A interação entre homens e animais ganhou dimensões muito mais abrangentes do que as existentes há algumas décadas. Tendo em vista as preocupações com a conservação da natureza e também com o bem-estar animal, a população em geral tem se mostrado mais sensibilizada para a importância da sobrevivência e da manutenção adequada dos animais, bem como com a necessidade de contribuir para que espécies em risco tenham possibilidades de perseverarem.
Atualmente nas cidades, especialmente em municípios como Curitiba que adotou uma gestão com ênfase para as questões relacionadas ao meio ambiente, cada vez mais se observa que as espécies de animais silvestres estão se adaptando à convivência urbana.
Também, de modo geral, as pessoas têm dedicado mais atenção ao observar a natureza e assim, demonstrado extrema preocupação com a descoberta de animais silvestres presentes nas áreas urbanas. Exemplos rotineiros disso são registrados diariamente. Selfies com as capivaras nos parques e pedidos de informação sobre elas junto à prefeitura, o interesse pelas garças e socós no Passeio Público – parque mais central da capital -, o encontro com aves, como sabiás e joão-de-barro, andando pelas calçadas. Em todos esses lugares, os animais silvestres circulam livremente, compartilhando o espaço público com a população.
Todavia, muitas vezes, ao se deparar com esses animais, até mesmo de modo impulsivo, as pessoas tendem a adotar a atitude de recolhê-los, retirando-os do ambiente e das condições aos quais estão habituados, causando assim prejuízos para a qualidade de vida desses indivíduos.
Mas quais as orientações apropriadas em relação aos animais silvestres em ambiente urbano?!
Se for um filhote, situação típica com a chegada da primavera e do período reprodutivo de diversos grupos da fauna brasileira, e se o mesmo estiver visualmente em condições físicas adequadas, a opção mais recomendada e segura é não interferir e deixá-lo onde está. Além do estímulo à independência fazer parte do aprendizado, o que justificaria a constatação do animal momentaneamente sozinho, a presença dos pais nas proximidades é fator primordial para garantir maiores chances de sobrevivência aos descendentes.
Grande parte das crias depende intensamente de cuidados dos genitores (alimentação, principalmente) e a sua remoção do local acarretaria na separação da família, com consequente interrupção dos processos de cuidado parental e de aprendizagem. Nesses casos, com a intenção genuína de ajudar, podemos acabar minando as chances de sobrevivência dos filhotes que, sem dúvida, são muito maiores com eles próximos dos pais.
Se forem aves que caíram dos ninhos muito jovens, e especialmente, caso estejam em local de risco iminente de ataque por predadores (cães ou gatos, por exemplo), o auxílio físico deverá ser providenciado com a remoção do animal a um local seguro. É razoável colocá-lo o mais próximo possível do ambiente onde foi encontrado, a fim de preconizar a manutenção do contato e do vínculo com os progenitores, que certamente irão procurá-lo e, mesmo fora do ninho, continuarão lhe fornecendo alimentos. Estruturas que simulam os ninhos podem ser utilizadas e colocadas em local estratégico, acomodando adequadamente e garantindo segurança aos filhotes.
Como mencionado acima, nesta época do ano, algumas espécies estão se reproduzindo e isso faz com que as fêmeas fiquem mais lentas e busquem locais seguros para ficarem com os filhotes. Um exemplo bastante comum é a presença de gambás em imóveis urbanos. Nesses casos, basta espantá-los calmamente para fora de casa/quintal ou então, deixá-los em paz. Trata-se de uma espécie importante para o equilíbrio ecológico, pois se alimenta de carrapatos, baratas, ratos e cobras, ajudando no controle dessas populações.
Ressalta-se que devem ser tomados todos os cuidados de proteção ao realizar a contenção e o manejo de animais silvestres, devido à imprevisibilidade de reações e ao risco de ocorrência de acidentes. Tal preocupação é válida mesmo quando se tratar de animais jovens, pois em resposta de proteção ao filhote, os pais (que deverão estar por perto) podem investir contra as pessoas.
Se for um animal com elevado potencial agressivo e que seja uma ameaça à população, ou ainda, que corra risco de morte, procure informar a autoridade local – guarda-parques, monitor ou guarda municipal – com a finalidade de evitar acidentes e de estabelecer as medidas de encaminhamento mais adequadas para a situação.
Outra recomendação importante: nunca abandone o seu bicho de estimação. Animais criados em cativeiro não aprenderam a sobreviver livres no meio ambiente e, de modo geral, desenvolveram dependência constante de cuidados e de atenção do ser humano. A soltura tende a resultar na morte desses indivíduos, ou ainda, a ocasionar a sobrevivência e a adaptação em ambiente alheio, o que seria tão lastimoso quanto, uma vez que poderiam se tornar espécies exóticas invasoras, sem predadores naturais e com potencial exorbitante de danos ecológicos locais.
Nesse contexto, é também importante nunca retirar um animal silvestre de seu habitat e nem o transportar para outros espaços. Algumas espécies são únicas e estritamente presentes naquele habitat, o que chamamos de espécies endêmicas. O seu transporte para outros locais e a soltura indiscriminada, especialmente noutras cidades e regiões, poderão acarretar uma expansão populacional em detrimento de outra espécie nativa, ocasionando um desequilíbrio ambiental.
Vale a pena destacar também que “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida” se caracteriza crime ambiental contra a fauna, conforme Capítulo V – Seção I da Lei Federal nº 9.605/1998.
Portanto, se você se deparar com qualquer indivíduo da fauna silvestre em áreas de mata nativa e de proteção ambiental, parques, bosques ou mesmo no quintal de sua casa, procure apenas observar e admirar. Desfrute do privilégio da proximidade com a natureza mesmo em ambiente urbano e até fotografe, porém sempre respeitando a convivência harmônica entre os humanos e as demais espécies animais.
Caso seja viável, anote o lugar e o momento do avistamento e informe aos profissionais da área na sua região, para que possam manter o monitoramento se julgarem relevante. Se você tiver dúvidas sobre indivíduos e/ou populações de animais silvestres da região, os órgãos públicos de meio ambiente costumam possuir em seu corpo técnico profissionais habilitados que poderão ser consultados.
*Este artigo teve a colaboração de Lucyenne Giselle Popp Brasil Queiroz e Patrícia Weckerlin
Foto: domínio público/pixabay
Pois é, o meu cachorro, infelizmente matou 4 gambás, incluindo a mãe, mas sobrou 1 que eu tô cuidando, pq já acionei os órgãos competente e disseram que não pegam filhotes. Não sei mais o que fazer 😔! Por favor me dê uma solução:
Tatiana,
Você já ligou para a Linha Verde do Ibama pelo telefone 0800-618080 ou para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente da sua cidade?
Abraço,
Suzana
Tempo atrás um gambá apareceu no meu quintal, mas não conseguiu sair porque os muros são altos. Tentei contato com o órgão responsável em Itajaí (SC), mas deram de ombros, falaram que não resgatam gambás. Foram 3 dias que não deixamos o cachorro sair, até que consegui ajuda dos porteiros do prédio, que ajudaram a pegá-lo com cuidado pra logo depois soltarmos na mata.
Encontrei um jabuti na minha chácara, que é beira rio. O que fazer? Como saber se é selvagem ou de alguma chácara vizinha? Já perguntei mas não encontrei possível dono. Como devo proceder? Solto de novo? Será que consegue sobreviver na natureza?
Sou residente em Uberlândia-MG e estou com uma situação envolvendo ave silvestre de rapina. Tenho na janela da minha casa um ninho de quiriquiri (Falco sparverius) com 3 filhotes, hoje com 20 dias de idade. Ocorreu que pelo menos dois deles contrairam trichomoníase aviária. A questão é capturá-los e levar à delegacia ambiental ou deixar a natureza seguir seu curso? Ou o quê?