Em Cayo Santiago, uma pequena ilha de Porto Rico, pesquisadores do Imperial College London descobriram que macacos rhesus machos têm mais interações sexuais com outros machos do que com fêmeas, e que talvez seja um comportamento natural da espécie.
Os cientistas ainda identificaram que esta prática pode facilitar o desenvolvimento de alianças, o que é altamente positivo para a reprodução: eles tiveram mais filhotes do que outros que fizeram sexo apenas com fêmeas. É como se o impulso para ‘transar’ com fêmeas e reproduzir aumentasse.
“Identificamos o completo oposto do que se dizia: que, geralmente, quanto mais animais homossexuais” [ou seriam bi?] “existissem, menos bebês eles teriam”, comentou Vincent Savolainen, professor de biologia orgânica no Imperial College London, no Reino Unido, ao site Live Science.
“Descobrimos que esse comportamento ajuda os machos a formar coalizões – quando eles se unem fazendo sexo, eles lutam juntos contra outros machos [com quem não estão fazendo sexo]”, completou Savolainen. “Como resultado, eles provavelmente levam vantagem no grupo, acessam mais fêmeas e acabam tendo mais bebês”. Veja só!
Vale destacar que a colônia que reúne mais de 1.700 macacos rhesus (Macaca Mulatta) livres, conhecida como Monkey Island, em Cayo Santiago, foi formada na década de 1930 para fins de pesquisa.
A descoberta foi divulgada no artigo Same-sex sociossexual behaviour is widespread and hetitable in male rhesus macaques publicado ontem, 10 de julho, na revista Nature Ecology and Evolution.
Influência da genética
Em 2017, 2019 e 2020, a equipe de pesquisadores registrou a frequência com que macacos machos montaram ou foram montados por outros machos e, também, com que frequência machos montaram fêmeas.
O resultado: 72% dos machos fizeram sexo entre si, enquanto apenas 46% se relacionaram com fêmeas. Para distingui-los com facilidade, os cientistas usaram marcações tatuadas nos 263 macacos do grupo analisado.
Anteriormente, os cientistas já haviam observado indivíduos do mesmo sexo de outras espécies de primatas, como também de insetos, répteis e pássaros, mas esse comportamento foi considerado raro.
Como todos os filhotes desses macacos são presos e genotipados (para analisar a sequência de seu DNA e identificar a composição genética, revelando características herdadas dos pais) para determinar sua linhagem, a equipe pode observar a influência da genética na probabilidade de um macaco macho fazer sexo com outros machos.
Os pesquisadores compararam sequências de DNA em amostras genéticas coletadas dos macacos com seus hábitos sexuais e descobriram que fatores genéticos podem ajudar a explicar 6,4% do comportamento sexual observado, com as diferenças restantes aparentemente relacionadas a fatores ambientais.
Esta é a primeira vez que pesquisadores podem dizer que o comportamento homossexual nesses animais foi em parte baseado na genética.
Savolainen também chamou a atenção para o fato de que, como o comportamento é hereditário (até certo ponto), é possível que seja selecionado no processo de seleção natural, quando genes que aumentam o sucesso reprodutivo de um animal se tornam mais difundidos em uma população.
Preconceito
Agora, o próximo passo da pesquisa será definir que genes podem desempenhar esse papel. “Vamos sequenciar o genoma de todos esses animais para descobrir isso”, declarou Savolainen, acrescentando que, tais descobertas, podem inclusive ajudar a alterar a forma como entendemos a homossexualidade entre humanos.
“Nós compartilhamos um ancestral com os macacos rhesus e, neste estudo, argumentamos que talvez, em nosso passado, o comportamento homossexual possa ter evoluído em humanos e, talvez, também tenha sido benéfico, como vemos nos macacos”, explicou o pesquisador.
Para o pesquisador, se essas descobertas científicas ajudarem não só a transformar a forma como vemos (e julgamos) a homossexualidade, mas também, de acabar com o preconceito contra pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo, esse já será um resultado altamente positivo e importante da pesquisa da equipe do Imperial College London.
Foto: Imperial College London/divulgação
Fontes: G1, Live Science, Nacional Library of Medicine