometeram a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa para limitar o aumento da temperatura global a, no máximo, 1,5oC, até o final desse século.
“O tempo está passando. Estamos na luta pelas nossas vidas. E estamos perdendo. As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo. As temperaturas globais continuam subindo. E nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível. Estamos numa estrada para o inferno climático com o pé ainda no acelerador“.
O secretário-geral da ONU ressaltou que a guerra na Ucrânia desviou o foco do mundo, que parece não ter ainda a noção da catástrofe que iremos enfrentar, e muitos países já estão, diante dos efeitos da crise climática.
“A mudança climática está em uma linha de tempo diferente e numa escala diferente. É a questão definidora de nossa era. É o desafio central do nosso século. É inaceitável, ultrajante e autodestrutivo colocá-la em segundo plano”, disse Guterres.
Para ele, se as atividades humanas são as principais responsáveis pelo aquecimento global, é o homem que tem o poder de reverter essa situação. A ciência é clara: emissões de carbono precisam ser zeradas até 2050.
Guterres se dirigiu aos países do G20 para que acelerem sua transição AGORA – nesta década -, para uma economia descarbonizada e assumam essa liderança. E ressaltou que as economias emergentes também são fundamentais para dobrar a curva de emissões globais.
“Conclamo um pacto histórico entre economias desenvolvidas e emergentes – um Pacto de Solidariedade Climática. Um pacto em que todos os países façam um esforço extra para reduzir as emissões nesta década em linha com a meta de 1,5oC. Um pacto no qual os países mais ricos e as instituições financeiras internacionais ofereçam recursos e técnica para ajudar as economias emergentes a acelerar sua própria transição de energia renovável. Um pacto para acabar com a dependência de combustíveis fósseis e a construção de novas usinas de carvão – eliminando gradualmente o carvão nos países da OCDE até 2030 e em todos os outros lugares até 2040.
E ele deu um recado direto ainda a Estados Unidos e China.
“Essas duas economias têm a responsabilidade particular de unir esforços para tornar este pacto uma realidade. Esta é a nossa única esperança de cumprir nossas metas climáticas. A humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer. Ou é um Pacto de Solidariedade Climática – ou um Pacto Coletivo de Suicídio”, finalizou.
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Foto de abertura: reprodução Facebook UN Climate Change