A campanha ‘Salve Pedro’ (sobre a qual contamos aqui) foi lançada na semana passada pela antropóloga Beatriz Matos – mãe de Pedrinho e viúva do indigenista Bruno Pereira –, se espalhou pelo Brasil e, em apenas três dias, ultrapassou os R$ 2 milhões da meta: o crowdfunding no site da Vakinha chegou a 2.079.527,19.
Atenderam seu pedido 26.361 pessoas, que não só doaram como compartilharam e promoveram o crowdfunding em suas redes sociais. Rapidamente, uma grande corrente solidária se formou em torno de Pedrinho. Foi lindo!
O montante já está sendo utilizado para dar continuidade ao tratamento do menino de 5 anos diagnosticado, há cinco meses, com neuroblastoma estágio 4, câncer infantil agressivo.
Desde a descoberta, ele passa por sessões de quimioterapia e, em breve, será operado para transplante de medula óssea.
Mas, para que o câncer não se espalhe para outras partes do corpo e o tratamento tenha resultados efetivos, Pedrinho precisa tomar Betadinutuximabe, novo medicamento importado que custa muito caro – cada caixa sai por quase 90 mil reais – e ainda não é oferecido pelo SUS (está em processo de análise na Anvisa).
Graças ao retorno rápido da campanha de financiamento coletivo, desde ontem, 8/1, ele está tomando o remédio.
Emocionada com a mobilização por Pedrinho, Beatriz foi às redes sociais para agradecer o apoio: “Por meio do amor e da solidariedade, estou com o coração cheio de gratidão. Agora, esta fase do tratamento está garantida e a gente vai seguir com muita fé e muita esperança, graças a vocês! Muito obrigada, Brasil!” (publicamos seu vídeo em nosso Instagram; assista no final deste post).
E Beatriz foi além do agradecimento: convidou os brasileiros para continuarem “fortalecendo esta causa, que é de todos nós, de toda sociedade”, lembrando que “a medicação precisa ser oferecida pelo SUS”, pois “é um direito das nossas crianças”.
É importante pressionar o governo para que essa aprovação saia o mais rápido possível: ela depende da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), órgão responsável pela análise da efetividade da tecnologia, comparando-a aos tratamentos já incorporados na rede pública.
E Beatriz ainda fez um último pedido: “A gente atingiu a meta, mas ainda tem muitas outras crianças que têm a mesma doença do Pedro e que precisam de apoio. Então, s e você quer continuar ajudando o Pedro, ajude os amigos dele: doe para o Instituto AnaJu, ONG dedicada a assistir e amparar crianças com câncer, especialmente o neuroblastoma, proporcionando a elas e suas famílias importante suporte durante toda a jornada do tratamento”.
Todos os anos, cerca de 2.900 crianças e adolescentes (0 a 19 anos) morrem devido a algum tipo de câncer: o neuroblastoma é o terceiro mais agressivo, perdendo apenas para a leucemia e tumores cerebrais.
Por isso, é imprescindível que as doações para o Fundo para Neuroblastoma do Instituto Anaju sejam contínuas: via cartão de crédito ou débito de R$ 25 a R$ 150, neste link, ou pelo PIX (61) 98142-8755 (qualquer quantia).
Detalhe: todos os links do site da campanha ‘Salve Pedro’, que direcionavam os interessados para o crowdfunding no site da Vakinha, foram trocados e, agora, levam para o site do Instituto AnaJu.
Compaixão e empatia, sempre
O fato de Pedrinho ser filho do indigenista Bruno Pereira – assassinado em junho de 2022 com o amigo e jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari, na Amazônia – certamente ajudou no retorno rápido da campanha de doação. Infelizmente, a prática da filantropia não faz parte do dia a dia dos brasileiros e só campanhas desse tipo são efetivas.
O crime hediondo contra Bruno e Dom comoveu e indignou o país e o mundo e os nomes dos dois amigos foram citados todos os dias, até que seus corpos foram encontrados, dez dias depois.
Eles foram mortos por ribeirinhos que participam de organizações criminosas naquela região, durante o governo de Bolsonaro, que nada fez para que os dois fossem encontrados e chegou a culpá-los por seu trágico destino, que os tornou conhecidos.
Até então, Bruno era um indigenista e ativista conhecido e respeitado apenas por quem atuava na área ambiental e pela causa indígena e no jornalismo especializado. Ele dedicou sua vida à Amazônia. Denunciou o garimpo ilegal e a pesca predatória, combateu o desmatamento e a grilagem de terras, enfrentando invasores em áreas protegidas, onde vivem povos como os Marubo, além de indígenas isolados.
Infelizmente, o Brasil (e o mundo) tomou conhecimento da existência de um ser tão especial e dedicado aos indígenas como Bruno com seu brutal desaparecimento. “Lutou pelos povos indígenas, defendeu a floresta, o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos”, o que lhe custou a vida e inundou de tristeza e dor as vidas de Beatriz, de Pedrinho e de seu irmão mais novo.
Por isso, a notícia da doença de Pedrinho atingiu tantos corações em cheio. Só não foi tocado pela notícia e pelas mensagens de compaixão e amor compartilhadas por amigos e desconhecidos da família quem tem coração de pedra. Mas o que importava, naquele momento, não era se deixar levar pela indignação, mas perceber que “Agora, a batalha do Pedro é pela vida” e muita gente pode ajudar.
E, passada a campanha por Pedro, agora, é imprescindível manter a corrente de solidariedade e amor que se formou para salvá-lo, ampliando-a para crianças de todo o Brasil.
O site da campanha se manterá no ar para apoiar este novo e necessário movimento e nos lembrar de que a caridade verdadeira não é seletiva, nem identifica rostos. É incondicional.
O instituto
Ana Júlia Inácio Faria nasceu em 17 de maio de 2013 e, aos sete anos, foi diagnosticada com câncer raro e agressivo que a levou no ano passado, em 28/8, após dez anos de luta.
Devido à sua experiência e trajetória com a doença, sua mãe Lara criou o Instituto AnaJu em sua homenagem e com a intenção de oferecer ajuda a crianças e familiares que, em geral, “são negligenciados e vivem incertezas dessa doença tão traiçoeira todos os dias”.
“Dona do sorriso mais encantador e inocente, Ana Júlia nos deu o prazer de sua presença durante dez lindos anos”, conta o Instituto AnaJu em seu site. Ela transformou dor em alegria, suportou o insuportável e acreditou, até o último dia, que o milagre seria realizado… e foi”, diz o texto que apresenta o instituto, no site.
“Sua vida foi um milagre do inicio ao fim, e de tão grande que era, cativou milhares de pessoas que se juntaram em orações e ajudas de todos os tipos para salvá-la. Mas o desejo de Deus foi diferente do nosso, e nossa estrelinha voltou para casa, deixando muita saudade e também muita união e uma vontade imensa de ajudar outras crianças acometidas por câncer e doenças raras”, completa o texto.
O apoio do instituto envolve questões sobre tratamento médico e também suporte jurídico, com equipe de advogados especializados liderada pelo Dr. Allan Lincoln, referência em processos milionários contra o Governo e planos de saúde.
“Sabendo da dificuldade da maioria das famílias, que lutam na justiça para conseguir medicações para a sobrevivência de suas crianças, e que não têm apoio do governo para pagar os custos, visto que, muitas vezes, precisam largar seus empregos para acompanhar seus filhos, disponibilizamos apoio jurídico, de acordo com a renda da família”, explica o site, que ainda destaca:
“Sua vida foi um milagre do inicio ao fim, e de tão grande que era, cativou milhares de pessoas que se juntaram em orações e ajudas de todos os tipos para salvá-la. Mas o desejo de Deus foi diferente do nosso, e nossa estrelinha voltou para casa, deixando muita saudade e também muita união e uma vontade imensa de ajudar outras crianças acometidas por câncer e doenças raras”.
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A seguir, assista ao agradecimento de Beatriz Matos aos doadores e seu convite para que todos continuem doando para crianças que sofrem com câncer como Pedrinho por meio do Instituto Anaju. Em seguida, assista ao vídeo em que Beatriz explica como a doença do pequeno foi identificada, ilustrado com imagens de Pedrinho com o pai, Bruno.
Ilustração: Isa Matos