
Espécie protegida na União Europeia, o urso-pardo vai virar iguaria na mesa dos eslovacos em breve. Isto porque seu governo acaba de aprovar planos para o abate de 325 ursos – ¼ da população total, que é de 1.300 indivíduos – e a venda de sua carne.
O abate se deve ao número crescente de encontros de ursos com humanos, incluindo ataques fatais que, para o governo, se devem à superpopulação de ursos no país.
Por isso, os animais se tornaram uma questão política no país, que ocupa o segundo lugar na Europa, atrás da Romênia (que abriga cerca de 13 mil ursos-pardos), em quantidade de ataques.
Entre os anos 2000 e 2020, foram registrados 54 ataques de ursos e a média tem aumentado em 10 por ano, de acordo com dados divulgados pelo governo.
Evitar desperdício
Conservacionistas e políticos da oposição (também no Parlamento Europeu) são contra o abate visto que o urso-pardo figura nas listas de espécies ameaçadas da UE – onde é considerado ‘quase ameaçado’– e da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) – na qual está indicada como ‘em declínio’.
Mas o governo ignora os protestos e anunciou, esta semana, que a carne dos ursos abatidos será vendida ao público porque sua carne é comestível e para evitar desperdício, já que os animais serão mortos de qualquer forma.
Filip Kuffa, ministro de Estado, declarou que seria um desperdício que os animais fossem enviados diretamente para instalações de descarte de carcaças. “Vamos soltar todos os animais abatidos que atenderem às condições para consumo”.
Assim sendo, a partir da próxima semana, órgãos subordinados ao Ministério do Meio Ambiente poderão oferecer a carne para consumo, desde que sejam atendidas as condições legais e higiênicas estabelecidas.
Ambientalistas defendem a prevenção
“Não podemos viver em um país onde as pessoas têm medo de entrar na floresta“, decretou o primeiro-ministro Robert Fico, confirmando que seu governo caçará até 350 ursos-pardos — número equivalente à população total da espécie na Espanha.
Para os grupos ambientalistas, o foco deveria ser a prevenção.
Em entrevista à BBC, Michal Wiezik, ecologista e eurodeputado do partido de oposição Eslováquia Progressista, disse que o plano do governo é “absurdo” e que já havia falhado em limitar o número de ataques “pelo abate sem precedentes desta espécie protegida”. Segundo ele, milhares de encontros de ursos com humanos por ano transcorrem sem incidentes.
Miroslava Abelova, do Greenpeace Eslováquia, classifica o plano de abate como “completamente imprudente” e acusa o governo de ignorar as leis de conservação e os laudos científicos.
Ela lembra que o urso-pardo é estritamente protegido pelas diretrizes da UE e só podem ser mortos em casos excepcionais – como ameaças à segurança pública –, quando não há alternativa.
Iguaria perigosa
A carne de urso é considerada iguaria apenas em algumas regiões da Europa, como partes na região oriental e nos países nórdicos. Isto porque, na maioria dos estados-membros da UE, as regras rígidas de caça e o status de proteção dos ursos impedem que a carne seja considerada disponível.
Geralmente, as carnes de urso-pardo vendidas provêm de abates controlados ou caça licenciada e não são facilmente encontradas em restaurantes ou lojas. Nas regiões onde essa carne é consumida, as autoridades locais alertam para o risco de Trichinella, parasitaque pode causar febre generalizada, dor abdominal, diarreia, náuseas, vômitos ou mialgias (dores musculares), além de miocardite e encefalite.
De acordo com regulamento de Segurança Alimentar da União Europeia toda a carne de urso deve ser testada para larvas de Trichinella antes de ser vendida.
Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA determina que a temperatura ideal para o cozimento é de, pelo menos, 70 graus Cº para matar o parasita. E não adiantar congelar, defumar ou secar a carne para se livrar do parasita.
________
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular.
Leia também:
– Depois de 150 anos, urso pardo é visto em parque na região da Galícia, na Espanha
Com informacoes da BBC
Foto: Bob Mc Leod / Unsplash