Em muitos países – Brasil inclusive – os eletrodomésticos da linha branca acabam sua vida útil jogados em terrenos baldios, nas ruas ou no leito de córregos e rios, poluindo e atrapalhando o fluxo das águas. Às vezes, também vão parar em algum ferro-velho, onde eventualmente há reaproveitamento de algumas peças. Mesmo assim, o índice de reuso é muito baixo.
Geladeiras, fogões e lavadoras de roupas estão entre os resíduos mais comuns e volumosos, mas lavadoras de louças e secadoras também são parte do problema, assim como os eletrodomésticos de menor porte: liquidificadores, processadores de alimentos, torradeiras, batedeiras etc.
Se os eletrodomésticos vão parar em aterros sanitários, a contaminação ambiental é menor, porém ainda causam problemas, ocupando muito espaço e configurando grande desperdício de materiais com potencial para reciclagem. Em alguns casos, até 95% dos materiais são recicláveis e apenas 5% deveriam, de fato, ir para o lixo. Aço, cobre, espumas e até ouro estão entre os recicláveis mais valiosos. E podem dar origem a novos produtos, dependendo da eficiência obtida na coleta (logística reversa) e na linha de desmontagem.
Na Holanda, o descarte anual de eletrodomésticos é estimado em 400 milhões de quilos ou 400 mil toneladas. Ao incentivar a recuperação dos materiais recicláveis, o país estabeleceu uma meta para 2021, esperando coletar e reciclar pelo menos 85% desse total ou 340 mil toneladas.
Algumas recicladoras já se comprometeram com tal meta, criando linhas de desmontagem semi automatizadas e fechando contratos comerciais com empresas que reaproveitam os metais para a fabricação de novos eletrodomésticos. É o caso da CoolRec, uma subsidiária da empresa Van Gansewinkel, localizada em Dordrecht, 90 km ao sul de Amsterdam.
As linhas de desmontagem de equipamentos da linha branca foram especialmente desenhadas para aproveitamento máximo dos materiais recicláveis. No caso das geladeiras, há equipamentos especiais para retirada dos gases de refrigeração, cujo vazamento causaria dano à camada de ozônio.
A CoolRec já mantém uma parceria com a Miele, uma fábrica de lavadoras e secadoras de roupas, encarregada de completar o ciclo da Economia Circular, utilizando os materiais recuperados (de geladeiras, por exemplo) para produzir novos eletrodomésticos (como lavadoras). E o pouco que não é recuperável é incinerado, de modo a não ocupar espaço nos aterros sanitários.
Fogões e geladeiras aguardam a desmontagem
Os metais das portas são retirados primeiro
Aço e cobre são os metais mais valorizados para reciclagem
Depois de separados, os metais são transformados em pellets
Os 5% não recicláveis são incinerados
Abaixo, confira a reportagem em vídeo produzida por Liana John para o Conexão Planeta sobre o tema:
Fotos: Liana John
Economia Criativa
Esta reportagem faz parte do Especial que apresenta uma série de 10 reportagens sobre reciclagem de resíduos na Holanda que realizei a convite do Ministério das Relações Exteriores daquele país. Lá, visitei empresas recicladoras holandesas que podem nos servir de exemplo e inspiração para o desenvolvimento de uma Economia Circular brasileira.
Saiba mais no primeiro post que escrevi – É hora de apostar na Economia Circular – e acompanhe os temas que fazem parte deste especial:
1. Reaproveitamento de couro de sofás
2. Novas funções para velhas estruturas de aço
3. Colchões de espuma para isolamento térmico
4. A difícil arte de separar fibras têxteis
5. Os 3Rs no universo das filmagens
6. Lixeiras com eficiência máxima
7. Carga pesada no desmonte de navios
8. Reciclagem de eletrodomésticos (este post)
9. Do papel ao papel
10. Almere, uma cidade com meta Zero Resíduo